Miguel Medeiros quoted Brasil by Lilia Moritz Schwarcz
Nesse momento, também a Espanha passava por um processo de expansão colonial. O reino espanhol, que se unificara como Estado Nacional em 1492, lançara-se ao mar na busca de uma nova rota para o Oriente através do Ocidente. E para evitar outras guerras, numa Europa já habituada às batalhas envolvendo nações em litígio, logo em 7 de junho de 1494 era assinado um acordo — o Tratado de Tordesilhas — que objetivava dividir as terras “descobertas e por descobrir” fora do Estado por ambas as Coroas. O acordo representava o resultado imediato da contestação portuguesa às pretensões da Coroa espanhola, que um ano e meio antes chegara ao que se acreditava serem as Índias mas que se tratava de um Novo Mundo, reclamando-o oficialmente a Isabel, a Católica. Nem se sabia onde esse mundo ia dar, mas ele já tinha dono e certificado de origem.
O Tratado de Tordesilhas teve um antecedente: a bula Inter Caetera, assinada pelo papa Alexandre VI em 4 de maio de 1493, que dividiu as novas terras do globo entre Portugal e Espanha. Na prática, as terras situadas até cem léguas a oeste, a partir das ilhas de Cabo Verde, seriam de Portugal, e as que ficassem além dessa linha, da Espanha. Por receio de perder possíveis conquistas, uma revisão foi proposta por Portugal, que conseguiu mudar os termos da bula. O Tratado de Tordesilhas, assinado pelas duas Coroas, definiu como linha de demarcação o meridiano que ficava 370 léguas a oeste de uma ilha não especificada do arquipélago de Cabo Verde, então pertencente aos portugueses. Dessa forma, a linha imaginária encontrava-se a meio caminho entre o arquipélago e as ilhas das Caraíbas, descobertas por Colombo. Legislava o tratado, ainda, que os territórios a leste desse meridiano pertenceriam a Portugal e os a oeste à Espanha. O tratado seria ratificado pela Espanha em 2 de junho e por Portugal em 5 de setembro de 1494, como se o mundo — real ou tantas vezes imaginado — pudesse ser dividido em dois, em duas metades, e sem maiores contestações.
— Brasil by Lilia Moritz Schwarcz, Heloisa Murgel Starling (Page 24)