José Arthur Giannoti
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Miguel Medeiros started reading Guerra e Paz by Liev Tolstói
Guerra e Paz by Liev Tolstói
“O que é Guerra e paz?”, questiona Liev Tolstói em um texto que detalha o processo de pesquisa e de …
1) O espaço104 não é um conceito empírico que foi extraído de experiências exteriores. Com efeito, para que certas sensações sejam relacionadas a algo fora de mim (isto é, a algo em uma região do espaço distinta daquela onde me encontro), para eu representá-las como externas e próximas entre si e, portanto, não meramente diferentes, mas, como em diferentes regiões, a representação de espaço já tem que ser seu fundamento. Consequentemente, a representação do espaço não pode ser obtida das relações do fenômeno externo através da experiência; antes, essa experiência exterior é ela mesma primeiramente possível somente através dessa suposta representação.
2) O espaço A24 é uma representação necessária a priori que serve de fundamento a todas as intuições externas. Não se pode jamais produzir uma representação de que não existe espaço algum, ainda que se possa muito bem pensar que não há nele qualquer objeto a ser encontrado. B39 Portanto, é o caso de considerá-lo a condição da possibilidade dos fenômenos e não uma determinação deles dependente, e é uma representação a priori que necessariamente dá fundamento a fenômenos externos.
3) O espaço não é um conceito discursivo ou, como se diz, um conceito universal das relações das coisas em geral, A25 mas uma intuição pura. Com efeito, em primeiro lugar, só se pode representar um único espaço e, quando se fala de muitos espaços, entende-se por isso apenas partes de um e idêntico espaço. Essas partes também não podem, por assim dizer, anteceder esse espaço único e que tudo abarca, como seus constituintes (a partir dos quais sua composição seria possível); pelo contrário, somente podem nele ser pensadas. Ele é essencialmente uno: o múltiplo nele presente e, portanto, também o conceito universal de espaços em geral apoiam-se pura e simplesmente em limitações. Daqui se conclui que, no tocante a ele, uma intuição a priori (que não é empírica) dá fundamento a todos os seus conceitos. Assim, também todos os princípios da geometria, por exemplo, o de que em um triângulo a soma de dois lados é sempre maior do que o terceiro, jamais são derivados de conceitos universais de linha e de triângulo, mas da intuição, e isso a priori com certeza apodítica.
4) O espaço é representado como uma dada grandeza infinita. Ora, é necessário, decerto, pensar em cada conceito B40 na qualidade de uma representação que está encerrada em um conjunto infinito de distintas representações possíveis (como sua marca comum), que, portanto, encerra estas sob si; contudo, nenhum conceito, como tal, pode ser pensado como se encerrasse um conjunto infinito de representações em si. Não obstante, é o espaço assim pensado (pois todas as partes do espaço no infinito são concomitantes). Consequentemente, a representação original do espaço é intuição a priori, e não conceito.
— Crítica da Razão Pura by Immanuel Kant (Page 64 - 65)
Miguel Medeiros finished reading Cândido, ou o Otimismo by VOLTAIRE
Cândido, ou o Otimismo by VOLTAIRE
Existe uma harmonia no universo? Tudo estará organizado do melhor modo possível? É o que sugere o mestre Pangloss aos …
Miguel Medeiros quoted O capital by Karl Marx
Na filosofia clássica, a substância é o fundo que recebe todas as predicações, as determinações, que as ampara e as preserva das invasões de seus outros. É a garantia da mesmidade duma coisa, seja ela qual for. Hegel formula esse conceito de substância de um modo muito especial. No parágrafo 151 da pequena lógica que inicia a Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio, rompendo com a tradição, ele define substância como uma relação que totaliza os acidentes nos quais ela se revela por sua negatividade absoluta, isto é, que a distingue de tudo o que é outro. A substância da maçã não é aquela energia permanente que irrompe em cada flor da macieira para transformá-la numa fruta específica, mas aquilo que faz com que esse fruto seja o que foi, o que é e o que sempre será. É o processo de demarcar o que na maçã é especificamente revelado pelo dizer da palavra “fruta”, revelando que ela resulta de uma flor particular, que recebe um pólen especial, diferente de todos os outros seres vivos, vindo a ser em si e para si na medida em que exclui, nega, qualquer diferença de modo radical. Não é o que precisamente acontece com o valor? Ele é a mesmidade de todos os valores de troca que como tais estão negando, impedindo, em particular, que se exerçam os valores de uso correspondentes. Uma mesmidade, porém, que vale como tal porque renega qualquer outra determinação que não está sendo reposta pelo ciclo produtivo.
Miguel Medeiros quoted O capital by Karl Marx
A ideologia é, assim, uma consciência equivocada, falsa, da realidade. Desde logo, porque os ideólogos acreditam que as ideias modelam a vida material, concreta, dos homens, quando se dá o contrário: de maneira mistificada, fantasmagórica, enviesada, as ideologias expressam situações e interesses radicados nas relações materiais, de caráter econômico, que os homens, agrupados em classes sociais, estabelecem entre si. Não são, portanto, a Ideia Absoluta, o Espírito, a Consciência Crítica, os conceitos de Liberdade e Justiça, que movem e transformam as sociedades. Os fatores dinâmicos das transformações sociais devem ser buscados no desenvolvimento das forças produtivas e nas relações que os homens são compelidos a estabelecer entre si ao empregar as forças produtivas por eles acumuladas a fim de satisfazer suas necessidades materiais. Não é o Estado, como pensava Hegel, que cria a sociedade civil: ao contrário, é a sociedade civil que cria o Estado.
Jacob Gorender
Miguel Medeiros quoted O capital by Karl Marx
Em 1841, Ludwig Feuerbach dava a público A essência do cristianismo. O livro teve forte repercussão, pois constituía a primeira investida franca e sem contemplações contra o sistema de Hegel. O idealismo hegeliano era desmistificado e se propunha, em seu lugar, uma concepção materialista que assumia a configuração de antropologia naturista. O homem, enquanto ser natural, fruidor dos sentidos físicos e sublimado pelo amor sexual, colocava-se no centro da natureza e devia voltar-se para si mesmo. Estava, porém, impedido de fazê-lo pela alienação religiosa. Tomando de Hegel o conceito de alienação, Feuerbach invertia os sinais. A alienação, em Hegel, era objetivação e, por consequência, enriquecimento. A Ideia se tornava ser-outro na natureza e se realizava nas criações objetivas da história humana. A recuperação da riqueza alienada identificava Sujeito e Objeto e culminava no Saber Absoluto. Para Feuerbach, ao contrário, a alienação era empobrecimento. O homem projetava em Deus suas melhores qualidades de ser genérico (de gênero natural) e, dessa maneira, a divindade, criação do homem, apropriava-se da essência do criador e o submetia. A fim de recuperar tal essência e fazer cessar o estado de alienação e empobrecimento, o homem precisava substituir a religião cristã por uma religião do amor à humanidade. [...] Transfigurado ao passar de Hegel a Feuerbach, o conceito de alienação sofria nova metamorfose ao passar deste último a Marx. Pela primeira vez, a alienação era vista enquanto processo da vida econômica. O processo por meio do qual a essência humana dos operários se objetivava nos produtos do seu trabalho e se contrapunha a eles por serem produtos alienados e convertidos em capital. A ideia abstrata do homem autocriado pelo trabalho, recebida de Hegel, concretizava-se na observação da sociedade burguesa real. Produção dos operários, o capital dominava cada vez mais os produtores à medida que crescia por meio da incessante alienação de novos produtos do trabalho. Evidencia-se, portanto, que Marx ainda não podia explicar a situação de desapossamento da classe operária por um processo de exploração, no lugar do qual o trabalho alienado constitui, em verdade, um processo de expropriação. Daí a impossibilidade de superar a concepção ética (não científica) do comunismo.
Jacob Gorender
Miguel Medeiros started reading O capital by Karl Marx
Miguel Medeiros started reading Cândido, ou o Otimismo by VOLTAIRE
Cândido, ou o Otimismo by VOLTAIRE
Existe uma harmonia no universo? Tudo estará organizado do melhor modo possível? É o que sugere o mestre Pangloss aos …
Miguel Medeiros finished reading Pais e filhos by Ivan Sergeevich Turgenev
Pais e filhos by Ivan Sergeevich Turgenev
A chegada de Bazárov na pacífica propriedade rural de Arkádi vai levantar a poeira dos velhos tapetes e revelar o …
Juízos matemáticos são todos sintéticos. Esta proposição parece até agora ter se subtraído às observações dos analistas da razão humana, até mesmo precisamente contrariar a totalidade de suas conjecturas, ainda que seja incontestavelmente certa e importantíssima na sequência. Com efeito, desde que se descobriu que as inferências dos matemáticos procedem todas segundo o princípio de contradição (que é exigido pela natureza de qualquer certeza apodítica), houve o convencimento de que os princípios poderiam também ser conhecidos a partir do princípio de contradição, no qual erraram; com efeito, não há dúvida de que uma proposição sintética pode ser compreendida segundo o princípio de contradição, mas somente na medida em que outra proposição sintética seja pressuposta da qual a primeira seja dedutível, mas nunca em si mesma.
Deve-se começar por observar que, pelo fato de portarem com elas a necessidade, a qual não pode ser derivada da experiência, proposições propriamente matemáticas são sempre juízos a priori e não empíricos. Se, contudo, não se quiser B15 concedê-lo, nesse caso circunscreverei minha proposição à matemática pura, cujo conceito já acarreta que ele não contém conhecimento empírico, mas apenas conhecimento puro a priori.
Decerto seria de se pensar de início que a proposição 7 + 5 = 12 é uma proposição meramente analítica resultante do conceito de uma adição de 7 e 5 de acordo com o princípio de contradição. Se, porém, o examinamos mais cuidadosamente, descobrimos que tudo que contém o conceito da adição de 7 e 5 é a associação de ambos os números em um único, mediante o qual não é pensado de modo algum o que é esse número único que compreende os dois. O conceito de 12 não é em absoluto já pensado pelo meu mero pensar da associação de 7 e 5, e, por mais tempo que analise meu conceito de tal possível adição, continuarei nela não encontrando o 12. É preciso ultrapassar esses conceitos, em busca de ajuda na intuição correspondente a um dos dois, alguma coisa como seus cinco dedos, ou (como Segner69 em sua aritmética) cinco pontos e uma após outra adicionar as unidades do cinco que é dado na intuição ao conceito de sete. Com efeito, tomo primeiramente o número 7 e, à medida que tomo os dedos de minha mão na qualidade de uma intuição auxiliar com o conceito de 5, adiciono agora a essa minha imagem as unidades que anteriormente B16 tomei conjuntamente para constituir o número 5, uma após a outra, ao número 7, vendo assim o nascimento do número 12. Que 5 deveria70 ser adicionado ao 7 é algo que decerto pensei no conceito de uma adição = 7 + 5, porém, não que essa adição seja igual ao número 12. É, portanto, sempre sintética a proposição aritmética; tornamo-nos tanto mais claramente cientes disso se tomarmos números alguma coisa maiores, pois nesse caso parece claro e evidente que, mesmo se virássemos e revirássemos à vontade nossos conceitos, sem recorrer ao auxílio da intuição nunca poderíamos encontrar a adição mediante a mera análise de nossos conceitos.
— Crítica da Razão Pura by Immanuel Kant (Page 49 - 50)
Em todos os juízos nos quais é pensada a relação de um sujeito com o predicado (se me limito a considerar os afirmativos, é porque a aplicação aos negativos é posteriormente fácil), essa relação é possível de dois modos. Ou o predicado B pertence ao sujeito A como algo que está contido (de maneira oculta) nesse conceito; ou B reside totalmente fora do conceito A, ainda que decerto a ele permaneça associado. No primeiro caso, chamo A7 o juízo de analítico, no outro, de sintético. Juízos analíticos (afirmativos) são, portanto, aqueles nos quais a associação do predicado com o sujeito é pensada através de identidade, mas aqueles em que essa associação o é sem identidade devem ser chamados de juízos sintéticos. Poder-se-ia B11 também chamar os primeiros de juízos explicativos, enquanto os outros de extensivos,63 visto que, através do predicado, os primeiros nada acrescentam ao conceito do sujeito, restringindo-se a decompô-lo através de análise em seus conceitos componentes64, já nele pensados (bem que de maneira confusa): ao passo que os últimos, ao contrário, acrescentam ao conceito do sujeito um predicado que de modo algum foi nele pensado, e que não teria podido ser dele extraído mediante qualquer análise. Por exemplo, se eu digo: todos os corpos são extensos, tenho então um juízo analítico. Com efeito, não preciso ir além do conceito que associo ao corpo para descobrir que a extensão lhe está associada, mas, pelo contrário, tudo que preciso é analisar65 esse conceito, isto é, tornar-me consciente da multiplicidade que nele sempre penso a fim de aí encontrar esse predicado; trata-se, portanto, de um juízo analítico. Pelo contrário, se digo: todos os corpos são pesados, o predicado é algo completamente diferente daquilo que penso no mero conceito de um corpo em geral. O acréscimo de tal predicado produz, portanto, um juízo sintético.
Juízos da experiência, enquanto tais, são todos sintéticos. Seria, com efeito, absurdo fundar um juízo analítico na experiência, visto que eu de modo algum necessito ir além do meu conceito para formular o juízo, com o que prescindo de qualquer testemunho da experiência para isso. Que um corpo é extenso é uma proposição estabelecida a priori e nenhum juízo da experiência. B12 Com efeito, antes de me dirigir à experiência,66 já disponho de todas as condições para o meu juízo no conceito, do qual tão só extraio o predicado de acordo com o princípio de contradição, com isso podendo simultaneamente me tornar consciente da necessidade do juízo, o que a experiência jamais poderia me ensinar. Em contrapartida, A8 embora de modo algum eu inclua o predicado de peso no conceito de um corpo em geral, o conceito designa um objeto da experiência através de uma parte dele, ao que posso, portanto, ainda acrescentar outras partes da mesma experiência na qualidade de pertencentes à primeira. Posso começar por conhecer o conceito de corpo analiticamente mediante os sinais da extensão, da impenetrabilidade, da forma etc., todos eles pensados nesse conceito. Agora, porém, amplio meu conhecimento e, olhando de volta para a experiência a partir da qual derivara esse conceito de corpo, descubro que o peso está igualmente sempre associado aos sinais prévios e, assim, adiciono isso sinteticamente na qualidade de predicado ao tal conceito. Assim, é na experiência que está fundada a possibilidade da síntese do predicado de peso com o conceito de corpo, visto que ambos os conceitos, embora não se contenham um ao outro, se pertencem, ainda que isso o seja apenas de modo contingente, na qualidade de partes de um todo, a saber, experiência, a qual é ela mesma uma combinação sintética das intuições.
Todavia, A9 em juízos sintéticos a priori falta completamente esse meio auxiliar. Se se trata B13 de eu ir além do conceito A visando a conhecer um outro B na qualidade de combinado, no que me apoio e por meio do que a síntese se torna possível, uma vez não dispor eu aqui da vantagem de observar à volta à sua procura no campo da experiência? Tome-se a proposição: tudo que acontece tem sua causa. No conceito de algo que acontece decerto que penso em uma existência que foi precedida por um tempo etc., do que se podem extrair juízos analíticos. Entretanto, o conceito de uma causa jaz completamente fora desse conceito, e aponta para algo distinto daquele do que acontece em geral e, por conseguinte, não está de modo algum encerrado nessa última representação. Como explicar, com efeito, de eu dizer algo inteiramente diferente em torno daquilo que acontece em geral, e de conhecer o conceito de causa como a ele pertencente e, mesmo, necessário, ainda que nele não contido?67 O que é a incógnita = x aqui, na qual se apoia o entendimento quando se crê descobridor, além do conceito de A, de um predicado que, embora lhe sendo estranho, ele crê a ele ser ligado? A experiência não pode ser, porque o princípio aduzido acresce essa segunda representação à primeira não apenas com maior universalidade do que o pode suprir a experiência, como também com a expressão da necessidade e, portanto, inteiramente a priori e a partir de meros conceitos. Ora, o completo objetivo final A10 de nosso conhecimento especulativo a priori apoia-se em tais princípios sintéticos, isto é, extensivos;68 com efeito, os analíticos decerto são sumamente importantes B14 e necessários, porém unicamente no que diz respeito à obtenção daquela clareza conceitual exigida para uma síntese segura e ampla na qualidade de uma aquisição realmente nova.
— Crítica da Razão Pura by Immanuel Kant (Page 47 - 49)
A questão aqui é o indício pelo qual podemos distinguir seguramente um conhecimento puro de um empírico. É verdade que a experiência nos ensina que alguma coisa tem esta ou aquela constituição, mas não que não poderia ser de outra forma. Primeiro, portanto, sendo uma proposição pensada juntamente com sua necessidade, trata-se de um juízo a priori; se, ademais, não é derivada de qualquer proposição, salvo de uma que, por sua vez, é válida como uma proposição necessária, neste caso é absolutamente a priori. Segundo, a experiência nunca confere aos seus juízos universalidade verdadeira ou estrita, mas tão só suposta e comparativa (através de indução), que é propriamente como deve ser chamada: tanto quanto pudemos perceber B4 até agora, inexiste exceção a uma ou outra dessas regras. Conclui-se que se um juízo é pensado em estrita universalidade, isto é, de modo a vedar a possibilidade de qualquer exceção, então ele não é derivado da experiência, mas válido absolutamente a priori. Portanto, a universalidade empírica não passa de uma extensão arbitrária da validade em que a validade da maioria dos casos é transferida para a totalidade deles, como, por exemplo, na proposição: todos os corpos são pesados, ao passo que a universalidade estrita pertence essencialmente a um juízo, o que aponta para uma fonte especial de conhecimento para ele, nomeadamente uma faculdade de conhecimento a priori. Necessidade e universalidade estrita constituem, portanto, indícios seguros de um conhecimento a priori, e também se pertencem mutuamente de maneira indissolúvel. Mas porque em seu emprego por vezes é mais fácil exibir a limitação empírica do que a contingência nos juízos, ou é muitas vezes mais plausível exibir a universalidade irrestrita que conferimos a um juízo do que sua necessidade, é de se aconselhar o emprego separado desses dois critérios, sendo cada um por si infalível.
— Crítica da Razão Pura by Immanuel Kant (Page 42 - 43)
Que todo nosso conhecimento principia com a experiência, disso não resta a menor dúvida, pois de que outro modo a faculdade cognoscente a atividade de nosso entendimento, para compará-las, associá-las ou dissociá-las, e assim transformar a matéria-prima das impressões sensíveis em um conhecimento dos objetos que se denomina experiência? Conforme o tempo, então, nenhum conhecimento em nós antecede a experiência, e com esta principia todo conhecimento.
Mas se todo nosso conhecimento principia com a experiência, nem por isso tudo se origina a partir da experiência. Com efeito, poderia bem ser que mesmo nosso conhecimento empírico seja um composto daquilo que recebemos através de impressões e daquilo que nossa própria faculdade cognoscente (meramente estimulada por meio de impressões sensíveis) produz por si mesma, adição que não distinguimos B2 da matéria-prima, até que a longa prática nos tenha tornado atentos e habilitados para sua separação.
Trata-se, portanto, no mínimo de questão que requer uma investigação mais minuciosa, e que não deve ser descartada à primeira vista: se há tal conhecimento independente da experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos. Tais conhecimentos são chamados de conhecimentos a priori, e são distintos dos empíricos, que têm suas fontes a posteriori, a saber, na experiência. [...]
Na sequência, portanto, entenderemos por conhecimentos a priori não aqueles que acontecem independentemente de uma experiência particular, mas aqueles B3 que acontecem absolutamente independentes de toda experiência. A estes se opõem os conhecimentos empíricos, ou aqueles possíveis apenas a posteriori, isto é, através da experiência. São, porém, chamados de puros, entre os conhecimentos a priori, aqueles aos quais nada empírico é mesclado. Assim, por exemplo, a proposição: Toda alteração tem sua causa é uma proposição a priori, porém não pura, porque alteração é um conceito passível somente de ser extraído da experiência.
— Crítica da Razão Pura by Immanuel Kant (Page 41 - 42)
Nessa tentativa, a operação dessa crítica da razão especulativa pura consiste em transformar o procedimento da metafísica de até agora e nela empreender uma completa revolução conforme o exemplo dos geômetras e dos estudiosos da natureza. Ela é um tratado acerca do método, não um sistema da própria ciência, não obstante registre o seu completo perfil, seja com respeito aos seus limites, seja com respeito à sua total estrutura BXXIII interna. Com efeito, a razão especulativa pura tem em si esta peculiaridade, a saber: pode e deve avaliar sua própria capacidade de acordo com os distintos modos de seleção dos objetos de seu pensar, além de completamente enumerar as múltiplas maneiras de se apresentar problemas, o que resulta no registro da totalidade do esboço preliminar de um sistema completo de metafísica; porque, no que se refere ao primeiro item, no conhecimento a priori, nada pode ser atribuído aos objetos salvo o que o sujeito pensante25 subtrai de si mesmo e, no que se refere ao segundo, no tocante aos princípios cognitivos, ela26 é uma unidade completamente separada e autossubsistente na qual, cada membro, como em um corpo organizado, existe em função de todos os outros, e todos estes existem em função dela, e nenhum princípio pode com segurança ser tomado em uma relação a não ser que seja concomitantemente investigado na relação universal27 para o uso pleno da razão pura. Neste caso, entretanto, a metafísica também dispõe da rara felicidade desfrutada por nenhuma outra ciência racional que se ocupa de objetos (com efeito, a lógica ocupa-se apenas da forma do pensar em geral) de que, se através dessa crítica foi ela conduzida ao caminho seguro de uma ciência, está capacitada a abarcar todo o campo de conhecimentos que a ela pertencem, e assim BXXIV pode completar seu trabalho e o assentar para a posteridade como uma tessitura principal para jamais ser aumentada, uma vez que só tem a ver com princípios e com as limitações de seu uso, determinadas pelos próprios princípios. Ela, assim, na qualidade de ciência fundamental 28, está também obrigada a atingir essa completitude, e dela precisamos estar capacitados a dizer: nil actum reputans, si quid superesset agendum.29
— Crítica da Razão Pura by Immanuel Kant (Page 29)