sol2070 reviewed O Grande Desatino by Amitav Ghosh
Ainda relevante
3 stars
sol2070.in/2024/12/livro-o-grande-desatino/
O premiado escritor indiano Amitav Ghosh analisa o lado cultural da emergência climática em "O Grande Desatino" ("The Great Derangement", 2016). O título se refere à incoerência de a catástrofe estar pouco representada na cultura, principalmente na literatura, nos anos antes da publicação do livro. Talvez, no futuro, lembremos desse período como “O Grande Desatino”, em que as pessoas fingiam não ver o mundo desmoronando em volta.
Esse aspecto talvez tenha envelhecido mal — quando o assunto é emergência climática, em poucos anos uma análise pode tornar-se obsoleta. Oito anos depois, o assunto está um pouco mais presente, inclusive na literatura. Apesar de isso estar fazendo pouca diferença nas políticas públicas e na destruição das grandes corporações, ainda é essencial que as histórias que contamos sobre o mundo, que moldam a maneira como enxergamos, não negligenciem o atual processo de colapso que adentramos.
Um tema menos presente no livro …
sol2070.in/2024/12/livro-o-grande-desatino/
O premiado escritor indiano Amitav Ghosh analisa o lado cultural da emergência climática em "O Grande Desatino" ("The Great Derangement", 2016). O título se refere à incoerência de a catástrofe estar pouco representada na cultura, principalmente na literatura, nos anos antes da publicação do livro. Talvez, no futuro, lembremos desse período como “O Grande Desatino”, em que as pessoas fingiam não ver o mundo desmoronando em volta.
Esse aspecto talvez tenha envelhecido mal — quando o assunto é emergência climática, em poucos anos uma análise pode tornar-se obsoleta. Oito anos depois, o assunto está um pouco mais presente, inclusive na literatura. Apesar de isso estar fazendo pouca diferença nas políticas públicas e na destruição das grandes corporações, ainda é essencial que as histórias que contamos sobre o mundo, que moldam a maneira como enxergamos, não negligenciem o atual processo de colapso que adentramos.
Um tema menos presente no livro que se tornou muito relevante agora é que passamos a falar mais sobre emergência climática, mas a narrativa predominante é a de um reformismo inócuo. Daquelas sobre carros elétricos, créditos de carbono, como lucrar com a preservação ou promessas de políticos, que não alteram a estrutura de destruição, apenas enganam e, no máximo, quando tudo dá certo, apenas adiam um pouco o cataclismo.
Mas o livro não é só sobre o silêncio ou narrativas que maquiam a falência estrutural. Vale muito pela reflexão sobre os impactos culturais, sobre como esses desastres cada vez mais frequentes marcam e traumatizam a vida das pessoas e povos, como a do próprio autor.
Um bom ponto que Ghosh enfatiza é que a causa não é o capitalismo em si mas, sim, a lógica extrativista que o colonialismo e imperialismo moldaram (também presente em regimes socialistas). Boa parte do livro analisa esse colonialismo.
Recomendo o livro por isso e pela análise sobre como algo tão central como a atual catástrofe climática não pode ser ignorado por quem cria histórias, arte e cultura. Já sobre o desastre em si, de lá para cá, a coisa piorou muito e há obras mais atualizadas sobre os efeitos da emergência, que não se restringem ao clima, sendo mais uma policrise.