UdeRecife reviewed As intermitências da morte by José Saramago
Review of 'As intermitências da morte' on 'Goodreads'
3 stars
É Saramago. Mas, ainda assim, algo lhe falta. Como se não estivesse todo, algo lhe tivesse escapado. O estilo, seu, é inconfundível. Mas, ainda assim, há algo que não está. É como se o ânimo o tivesse abandonado e as mortes, os anúncios e seus prenúncios, fossem já os da sua morte anunciada.
O livro, numa reflexão grosseira, divide-se em 3 momentos, como 3 ensaios à volta do mesmo tema. E esse é talvez o problema, aquilo que o torna estranho, porque os 3 ensaios, embora interessantes, só forçosamente se ligam uns aos outros, embora haja entre eles a coerência forçada de se transvestir sempre da mesma história.
O primeiro é da morte que desapareceu. Este é o Saramago que se espera quando se abre um dos seus livros, o do episódio fantástico que como barata kafkiana não nos é sequer permitido contestar e sobre o qual tudo o resto …
É Saramago. Mas, ainda assim, algo lhe falta. Como se não estivesse todo, algo lhe tivesse escapado. O estilo, seu, é inconfundível. Mas, ainda assim, há algo que não está. É como se o ânimo o tivesse abandonado e as mortes, os anúncios e seus prenúncios, fossem já os da sua morte anunciada.
O livro, numa reflexão grosseira, divide-se em 3 momentos, como 3 ensaios à volta do mesmo tema. E esse é talvez o problema, aquilo que o torna estranho, porque os 3 ensaios, embora interessantes, só forçosamente se ligam uns aos outros, embora haja entre eles a coerência forçada de se transvestir sempre da mesma história.
O primeiro é da morte que desapareceu. Este é o Saramago que se espera quando se abre um dos seus livros, o do episódio fantástico que como barata kafkiana não nos é sequer permitido contestar e sobre o qual tudo o resto fica em dívida. A ideia, interessante, a lembrar outras cegueiras e as lucidezes que sempre faltam.
Mudança de premissa. A morte agora anuncia-se. Outro cenário, outras consequências. O segundo ensaio parece querer explorar as dimensões do problema da morte como facto consumado, com pré-aviso em carta. Não convence, mas só porque dele se espera uma coerência com o que antes parecia prometido.
Por fim, a morte mulher. Um violoncelista, um cão, e uma vida toda sem graça. Uma carta que nunca chega e uma morte que não acontece. O final que se aceita para um livro que parece haver perdido rumo; ou, dando larga a justificações poéticas, aquelas que se toleram em autor de renome (cujo nome basta para que se exija do leitor a responsabilidade de inventar significações que ao texto faltam), o final que justifica as intermitências da morte numa morte que se particulariza em quase ganhar personalidade.
Vale a pena? Se fosse o único Saramago, diria que sim. Havendo outros, e tão melhores, deixaria este para o fim, para quando houvesse tempo e a preocupação não fosse já a de conhecer a obra.