Sentinela

Sentinela funciona muito bem como um romance distópico. Tem os ingredientes necessários e foram bem utilizados: situação caótica não explicada, exercício de poder e opressão entre grupos, uma operação opressora de Estado. O cenário para onde são levadas as mulheres é claustrofóbico como uma prisão e, não à toa, o comportamento das encarceradas começa a se assemelhar aos de mulheres apenadas. Há também uma ambientação indefinida, como faz também Ana Paula Maia em seus romances, de modo que quem lê fica entre ver um canto qualquer do Brasil na paisagem ou enxergar qualquer outro lugar angustiante, como no mundo todo. A experimentação formal, com a alternância entre a narrativa principal, com uma atmosfera kafkiana angustiante e fragmentos de memória, sonho ou alucinações e ainda os trechos em versos, é muito rica.Vencedor do Prêmio Malê de Literatura, o romance de Juliane Vicente traz novo vigor, perspectivas e jovialidade para o repertório de romances da literatura brasileira negra de autoria feminina que tem em seus expoentes nomes como Conceição Evarsito, Eliana Alves Cruz, Miriam Alves, Ana Maria Gonçalves e Maria Firmina dos Reis. Uma trama instigante que merece a atenção do leitor.