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Lilia Moritz Schwarcz, Heloisa Murgel Starling: Brasil (Companhia das Letras) No rating

Aliando texto acessível e agradável, vasta documentação original e rica iconografia, Lilia Moritz Schwarcz e …

A essas alturas, o tráfico negreiro constituía um negócio dos mais lucrativos, e alguns senhores tinham mais interesse em “repor” um escravo morto que em ajudar na longa e dispendiosa criação de sua “propriedade”. Por sinal, a imagem difundida de que a escravidão brasileira teria sido mais amena que a norte-americana, uma vez que por lá teriam existido engenhos especializados na “criação de escravos”, é mais teórica do que real. Os motivos que explicam tal conduta nada têm de humanitários, e são o mais das vezes de ordem pragmática e comercial. Era custoso manter um escravo criança até que atingisse a idade produtiva. Portanto, melhor comprar um “novo” nos mercados abertos das cidades, os quais expunham os africanos como peças, coisas e bens. Os preços também variavam conforme “o uso”: mulheres e crianças eram menos bem avaliadas que homens e adultos. Antes dos oito anos eram crianças, depois dos 35, velhos, pouco aproveitáveis no trabalho pesado da cana. O “envelhecimento” ocorria cedo, assim como o fim da adolescência: a partir de oito anos e até os doze um escravo já era classificado como adulto. Há registros de cativos considerados “rapazes”, aliás “homens já feitos”, aos oito anos. O trabalho excessivo envelhecia e amadurecia, trapaceava com o tempo. Como veremos com mais detalhes, a civilização do açúcar originou um local de extremos: o doce da cana se fez às custas do travo da escravidão. Um mundo verdadeiramente novo, no sentido de diferente, ia sendo criado. Amargo açúcar; ardida doçura.

Brasil by , (Page 77 - 78)