sol2070 reviewed O Último Grito by Thomas Pynchon (duplicate)
Banquete
5 stars
( sol2070.in/2025/07/livro-o-ultimo-grito-pynchon/ )
O Último Grito (Bleeding Edge, 2013, 584 pgs) é o mais recente romance publicado de um autor predileto: o recluso Thomas Pynchon.
Uma das mais consagradas vozes literárias dos EUA, Pynchon é o grande romancista da paranoia. Suas estórias mergulham quem lê naquela condição visionária ou doentia onde tudo parece outra nítida peça de uma espantosa e, no fim, impenetrável conspiração. Em meio a humor no limite do pastelão, drogas, sentimentos antissistema e/ou anárquicos, e referências culturais que cobrem indiscriminadamente todo o espectro — desde cenas de filmes antigos, animes, canções country, heavy metal, filosofia, passando por videogames e programas do Windows, até óperas clássicas.
A estória é sobre alguns meses antes e depois do atentado terrorista às torres gêmeas em Nova York, em 2001, na vida de Maxine, uma investigadora de fraudes financeiras especializada em startups digitais, que viviam o pós-estouro da bolha da internet. Ela entra num buraco de coelho de Alice ao investigar um tecnobilionário com ligações tanto com o governo quanto com terroristas.
Gostei especialmente por ser a chegada do mundo digital na imaginação desvairada do autor. Tem até uma pegada cyberpunk, cheia de hackers, contrabando de informação, o poder exponencial das tecno-corporações, além de um universo virtual viciante que é uma mistura de Second Life com deep web.
Também fala mais de família e casamento, de modo bastante terno, sem perder o norte cáustico. E não deixa de ser uma efusiva homenagem à cidade de Nova York, que fica parecendo um outro mundo, com seus estabelecimentos únicos, subculturas, modas, tribos e máfias.
Mesmo tendo me perdido em muitas das referências — principalmente termos judaicos ou de filmes em preto-e-branco —, pra mim foi um banquete. Ainda mais sendo uma tradução de Paulo Henriques Britto (o único tradutor que me faz comprar o que traduziu).
Entretanto, assim como no livro anterior (Vício Inerente, 2009), não foi a experiência impactante dos primeiros romances Arco-Íris da Gravidade (1973) e O Leilão do Lote 49 (1966) — quero reler, talvez tenham me marcado mais por ter lido bem jovem.
Superficial e inicialmente, O Último Grito pode parecer uma estória de detetive, mas quem ler com essa lente vai se decepcionar. É basicamente… pynchoniano.
Em outubro, vai sair o décimo romance de Pynchon: Shadow Ticket. Antes, em setembro, chega outra adaptação para as telas de Paul Thomas Anderson: One Battle After Another, baseado no lindo Vineland (1990). Anderson também adaptou Vício Inerente, em 2014.