Um Homem Chamado Ove se passa numa pequena vizinhança localizada na Suécia, no período contemporâneo. Ove tem cinquenta e nove anos, crenças arraigadas do que é certo e o que é errado, e hábitos que foram consistentemente estabelecidos por décadas. O livro, narrado em terceira pessoa, intercala situações presentes e passadas, revelando aos poucos ao leitor as motivações do personagem principal, baseadas em sua difícil história de vida. Toda aquela rigidez e meticulosidade começam a fazer sentido ao empatizarmos com esse homem cativante e por muitas vezes mal compreendido.

Ainda durante a adolescência, Ove já tinha perdido ambos os pais. Esse personagem, que valoriza a honestidade, justiça moral e trabalho duro, passa por várias outras situações desafiadoras ao longo do seu desenvolvimento. Em seu contexto de vida atual, o desamparo aprendido mediante à sensação de impotência ao ter lidado com sistemas burocráticos por muito tempo e a dificuldade de encontrar um sentido para sua vida após o falecimento do que julgava ser a única pessoa que o compreendia fazem de Ove um personagem impossível de não se apegar. Em consequência dessa vida de sofrimento, desde o início da narrativa presenciamos Ove tentando cometer suicídio de maneiras diversas, o que pode ser um gatilho para alguns leitores. Entretanto, as cenas são apresentadas de uma perspectiva um tanto cômica, já que Ove frequentemente é interrompido por vizinhos trazendo pedidos de ajuda inusitados. Apesar dos temas sensíveis, o livro é narrado de maneira leve e instigante, o que torna impossível abandonar a leitura.

Ao longo da narrativa o personagem se desenvolve de uma maneira muito prazerosa de acompanhar. A partir do relacionamento que passa a construir com os vizinhos, ele revela suas características mais amáveis que estavam escondidas debaixo da carapaça de rabugice. Um Homem Chamado Ove é sobre relacionamentos humanos - familiares, românticos, entre desconhecidos, entre vizinhos, entre rivais. A estória mostra situações que poderiam acontecer no cotidiano de qualquer um. Retrata, sobretudo, o amor - não apenas romântico - que tem o poder de transformar as pessoas em sua melhor versão. Essa leitura, capaz de proporcionar uma ampla riqueza de emoções, traz o lembrete de que não conhecemos as pessoas profundamente, e de que julgá-las sem saber sobre suas histórias de vida e motivações é injusto e irracional.

Esse livro entrou para a minha lista de favoritos. Hilário, delicioso de ler, impossível de largar e repleto de convites à reflexão sobre o tempo, relacionamentos, sentido da vida, e morte. Recomendo, e adoraria lê-lo novamente no futuro.