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Lilia Moritz Schwarcz, Heloisa Murgel Starling: Brasil (Companhia das Letras) No rating

Aliando texto acessível e agradável, vasta documentação original e rica iconografia, Lilia Moritz Schwarcz e …

O registro dos primeiros achados do ouro no sertão das Minas começou a ser negociado entre a Coroa e seus descobridores paulistas ainda na metade inicial da década de 1690. Autorizado diretamente pelo rei de Portugal, Pedro II, o acordo garantia ao descobridor honras, mercês e a posse do achado. Além disso, a autoridade régia assegurava aos sertanistas de São Paulo o que, para eles, era mais importante: o privilégio de “administrar” os indígenas aprisionados no sertão e levados como força de trabalho escrava para o planalto de Piratininga. Só então o ouro apareceu.

As descobertas nas Minas ocorreram nessa mesma década, quase simultaneamente, em diferentes lugares mas sempre ao longo da linha que se estende entre as atuais cidades de Ouro Preto e Diamantina, entre a bacia do rio Doce e a do São Francisco. Aí — no centro do atual estado de Minas Gerais — o ouro estava esparramado em quantidade espantosa no leito dos rios e riachos que corriam no fundo dos vales ou nos pequenos planaltos elevados — as chapadas — que se alastravam pelas encostas vertiginosas do maciço do Espinhaço. Era um ouro miúdo que surgia na forma de pedrinhas faiscantes, grãos ou pó, de coloração amarelada, cinza-amarelada, preta, esbranquiçada, ou com aspecto opaco e muito sujo — este último era chamado de “ouro podre”. A cor preta resultava da mistura com o elemento químico paládio e indicava alta concentração de metal precioso; já a branca provinha da mistura do ouro com níquel e esse ouro tinha bem menos valor. Entretanto, qualquer que fosse o tipo ou a cor, era ouro farto: por todo lado havia punhados que durante milhões de anos se soltaram das fendas rochosas daquele maciço, a antiquíssima formação geológica de Minas Gerais. O ouro das Minas, de aluvião, estava à flor da terra e se distinguia de todo das peças maciças que os espanhóis extraíram das jazidas subterrâneas de ouro de beta, escavadas extensamente no México e no Alto Peru.

Como se descobriu depressa, as Minas eram Gerais. Em qualquer direção, e qualquer que fosse o rumo que se tomasse, podia-se achar ouro — o topônimo Minas Gerais, aplicado à capitania a partir do início da década de 1720, servia para indicar uma longa, contínua e contígua sequência de minas. As lavras mais relevantes foram encontradas na zona que ficaria conhecida como “distrito do ouro”, e as descobertas a princípio se concentraram nas margens da nascente do rio das Velhas, atualmente a área da Cachoeira das Andorinhas, próxima ao município de Ouro Preto. O povoamento acelerado nessa região redundaria na criação das primeiras três vilas das Minas, todas no ano de 1711: em janeiro, o arraial de Nossa Senhora do Carmo foi alçado à condição de vila; em junho, os núcleos mineradores de Ouro Preto, Antônio Dias, Padre Faria e Tripuí reuniram-se para dar origem a Vila Rica; e, ainda em julho, no arraial do Sabarabuçu foi oficializada a fundação da vila de Nossa Senhora da Conceição do Sabará — hoje, as cidades de Mariana, Ouro Preto e Sabará.

Brasil by , (Page 110 - 111)