@zarabatana Legal, eu participo de um também. Acho que vou sugerir esse livro.
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sol2070 reviewed Homenagem à Catalunha by George Orwell
Relato poderoso e crucial
5 stars
( sol2070.in/2025/05/homenagem-catalunha-orwell-filme-terra-e-liberdade/ )
Consagrado pelo clássico 1984, o autor britânico George Orwell conta sua experiência como soldado voluntário na Guerra Civil Espanhola em Homenagem à Catalunha (Homage to Catalonia 1938, 312 pgs). Apesar de não aparecer nos créditos, 80% do clássico filme Terra e Liberdade (Tierra y Libertad, 1995), de Ken Loach, parece diretamente baseado nesse livro (mais sobre o filme no final).
Até hoje, Orwell costuma ser confundido como antissocialista[^1], devido à sua posição à esquerda da esquerda, de se opor a estruturas autoritárias mesmo que sejam supostamente de esquerda, como a União Soviética. Sua participação no conflito revolucionário espanhol teve papel-chave para sua visão política.
Depois que uma ampla coalização de esquerda — incluindo desde o Partido Comunista, passando pela esquerda moderada, até sindicatos anarquistas — ganhou a eleição espanhola em 1936, militares fascistas tentaram um golpe para impedir o governo e tomar o …
( sol2070.in/2025/05/homenagem-catalunha-orwell-filme-terra-e-liberdade/ )
Consagrado pelo clássico 1984, o autor britânico George Orwell conta sua experiência como soldado voluntário na Guerra Civil Espanhola em Homenagem à Catalunha (Homage to Catalonia 1938, 312 pgs). Apesar de não aparecer nos créditos, 80% do clássico filme Terra e Liberdade (Tierra y Libertad, 1995), de Ken Loach, parece diretamente baseado nesse livro (mais sobre o filme no final).
Até hoje, Orwell costuma ser confundido como antissocialista[^1], devido à sua posição à esquerda da esquerda, de se opor a estruturas autoritárias mesmo que sejam supostamente de esquerda, como a União Soviética. Sua participação no conflito revolucionário espanhol teve papel-chave para sua visão política.
Depois que uma ampla coalização de esquerda — incluindo desde o Partido Comunista, passando pela esquerda moderada, até sindicatos anarquistas — ganhou a eleição espanhola em 1936, militares fascistas tentaram um golpe para impedir o governo e tomar o poder. Houve resistência e os estados espanhóis ficaram divididos, resultando numa guerra civil até 1939, quando fascistas liderados pelo general Franco instalaram uma ditadura que durou 36 anos.
Muitas pessoas de outros países se juntaram à luta anti-fascista e à revolução, como Orwell, já que esse embate tinha consequências globais. Em diversas áreas resistentes ao golpe, como a Catalunha, a luta também era uma revolução anticapitalista em andamento.
O objetivo não era apenas derrotar os fascistas, mas também abolir o capitalismo e estabelecer uma sociedade igualitária, o que aconteceu por um período que varia de meses a anos, dependendo da região. Empresas e terras foram todas coletivizadas e as pessoas comuns passaram a se autogovernar, com o mínimo de estruturas hierárquicas, enquanto a guerra seguia. Isso aconteceu em grande parte devido aos sindicatos anarquistas e outras divisões mais revolucionárias da esquerda, que estavam à esquerda do governo esquerdista.
Mas o governo anti-fascista passou a se opor à revolução — essas pessoas eram chamadas de “comunistas“, devido à influência do partido comunista e da Rússia —, querendo controlar tudo de cima para baixo, afirmando que a coletivização e a descentralização do poder prejudicariam a guerra. Eram chamados também de “comunistas de direita”.
Ou seja, além de lutar contra os fascistas, a esquerda se dividiu entre quem apoiava o governo contrarrevolucionário e o lado revolucionário — formado por anarquistas e as alas de socialistas radicais como o POUM. Essa divisão envolveu conflitos armados, mortes e prisões em massa.
Foi a uma milícia do POUM que Orwell se juntou quase por acaso, ao chegar na Espanha. Isso no final fez com que fosse perseguido pelos “comunistas de direita”. O governo de esquerda jogou o POUM na ilegalidade e caçou seus membros, mas Orwell conseguiu escapar da Espanha com sua mulher.
O livro destrincha esse conflito interno da esquerda em dois apêndices. Para quem for ler, recomendo ler o Apêndice 1 antes, para não se perder nas siglas de partidos e milícias, e entender quem é quem.
Essa política toda também é relegada aos apêndices porque o relato foca na experiência em primeira mão de Orwell, que tentou se distanciar das brigas políticas internas enquanto serviu. Queria apenas derrotar fascistas e tinha vagos “ideais socialistas”. Seus companheiros o chamavam de ingênuo. Ele só reconheceu a verdade disso depois que terminou vítima do partido comunista.
Considero central esse aspecto de como o socialismo estatal sabota e bloqueia revoluções genuínas, mas o mérito maior do livro é mesmo a experiência subjetiva de alguém que lutou nas trincheiras catalãs.
Orwell detalha a precariedade das condições na linha de frente, como frio congelante constante, armas defasadas e defeituosas, imundície, infestação de piolhos, falta de comida, cigarros, roupas etc. Sua tácita aceitação completa diante do fato de realmente poder morrer a qualquer momento acaba sendo impressionante. Também descreve como era combater em uma milícia sem hierarquias e desigualdade.
Apesar de ter passado por poucas situações de guerra total, balas perdidas eram a principal causa de mortes e ferimentos. Ele mesmo levou uma no pescoço e ficou incapacitado por semanas.
Não deixa de ser uma jornada infernal, da qual ele admite, paradoxalmente, lembrar com saudosismo. Principalmente pelas amizades, o “espírito espanhol“ e a incomparável sensação libertadora de desfrutar brevemente de uma utopia viva.
‘Terra e Liberdade’
→ trailer
O filme Terra e Liberdade (1995) está disponível na íntegra com boa definição no Youtube (mas com legendas em português apenas na falha versão automática).
Marcou-me bastante na juventude. Não sabia que era tão baseado na experiência de Orwell. Descobri porque, ao terminar o livro, quis rever o filme. As principais diferenças são:
- Não poderia faltar um romance para amenizar e cativar, mas sem pieguice e até emociona.
- As trincheiras são muito mais limpas (assim como as pessoas) e aconchegantes.
- A perca da ingenuidade do protagonista, quando ele percebe a armadilha do “comunismo estatal”, acontece sem que precise fugir do país. Ele chega a voltar às trincheiras mais esclarecido.
- A vilania dos “comunistas de direita” é exagerada, sugerindo que a guerra foi perdida por essa interferência. Orwell jamais faz essa afirmação, apesar de acreditar que isso certamente sabotou a luta anti-fascista.
- É muito mais emocional e trágico. O relato de Orwell é quase jornalístico, apesar de que quando seu grupo é acusado de traição e de aliança com os fascistas, ele não se conforma e solta o verbo, levando em conta quantos de seus companheiros se sacrificaram.
- Pouco aparecem a igualdade e a coletivização que se estabeleceram nas áreas liberadas e na milícia.
Para saber mais sobre esse conflito revolucionário, crucial no contexto anti-autoritário e anticapitalista, o filme é imperdível. Acaba exigindo certa familiaridade com a política (na primeira vez que vi, não entendi completamente, ficando mais absorvido pelo drama, mas o livro esclareceu tudo).
É um dos melhores retratos cinematográficos de uma revolução histórica, sendo um dos filmes mais lembrados da extensa lista de dramas anticapitalistas do diretor inglês Ken Loach.
[^1]: Sobre o suposto antissocialismo de Orwell e uma rica análise de 1984, de Thomas Pynchon: sol2070.in/2022/11/Sobre-1984
sol2070 finished reading Homenagem à Catalunha by George Orwell

Homenagem à Catalunha by George Orwell
George Orwell foi um dos escritores que, como Hemingway e Saint-Exupéry, lutou pela República na Guerra Civil Espanhola; o que …
sol2070 reviewed O Festim dos Corvos by George R. R. Martin (As Crônicas de Gelo e Fogo, #4)
Tijolada
5 stars
( sol2070.in/2025/05/livro-o-festim-dos-corvos/ )
O Festim dos Corvos (A Feast for Crows, 2005, 608 pgs) é o tijolo 4 d'As Crônicas de Gelo e Fogo de George R.R. Martin, que inspirou a série Game of Thrones.
O banquete do título são os milhares de cadáveres que restaram das batalhas e golpes anteriores. Como rainha-regente, Cersei (minha vilã preferida) inicia uma cadeia de decisões tempestivas, após os assassinatos de seu pai e do filho rei, enquanto as coisas vão cozinhando ao redor. Outras personagens que vão se desenvolvendo são Arya, Jaime, Brienne (cujo arco resulta em algo bem diferente da TV), Sam e Sansa.
Pra quem não conhece (há dois anos, eu era dos poucos que ignorava completamente até o seriado), os livros formam uma das mais amadas séries de fantasia, ao lado do Senhor dos Anéis de Tolkien. Nunca li Tolkien (pretendo corrigir isso em breve), mas em …
( sol2070.in/2025/05/livro-o-festim-dos-corvos/ )
O Festim dos Corvos (A Feast for Crows, 2005, 608 pgs) é o tijolo 4 d'As Crônicas de Gelo e Fogo de George R.R. Martin, que inspirou a série Game of Thrones.
O banquete do título são os milhares de cadáveres que restaram das batalhas e golpes anteriores. Como rainha-regente, Cersei (minha vilã preferida) inicia uma cadeia de decisões tempestivas, após os assassinatos de seu pai e do filho rei, enquanto as coisas vão cozinhando ao redor. Outras personagens que vão se desenvolvendo são Arya, Jaime, Brienne (cujo arco resulta em algo bem diferente da TV), Sam e Sansa.
Pra quem não conhece (há dois anos, eu era dos poucos que ignorava completamente até o seriado), os livros formam uma das mais amadas séries de fantasia, ao lado do Senhor dos Anéis de Tolkien. Nunca li Tolkien (pretendo corrigir isso em breve), mas em relação às adaptações cinematográficas, prefiro imensamente mais Game of Thrones (gosto até do odiado final). Tanto que fui pros livros.
O último que li foi há uns 18 meses. A série de sete livros planejados ainda só tem cinco. George está 13 anos atrasado para entregar o sexto. Quis esperar um pouco para ver se diminuía a incerteza sobre a conclusão, além de que cada tijolo tem mil páginas (na versão de bolso em inglês). No Kindle, a previsão de cada volume é 40 horas de leitura, sendo que um livro de 270 pgs costuma somar sete horas.
Ou seja, estava adiando continuar a série porque cada volume equivale a cinco livros, além da incerteza sobre quando (ou se) a saga terminará.
Mesmo assim, vale a pena. Exige mais, claro, mas a recompensa é proporcional. Devido à densidade, é daquelas estórias que transportam quase fisicamente.
E pra quem amou a série nas telas, é como se a coisa continuasse, porque há muito mais estória, além da profundidade. Por exemplo, Catelyn, a mãe dos Stark, tem um destino diferente do que o que se viu na TV. Além de Brienne e várias outros fatores (que mencionei nas resenhas anteriores).
Neste livro em particular, aparece, por exemplo, algo interessante que nem foi mencionado na TV: como, nos séculos passados, a ordem dos Meistres gradualmente foi rejeitando, expurgando e enterrando mistérios que não podia controlar com sua ciência. Os Outros, os dragões e a feitiçaria inspirada por R'hllor acabam sendo a contrapartida dessa forçada racionalização do mundo.
Li a versão em inglês. Até tentei no segundo volume a tradução, mas como estava acostumado com os nomes dos lugares em inglês, não deu pra me adaptar.
sol2070 finished reading O Festim dos Corvos by George R. R. Martin (As Crônicas de Gelo e Fogo, #4)

O Festim dos Corvos by George R. R. Martin (As Crônicas de Gelo e Fogo, #4)
Few books have captivated the imagination and won the devotion and praise of readers and critics everywhere as has George …
@zarabatana Esse tá na minha lista há um tempo!
sol2070 replied to Yuri Bravos's status
@Miguel @yuribravos Tentei há uns dias e não consegui superar essa dificuldade do começo (pra mim, fantasia em alturas distantes demais). Abandonei. Não que seja ruim, mas não era o que queria ler no nomento.
sol2070 wants to read A Fire Upon The Deep by Vernor Vinge
sol2070 replied to Ricardo Rodrigues's status
@riiku O primeiro livro do Ray Nayler também é ótimo, The Mountain in The Sea. Como já faz uns anos, acho que vou reler.
sol2070 replied to Ricardo Rodrigues's status
@riiku Que premissa mais te interessou? Tem várias! Achei interessante o que a IA que desperta decide fazer. E a história daquele cara russo que planejou tudo, que sobreviveu à inundação ainda bebê.
sol2070 replied to Everton P.'s status
@coffeverton Quando tentei ler, terminei abandonando. O humor e o tom de sátira não me pegaram, nem as extensas descrições de mecanismos...
sol2070 reviewed A Experiência Zapatista by Jérôme Baschet
O livro que eu procurava sobre zapatistas
5 stars
( sol2070.in/2025/04/livro-a-experiencia-zapatista/ )
A Experiência Zapatista (2019), de Jerôme Baschet, é o livro que procurava há anos sobre o movimento mexicano: uma obra introdutória e abrangente acessível ao público (abandonei alguns livros sobre o tema por serem acadêmicos demais ou terem focos e ângulos muito específicos).
Baschet é um historiador francês que chegou a participar do movimento, escrevendo também com uma perspectiva de dentro.
Formado majoritariamente por povos indígenas rurais, zapatistas (ou o EZLN, Exército Zapatista de Libertação Nacional) controlam parte significativa do estado de Chiapas, no sul mexicano, de forma independente do governo do país, desde 1994.
São conhecidas pelo modelo revolucionário descentralizado e horizontal, mais de cunho anarquista do que marxista. A organização é gerida em assembleias de democracia direta e seus porta-vozes são denominados “subcomandantes”, já que acima deles estão apenas as assembleias e um comitê indígena.
O livro tem uma ênfase filosófica e ideológica, de apresentar …
( sol2070.in/2025/04/livro-a-experiencia-zapatista/ )
A Experiência Zapatista (2019), de Jerôme Baschet, é o livro que procurava há anos sobre o movimento mexicano: uma obra introdutória e abrangente acessível ao público (abandonei alguns livros sobre o tema por serem acadêmicos demais ou terem focos e ângulos muito específicos).
Baschet é um historiador francês que chegou a participar do movimento, escrevendo também com uma perspectiva de dentro.
Formado majoritariamente por povos indígenas rurais, zapatistas (ou o EZLN, Exército Zapatista de Libertação Nacional) controlam parte significativa do estado de Chiapas, no sul mexicano, de forma independente do governo do país, desde 1994.
São conhecidas pelo modelo revolucionário descentralizado e horizontal, mais de cunho anarquista do que marxista. A organização é gerida em assembleias de democracia direta e seus porta-vozes são denominados “subcomandantes”, já que acima deles estão apenas as assembleias e um comitê indígena.
O livro tem uma ênfase filosófica e ideológica, de apresentar os ideais do movimento, como anticapitalismo, inseparabilidade da natureza e abraço da diversidade cultural (em oposição à homogenização da ortodoxia, por exemplo, marxista). Apesar desse realce teórico, tudo fica mais vivo, já que a teoria está abraçada pela experiência prática de uma revolução em pleno andamento. E os aspectos cotidianos e de organização também estão bem documentados.
O movimento se apresenta como uma revolução não apenas local, mas também nacional e, de modo último, planetário, para neutralizar o capitalismo e toda sua destruição, e garantir o florescimento da vida e suas comunidades.
A apresentação muitas vezes vem na voz das próprias indígenas participantes, com espírito prático e singelo, em vez de privilegiar o ângulo acadêmico. Entretanto, o autor equilibra isso com sua rica contextualização.
Li a edição em inglês de 2024, que foi atualizada com desdobramentos depois de 2019.
Abaixo segue uma tradução do capítulo final ( sol2070.in/2025/04/livro-a-experiencia-zapatista/#pensamentos-finais ), que é uma conclusão sintética da obra.
sol2070 finished reading A Experiência Zapatista by Jérôme Baschet

A Experiência Zapatista by Jérôme Baschet
“É nossa convicção e nossa prática que para se rebelar e lutar não são necessários nem líderes, nem caudilhos, nem …
@[email protected] Didn't read this, but I loved Semiosis.
@[email protected] Yeah, I read an interview with the author and he wanted the thing to be left. dubious.