sol2070 reviewed Não verás país nenhum by Ignácio de Loyola Brandão (Coleção Edições do Pasquim -- v. 111)
Clássico distópico brasileiro
3 stars
( sol2070.in/2025/02/livro-nao-veras-pais-nenhum/ )
"Não Verás País Nenhum" (1981, 384 pgs), de Ignácio de Loyola Brandão, provavelmente é o grande clássico distópico brasileiro.
Em um futuro próximo, algumas pessoas ainda sobrevivem razoavelmente enquanto multidões de sem-teto e pessoas sofrendo com mutações ambientais tentam escapar de ondas mortais de calor, fome, sede e doenças. Praticamente não há mais vida orgânica com a exceção de seres humanos, a Amazônia virou deserto e grandes porções do país foram vendidas por um governo totalitário e vigilante formado por uma aliança de militares com elites.
Acompanhamos Souza, um funcionário público e ex-professor de história que tem a vida revirada depois que um furo surge em sua mão — o romance foi desenvolvido a partir do conto "O Homem do Furo na Mão". Predomina um tom de sátira, com humor quase macabro, além de certo surrealismo ou realismo mágico, apesar da atmosfera que beira o grotesco. A …
( sol2070.in/2025/02/livro-nao-veras-pais-nenhum/ )
"Não Verás País Nenhum" (1981, 384 pgs), de Ignácio de Loyola Brandão, provavelmente é o grande clássico distópico brasileiro.
Em um futuro próximo, algumas pessoas ainda sobrevivem razoavelmente enquanto multidões de sem-teto e pessoas sofrendo com mutações ambientais tentam escapar de ondas mortais de calor, fome, sede e doenças. Praticamente não há mais vida orgânica com a exceção de seres humanos, a Amazônia virou deserto e grandes porções do país foram vendidas por um governo totalitário e vigilante formado por uma aliança de militares com elites.
Acompanhamos Souza, um funcionário público e ex-professor de história que tem a vida revirada depois que um furo surge em sua mão — o romance foi desenvolvido a partir do conto "O Homem do Furo na Mão". Predomina um tom de sátira, com humor quase macabro, além de certo surrealismo ou realismo mágico, apesar da atmosfera que beira o grotesco. A lógica dos acontecimentos muitas vezes é a mesma de sonhos ou delírios.
Evito classificar livros, mas de um total de cinco, daria três estrelas. Recomendo bastante o romance pela relevância sociopolítico-ambiental e pela ambientação no Brasil, além da distopia presciente em muitos sentidos, como nas atuais emergência ambiental e volta da ameaça fascista.
Mas o tipo de humor não me pegou muito, assim como a trágica história de Souza — parece que ele vai sendo atirado pra lá e pra cá como se não tivesse vontade própria, enquanto rumina sobre sua vida igualmente acorrentada. A catástrofe ambiental e política tem um tom fatalista, tão impossível de escapar que ninguém no livro nem cogita a possibilidade de algo mudar.
Clube O que adorei foram as conversas no clube do livro que formamos com pessoas que frequentam aqui ou o fediverso. Esse foi o primeiro livro e a experiência de uma leitura conjunta e compartilhada foi bastante enriquecedora, além da simples alegria de trocar ideias com outras pessoas que gostam de ler.
O próximo livro é A Palavra que Resta (2021), de Stenio Gardel. Caso queira participar, preencha este formulário ( clubeleitura.fillout.com/participar ).