Marte reviewed Miss Davis by Sybille Titeux de la Croix
Bonito, mas falta coesão narrativa
3 stars
As ilustrações da história em quadrinhos são excelentes. Aqui, estilos diferentes são misturados entre capítulos, mas de alguma forma, faz sentido e não fica esquisito. O problema está na narrativa.
O primeiro capítulo narra a história da infância de Angela Davis, importante ativista dos direitos civis estadunidense. A narradora desse capítulo é Cynthia Wesley, amiga de infância de Davis, e é uma narração fictícia pois Cynthia morreu em um atentado terrorista da KKK em 1963, quando Angela já não morava mais em sua cidade natal. Esse capítulo é até que bem elaborado, principalmente se você não conhece a história de Wesley. Entretanto, o primeiro problema já aparece ao final do primeiro capítulo: nenhum contexto mais específico sobre esse atentado e seus impactos no movimento negro estadunidense é dado pela narração, que passa a ser dada por uma jornalista branca fictícia após a morte de Wesley na narrativa. Aliás, essa jornalista …
As ilustrações da história em quadrinhos são excelentes. Aqui, estilos diferentes são misturados entre capítulos, mas de alguma forma, faz sentido e não fica esquisito. O problema está na narrativa.
O primeiro capítulo narra a história da infância de Angela Davis, importante ativista dos direitos civis estadunidense. A narradora desse capítulo é Cynthia Wesley, amiga de infância de Davis, e é uma narração fictícia pois Cynthia morreu em um atentado terrorista da KKK em 1963, quando Angela já não morava mais em sua cidade natal. Esse capítulo é até que bem elaborado, principalmente se você não conhece a história de Wesley. Entretanto, o primeiro problema já aparece ao final do primeiro capítulo: nenhum contexto mais específico sobre esse atentado e seus impactos no movimento negro estadunidense é dado pela narração, que passa a ser dada por uma jornalista branca fictícia após a morte de Wesley na narrativa. Aliás, essa jornalista branca eu até achei que fosse uma pessoa real, mas descobri que é um recurso narrativo, especulo que seja uma personagem criada para não fazer com que a autora, de la Croix, uma mulher branca francesa, soasse estranha narrando a história de Davis.
Todo o "plot" dessa jornalista não faz nenhum sentido e ela parece incapaz de formular alguma coisa que não seja colocar Davis em um pedestal de ativista-modelo perfeita, com um tom irritante que era para ser lisonjeiro mas só parece exagerado mesmo. Aparece até uma criança negra que eu não faço ideia de onde saiu. Completamente dispensável.
Quanto à biografia de Davis, em si, entendo a limitação de uma história em quadrinhos de colocar tudo em um volume físico. Provavelmente foi por isso que a autora selecionou alguns pontos memoráveis: a ida de Davis à Universidade, seus primeiros envolvimentos políticos, a militância pela libertação dos irmãos Soledad, sua prisão e posterior libertação. Um problema sério aqui é que falta coesão entre os acontecimentos, muitas coisas ficam simplesmente jogadas e o leitor que não é ambientado com a história de Davis pode perder muitos contextos importantes para o desenvolvimento. Além disso, não consegui identificar qual seria a faixa etária adequada para essa história em quadrinhos, é gráfico demais para ser infantil, mas tem linguagem pouco adulta, então... provavelmente jovem-adulto.
Em resumo, não gostei. Se você quer algo realmente substancial sobre Angela Davis, melhor partir para a autobiografia mesmo.