Na sociedade da transparência não se forma comunidade em sentido enfático. Surgem apenas certos ajuntamentos e agrupamentos de diversos indivíduos isolados singularmente, de egos que perseguem um interesse comum ou que se agrupam em torno de uma marca (Brand comunities) (Comunidades de marca). Distinguem-se de reuniões que teriam condições de formar um nós, de estabelecer um comércio comum, político. A esses falta o espírito[98]. Reuniões como brand communities formam uma composição aditiva sem qualquer densidade interna. Consumidores se entregam voluntariamente a observações panópticas que controlam e satisfazem suas necessidades. Aqui, os meios sociais já não se distinguem das máquinas panópticas; comunicação e comércio, liberdade e controle se identificam. A abertura das relações de produção para consumidores, sugerida por uma transparência mútua, mostra ser, em última instância, uma exploração do social. O elemento social é degradado e operacionalizado como um elemento funcional do processo de produção, prestando-se sobretudo à otimização das relações de produção. Falta-lhe todo resquício de negatividade à aparente liberdade dos consumidores. Já não se forma qualquer exterior que possa colocar em questão o interior sistemático.
— Sociedade da Transparência by Byung-Chul Han (98%)