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sol2070

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Brasil. #scifi #philosophy #nature #politics #tech #fantasy

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sol2070's books

Stopped Reading

Fiódor Dostoiévski: Crime e Castigo (Paperback, 1866, Todavia)

Clássico de Dostoiévski e romance fundamental da literatura ocidental, CRIME E CASTIGO ressurge em toda …

Envolvente e relevantre

Um dos prazeres de envelhecer é reler grandes obras apreciadas décadas antes. Como Crime e Castigo (Преступленіе и наказаніе, 1866, 608 pgs), de Dostoiévski.

Quem nunca leu pode imaginar que esse romance russo de 160 anos seja impenetrável ou irrelevante. Pelo contrário, é envolvente como uma novela da TV (não é que Dostoiévski seja novelesco, as novelas é que são dostoievskianas). Crime e Castigo foi publicado originalmente como um folhetim serializado numa revista, e as obras do autor tinham um público amplo quase como o da TV. Li a primeira vez praticamente adolescente e, mesmo na época, já tinha me cativado.

Lembro que Nelson Rodrigues, outro autor deliciosamente folhetinesco, costumava exagerar que não é preciso ler muitas autoras para escrever boas estórias, basta Dostoiévski, estando tudo ali. Mas a escritora que mais me levou a reler o russo agora foi Ursula K. Le Guin, cuja preocupação com a …

Vincent Bevins: A Década da Revolução Perdida (português language, Boitempo)

Da chamada Primavera Árabe ao Gezi Park, na Turquia, passando pelo Euromaidan, na Ucrânia, às …

Prodigiosa grande reportagem

A Década da Revolução Perdida (If We Burn, 2023, 344 pgs), de Vincent Bevins, narra, contextualiza e analisa a onda de protestos mundiais entre 2010 e 2020, com destaque para o Brasil em 2013.

O título faz referência ao fato de que a maioria desses levantes terminou mal, não levando a mudanças duradouras, ou até piorando o que já era ruim.

Vincent foi correspondente do jornal Los Angeles Times no Brasil, entre 2011 e 2016, além de ter coberto alguns desses protestos em massa pelo mundo. Para o livro-reportagem, também foram entrevistadas diversas das pessoas que ajudaram a organizar os movimentos e especialistas. Mas a experiência pessoal do jornalista ainda é o elemento cativante.

Dez levantes são analisados mais detalhadamente: na Tunísia, Egito, Bahrein, Iêmen (a chamada Primavera Árabe), Turquia, Brasil, Ucrânia, Hong Kong, Coréia do Sul e Chile. Características comuns desses movimentos massivos foram a horizontalidade (ausência …

Thomas Pynchon (duplicate): O Último Grito (português language, Companhia das Letras)

As ameaças e contradições do século digital em um romance surpreendente.

Meses antes do ataque …

Banquete

( sol2070.in/2025/07/livro-o-ultimo-grito-pynchon/ )

O Último Grito (Bleeding Edge, 2013, 584 pgs) é o mais recente romance publicado de um autor predileto: o recluso Thomas Pynchon.

Uma das mais consagradas vozes literárias dos EUA, Pynchon é o grande romancista da paranoia. Suas estórias mergulham quem lê naquela condição visionária ou doentia onde tudo parece outra nítida peça de uma espantosa e, no fim, impenetrável conspiração. Em meio a humor no limite do pastelão, drogas, sentimentos antissistema e/ou anárquicos, e referências culturais que cobrem indiscriminadamente todo o espectro — desde cenas de filmes antigos, animes, canções country, heavy metal, filosofia, passando por videogames e programas do Windows, até óperas clássicas.

A estória é sobre alguns meses antes e depois do atentado terrorista às torres gêmeas em Nova York, em 2001, na vida de Maxine, uma investigadora de fraudes financeiras especializada em startups digitais, que viviam o pós-estouro da bolha da …

Cecília Olliveira: Como nasce um miliciano (Paperback, português language, Bazar do Tempo)

Em um Rio de Janeiro dividido por territórios invisíveis, Cecília Olliveira, um dos principais nomes …

Curto, mas muito relevante

( sol2070.in/2025/07/livro-como-nasce-um-miliciano/ )

No livro-reportagem Como Nasce um Miliciano (2025, 216 pgs), Cecília Oliveira retrata o submundo das milícias cariocas, a partir de uma chacina em 2020, em que um ex-PM, famoso líder miliciano, foi executado.

A reportagem documenta, por exemplo, como a ideia de que milícias detêm um poder paralelo não é exata, já que a participação e cumplicidade de servidores públicos como policiais predomina, além da aliança com políticos, entre outros. Na verdade, cidades e bairros dominadas por essas gangues refletem o próprio Estado.

Narra também como os antigos “esquadrões da morte” foram se adaptando, explorando novas parceiras e setores até o formato atual.

Cheguei no livro por esse episódio do podcast Ilustríssima Conversa, estando mais interessado nas histórias de vidas desses criminosos. Nisso, decepcionou um pouco. A investigação entra pouco em detalhes do tipo. Com a exceção do capítulo final, que comenta a admiração e respeito …

Kurt Vonnegut: As Sereias de Tita (Paperback, 2018, ALEPH)

Quando Malachi Constant, um irreparável milionário fanfarrão, recebe a profecia de que viajará pelo espaço …

Sátira sci-fi malucona

( sol2070.in/2025/07/livro-as-sereias-de-tita/ )

As Sereias de Titã (1959, 304 pgs) é uma saborosa sátira de ficção científica do consagrado autor estadunidense, um dos poucos exemplos cuja literatura furou a bolha sci-fi em sucesso geral de público e crítica.

Um hedonista milionário encontra uma pessoa que sofreu um acidente extradimensional, e sua vida termina revirada em uma conspiração multiplanetária.

Comédia de ficção científica não é minha praia, mas Vonnegut é uma memorável exceção, com seu humor ácido que não perdoa a sociedade e cultura norte-americanas. Apesar de ter sido escrito nos anos 50, as tiradas continuam atuais, já que a época também era de tecno-otimismo ultraconsumista e governantes cínicos.

Em termos de sub-gênero FC, chega a ser proto-new-wave, antecipando as doideiras e o inconformismo da sci-fi dos anos 60 e 70, chamada de “New Wave”.

Há aquele sabor pulp, de ficção barata, dessas estórias mais antigas, mas a alma subversiva e …

João Guimarães Rosa: Grande Sertão: Veredas (Paperback, português language, Companhia das Letras)

Publicado originalmente em 1956, Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, revolucionou o cânone brasileiro …

Levei 30 anos pra ler

( sol2070.in/2025/07/grande-sertao-veredas/ )

Essa é a edição de Grande Sertão: Veredas (1956, 560 pgs), de Guimarães Rosa, que guardo há 30 anos — meu recorde de tempo de um livro esperando na fila de leitura.

Comprei adolescente, seduzido por essa edição comemorativa da Nova Fronteira, mas nunca consegui ler. Provavelmente foi melhor assim, já que se tivesse lido muito jovem não teria apreciado como agora.

A barreira inicial costuma ser a linguagem, uma recriação poética e hiperbólica — repleta de corruptelas, nomes quiméricos, palavras inventadas, populares ou até cultas — do linguajar de jagunços do norte mineiro, abrangendo também Goiás e Bahia, de uns 80 anos atrás. Mas, como disse um crítico após o lançamento da obra-prima, basta perseverar por umas 50 ou 100 páginas que a coisa começa a se abrir e encantar.

Toda a estória é contada oralmente pelo cativante ex-jagunço Riobaldo num jorro só, sem interrupção ou …