Morphotropic

Uma ficção científica bem ficção e bem científica que se passa em um universo onde as células dos organismos têm certa autonomia, não no sentido de terem consciência, mas no sentido de terem a capacidade de migrar entre organismos e se reprogramarem, e essas qualidades dão base à toda a narrativa. O mundo da história é narrado como sendo bastante semelhante ao nosso, denotando os seres como humanos e outros bichos familiares, mas a biologia da coisa não faz distinção de gêneros e assim todos as personagens são femininas. A autonomia das células faz com que a identidade dos organismos seja fluida, e existem "swappers", uma comunidade underground que troca células entre si, "scaravengers" que roubam ou extorquem células de outras pessoas, e "flourishers" que têm a sorte de atrair boas células e vivem por muitos anos. A história tem duas vertentes que se encontram pelo meio do livro: a de uma swapper que acaba tendo sua consciência duplicada para dentro do corpo de outra swapper, e a de uma flourisher que descobre um projeto de pesquisa clandestino das scaravengers para viverem para sempre e resolve enfrentá-las com sua própria fundação de pesquisa. O Greg Egan é físico-matemático, e como todas as suas histórias, o universo é bem convincente, mas também bastante complicado e surreal. Alguns capítulos me deixaram nervosa com a situação desoladora das personagens, outros eram bem previsíveis e sem graça. Mas valeu a leitura.