lfo reviewed Inadequado para o futuro by I. Persson
Vale a pena ler, mesmo que pra discordar
4 stars
Li esse livro em 2018, quando ainda não imaginávamos que uma pandemia dessas proporções aconteceria tão cedo, embora já soubéssemos que era só questão de tempo. De certa forma, esse é o tema do livro: embora estejamos conscientes dos vários problemas desastrosos que aguardam a humanidade nos próximos anos (guerras, desastres climáticos, outras pandemias, ataques terroristas), não conseguimos, enquanto humanidade, fazer nada para evitá-los. O livro se questiona porque isso acontece e propõe uma solução curiosa: o uso de remédios para biomelhoramento moral (algo talvez parecido com aquela pílula de Bacurau?).
A princípio me pareceu um livro muito cientístico e liberaloide. Cientístico porque todo o diagnóstico do problema é voltado para questões evolutivas, genéticas e psicológicas: o ser humano seria inadequado para o futuro basicamente porque a espécie teve uma trajetória evolutiva que favorecia a vida em pequenas comunidades, a pensarmos sempre a curto prazo, a ter empatia apenas com …
Li esse livro em 2018, quando ainda não imaginávamos que uma pandemia dessas proporções aconteceria tão cedo, embora já soubéssemos que era só questão de tempo. De certa forma, esse é o tema do livro: embora estejamos conscientes dos vários problemas desastrosos que aguardam a humanidade nos próximos anos (guerras, desastres climáticos, outras pandemias, ataques terroristas), não conseguimos, enquanto humanidade, fazer nada para evitá-los. O livro se questiona porque isso acontece e propõe uma solução curiosa: o uso de remédios para biomelhoramento moral (algo talvez parecido com aquela pílula de Bacurau?).
A princípio me pareceu um livro muito cientístico e liberaloide. Cientístico porque todo o diagnóstico do problema é voltado para questões evolutivas, genéticas e psicológicas: o ser humano seria inadequado para o futuro basicamente porque a espécie teve uma trajetória evolutiva que favorecia a vida em pequenas comunidades, a pensarmos sempre a curto prazo, a ter empatia apenas com as pessoas mais próximas. E tudo isso é desfavorável para uma sociedade globalizada, que avançou mais rápido do que nossa capacidade evolutiva para nos adaptarmos a esse novo contexto. Liberaloide porque a principal proposta apresentada é (bio)tecnológica e propostas sociais mais imediatas são deixadas de lado.
Apesar disso, com o passar do tempo, esse livro foi crescendo na minha memória, menos pela proposta de biomelhoramento do que pelas questões que margeiam o tema principal. Um dos capítulos trata do autoristarismo, por exemplo, defendendo que um governo mais rigoroso tem melhores condições de salvar a população quando ela precisa se organizar diante de uma catástrofe, o que veio a se mostrar muito real com a pandemia. O capítulo que trata das nossas propensões morais e psicológicas evolutivamente adquiridas também é muito interessante (apesar da falta de um contraponto mais propriamente social) e é uma boa introdução aos principais textos que tratam sobre o assunto. E, claro, há a discussão sobre bioética, sobre a legitimidade ou não de usarmos substâncias que nos afetem cognitivamente, dos limites e perigos desse uso, abrindo questões que ainda vão precisar de muito aprofundamento enquanto a biotecnologia se desenvolve.