Review of 'Ėneida' on 'Goodreads'
5 stars
Há quem diga que uma vida só se pode dizer bem vivida se nela se tiver um filho, se plantar uma árvore e se escrever um livro. Eu que me sei fraco contribuidor para as estatísticas demográficas, mau agricultor e desinspirado escritor, abraço o papel que me sobra e dedico o que me resta de tempo de vida a navegar pelas grandes obras que constituem o importantíssimo cânone da nossa cultura ocidental. Se, prestes a expirar minha passagem por esta terra, me perguntarem se filhos tive, árvores plantei e livros escrevi, negativa a resposta em todos esses quesitos, poderei, no mínimo, suspirar contente: “bem, pelo menos li a Eneida!”.
Superficial que seja, em sinceridade não posso esconder que uma das minhas motivações principais ao ler esta obra foi o de buscar essa muito enriquecedora sensação de haver cumprido uma importante missão de vida, essa de haver visitado um dos grandes monumentos da longeva cultura ocidental. Ao lê-la, soube-me mais em sintonia com esse universo literário greco-latino que tem na Eneida uma importante síntese matricial de toda uma tradição poética que nela tem a sua apoteose.
Ao finalmente conhecê-la, creio-me agora mais competente para que, daqui para a frente, melhor compreenda referências feitas a esta obra, bem como as que remetem às suas influências e até às obras que a ela são devedoras. Mas mais importante que tudo, sei-me agora mais capaz de estabelecer pontes de sentido através da vasta rede que constitui o todo do discurso cultural ocidental, aumentando assim o leque de ferramentas que à minha disposição tenho para comunicar mundo fora com os que neste mesmo repositório encontram uma inesgotável fonte de inspiração e significados.
Agora que cumprida sei esta minha missão; agora que me sei mais competente e capaz ao conhecer este monumento, pouco mais me resta a aqui acrescentar. Não sou, nem pretendo ser, perito nesta obra e nas suas muitas complexidades. Não vou, por isso, colocar-me em bicos de pé ao arriscar interpretações que apenas arrogantemente poderia pretender originais e interessantes. O que posso fazer, e aí sim, com fundamento, é oferecer este meu testemunho do quão interessante pode ser a experiência de ler a Eneida para a construção de um caráter mais erudito que de nós faça mais competentes quer em entender as referências culturais quer em expressar-nos por imagens e menções a esse todo histórico-cultural que se diz ocidental. Neste sentido, a leitura da Eneida não é apenas interessante por si só, pelo monumento literário que ao longo dos séculos provou ser, mas, e principalmente, pelos muitos benefícios que nos oferece em erudição e brio histórico.
Sendo que somos pelo tempo limitados; sendo demasiado vasta a biblioteca que podemos visitar e conhecer; a leitura da Eneida recompensará abundantemente o esforço que a ela devotarmos. Mais do que uma recomendação, este meu texto é uma exortação à leitura desta obra. Perpetuemos, juntos, este tão importante legado.