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Miguel Medeiros

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"Este mundo grande cansa-me à exaustão o pequeno corpo.". — Pórcia

Sou um leigo que se entrega à filosofia, literatura, história e ciência. Leitor de Philip K. Dick a Platão, ouvinte de Arctic Monkeys a John Coltrane, jogador de Red Dead Redemption a Deus Ex.

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Rodrigo Ochigame: Informática do oprimido (Portuguese language, 2025, Editora Funilaria) No rating

Informática do Oprimido, de Rodrigo Ochigame, explora algumas narrativas alternativas à visão dominante da tecnologia …

Se inovações periféricas, como as experiências latino-americanas com informática, não se tornaram dominantes, não é porque fossem necessariamente inferiores aos concorrentes corporativos, militares e metropolitanos. As razões pelas quais algumas tecnologias sobrevivem e outras morrem não são estritamente técnicas, mas políticas. O modelo cubano era, sem dúvida, mais sofisticado tecnicamente do que seus homólogos americanos. No entanto, algumas tecnologias são patrocinadas pela indústria da publicidade, enquanto outras são restringidas por um embargo comercial neocolonial. Algumas são apoia- das pelo Pentágono, outras, esmagadas pelo Vaticano. É crucial recuperar essas alternativas perdidas, pois elas nos mostram como as tecnologias poderiam ter sido de outra forma — e ainda podem ser no futuro. No entanto, essas histórias são difíceis de recuperar. Seus protagonistas podem permanecer anônimos, e seus registros, não preservados.

Informática do oprimido by  (Âncoras do futuro) (Page 83 - 84)

Rodrigo Ochigame: Informática do oprimido (Portuguese language, 2025, Editora Funilaria) No rating

Informática do Oprimido, de Rodrigo Ochigame, explora algumas narrativas alternativas à visão dominante da tecnologia …

Minha descoberta sobre a rede de intercomuni- cação dos teólogos da libertação seguiu um caminho semelhante. Quando conheci Stella e Chico Whitaker no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, evento que ajudaram a fundar em 2001, nunca tinha ouvido falar em rede de intercomunicação. Só anos depois, quando ajudava o casal a doar seus papéis pessoais para um arquivo público, é que eles mencionaram de passagem que uma das caixas empoeiradas de seu apartamento continha documentos de um antigo projeto de informática. Eles ficaram surpresos por eu ter demonstrado interesse. Às vezes, o melhor método de recuperação de informações é falar com as pessoas.

Informática do oprimido by  (Âncoras do futuro) (Page 85)

Às vezes, o melhor método de recuperação de informações é falar com as pessoas.

quoted Informática do oprimido by Rodrigo Ochigame (Âncoras do futuro)

Rodrigo Ochigame: Informática do oprimido (Portuguese language, 2025, Editora Funilaria) No rating

Informática do Oprimido, de Rodrigo Ochigame, explora algumas narrativas alternativas à visão dominante da tecnologia …

Essa inconsciência técnica não é acidental. A formação dos profissionais de tecnologia nos centros hegemônicos, tanto aqui quanto no Norte global, tende a separar deliberadamente o “como fazer” do “por que fazer” e “para quem fazer”, criando gerações de programadores que, mesmo brilhantes em suas habilidades técnicas, raramente compreendem o impacto social e político das ferramentas que desen- volvem. Assim como o operário na linha de montagem que não apenas desconhece o produto final de seu trabalho, como também é alienado da compreensão de seu papel como classe produtora de valor na engrenagem capitalista, muitos cientistas da era digital produzem fragmentos de código sem consciência do sistema econômico, político e social que ajudam a construir e perpetuar. Esse trabalhador digital, muitas vezes seduzido pela narrativa meritocrática do setor tecnológico e pelo fetiche da inovação, quase nunca se dá conta de como sua atividade intelectual, aparentemente neutra e puramente técnica, se inscreve em relações de poder que transformam conhecimento em commodity, dados em capital e usuários em produtos.

Porém, o que raramente se questiona nesses ambientes é o que aconteceria se as tecnologias tivessem sido desenvolvidas sob outras premissas, em outros contextos históricos e geopolíticos, por pessoas que experimentaram realidades diferentes daquelas dos centros de poder do Vale do Silício. En- quanto a narrativa hegemônica nos apresenta uma linha evolutiva aparentemente natural e inevitável dos sistemas técnicos — da ARPANET financiada pelo Departamento de Defesa americano à internet comercial dominada por gigantes como Google e Facebook; dos mainframes da IBM aos computado- res pessoais da Apple e da Microsoft; dos sistemas proprietários e fechados às plataformas de “economia compartilhada” que, ironicamente, concentram riqueza como nunca —, há, nas brechas do mundo capitalista, experiências tecnológicas alternativas que ainda permanecem obscurecidas, relegadas às notas de rodapé da história oficial da computação.

[...] Como seriam, por exemplo, nossas bibliotecas digitais, plataformas de busca e sistemas de catalogação se o “modelo cuba- no” descrito por Setién Quesada neste livro tivesse se tornado o paradigma dominante da ciência da informação? Em vez de algoritmos otimizados para maximizar os cliques e tempo de permanência, te- ríamos sistemas que mediriam e valorizariam uma efetiva “comunicação social autor-leitor” — aquela relação dialógica na qual o leitor não é mero consumi- dor passivo de conteúdo, mas participante ativo num processo de construção coletiva de sentido através do acervo bibliográfico? O modelo cubano reconhecia essa dimensão social da leitura, mensurando não só quantas pessoas acessam determinado material, mas como esse acesso se traduz em apropriação crítica e transformadora do conhecimento. Sob esse modelo, nossas plataformas digitais não reduziriam o conhecimento a mercadorias distribuídas por mé- tricas de engajamento e economia de atenção, mas reconheceriam a complexidade das interações humanas com a informação? A avaliação do sucesso de um sistema não seria baseada apenas em quantos usuários acessam determinado conteúdo, mas na qualidade e na profundidade dessas interações, permitindo comparações contextualizadas entre diferentes comunidades e períodos históricos? Teríamos, enfim, uma internet que não só conectaria pessoas a conteúdos, mas que compreenderia e nutriria as relações sociais que dão significado ao conhecimento compartilhado?

Informática do oprimido by  (Âncoras do futuro) (Page 20 - 23)

Isaac Asimov: O cair da noite (Portuguese language, Editora Aleph) No rating

O planeta Lagash está às vésperas da primeira noite de sua história recente. Um grupo …

Por­que as gran­des leis não são adi­vi­nha­das por lam­pe­jos de ins­pi­ra­ção, não im­por­ta o que vo­cê ache. Em ge­ral, é ne­ces­sá­rio o tra­ba­lho con­jun­to de um mun­do cheio de ci­en­tis­tas du­ran­te sé­cu­los.

O cair da noite by  (20%)

Mas e o gênio criativo Asimov? #Acrônica

Karl Marx: Crítica da filosofia do direito de Hegel (Paperback, Portuguese language, 2010, Boitempo) No rating

Com apresentação de Rubens Enderle (tradutor do livro junto com Leonardo de Deus) e notas …

Onde se encontra, então, a possibilidade positiva de emancipação alemã?

Eis a nossa resposta: na formação de uma classe com grilhões radicais, de uma classe da sociedade civil que não seja uma classe da sociedade civil, de um estamento que seja a dissolução de todos os estamentos, de uma esfera que possua um caráter universal mediante seus sofrimentos universais e que não reivindique nenhum direito particular porque contra ela não se comete uma injustiça particular, mas a injustiça por excelência, que já não possa exigir um título histórico, mas apenas o título humano, que não se encontre numa oposição unilateral às consequências, mas numa oposição abrangente aos pressupostos do sistema político alemão; uma esfera, por fim, que não pode se emancipar sem se emancipar de todas as outras esferas da sociedade e, com isso, sem emancipar todas essas esferas – uma esfera que é, numa palavra, a perda total da humanidade e que, portanto, só pode ganhar a si mesma por um reganho total do homem. Tal dissolução da sociedade, como um estamento particular, é o proletariado.

O proletariado começa a se formar na Alemanha como resultado do emergente movimento industrial, pois o que constitui o proletariado não é a pobreza naturalmente existente, mas a pobreza produzida artificialmente, não a massa humana mecanicamente oprimida pelo peso da sociedade, mas a massa que provém da dissolução aguda da sociedade e, acima de tudo, da dissolução da classe média, embora seja evidente que a pobreza natural e a servidão cristão-germânica também engrossaram as fileiras do proletariado.

Quando o proletariado anuncia a dissolução da ordem mundial até então existente, ele apenas revela o mistério de sua própria existência, uma vez que ele é a dissolução fática dessa ordem mundial. Quando o proletariado exige a negação da propriedade privada, ele apenas eleva a princípio da sociedade o que a sociedade elevara a princípio do proletariado, aquilo que nele já está involuntariamente incorporado como resultado negativo da sociedade. Assim, o proletário possui em relação ao mundo que está a surgir o mesmo direito que o rei alemão possui em relação ao mundo já existente, quando este chama o povo de seu povo ou o cavalo de seu cavalo. Declarando o povo como sua propriedade privada, o rei expressa, tão somente, que o proprietário privado é rei.

Assim como a filosofia encontra suas armas materiais no proletariado, o proletariado encontra na filosofia suas armas espirituais, e tão logo o relâmpago do pensamento tenha penetrado profundamente nesse ingênuo solo do povo, a emancipação dos alemães em homens se completará.

Façamos um resumo dos resultados:

A única libertação praticamente possível da Alemanha é a libertação do ponto de vista da teoria que declara o homem como o ser supremo do homem. Na Alemanha, a emancipação da Idade Média só é possível se realizada simultaneamente com a emancipação das superações parciais da Idade Média. Na Alemanha, nenhum tipo de servidão é destruído sem que se destrua todo tipo de servidão. A profunda Alemanha não pode revolucionar sem revolucionar desde os fundamentos. A emancipação do alemão é a emancipação do homem. A cabeça dessa emancipação é a filosofia, o proletariado é seu coração. A filosofia não pode se efetivar sem a suprassunção [Aufhebung] do proletariado, o proletariado não pode se suprassumir sem a efetivação da filosofia.

Quando estiverem realizadas todas as condições internas, o dia da ressurreição alemã será anunciado pelo canto do galo gaulês.

Crítica da filosofia do direito de Hegel by  (Page 162 - 163)

Karl Marx: Crítica da filosofia do direito de Hegel (Paperback, Portuguese language, 2010, Boitempo) No rating

Com apresentação de Rubens Enderle (tradutor do livro junto com Leonardo de Deus) e notas …

As revoluções precisam de um elemento passivo, de uma base material. A teoria só é efetivada num povo na medida em que é a efetivação de suas necessidades. Corresponderá à monstruosa discrepância entre as exigências do pensamento alemão e as respostas da realidade alemã a mesma discrepância da sociedade civil com o Estado e da sociedade civil consigo mesma? Serão as necessidades teóricas imediatamente necessidades práticas? Não basta que o pensamento procure se realizar; a realidade deve compelir a si mesma em direção ao pensamento.

Crítica da filosofia do direito de Hegel by  (Page 158)

Karl Marx: Crítica da filosofia do direito de Hegel (Paperback, Portuguese language, 2010, Boitempo) No rating

Com apresentação de Rubens Enderle (tradutor do livro junto com Leonardo de Deus) e notas …

Sem dúvida, Lutero venceu a servidão por devoção porque pôs no seu lugar a servidão por convicção. Quebrou a fé na autoridade porque restaurou a autoridade da fé. Transformou os padres em leigos, transformando os leigos em padres. Libertou o homem da religiosidade exterior, fazendo da religiosidade o homem interior. Libertou o corpo dos grilhões, prendendo com grilhões o coração.

Mas se o protestantismo não era a verdadeira solução, ele era o modo correto de colocar o problema. Já não se tratava mais da luta do leigo com o padre fora dele, mas da luta contra o seu próprio padre interior, a sua natureza clerical. E se a transformação protestante dos leigos alemães em padres emancipou os papas leigos, os príncipes em conjunto com o clero, os privilegiados e os filisteus, a metamorfose filosófica dos clericais alemães em homens emancipará o povo. Mas, assim como a emancipação não se limita aos príncipes, tampouco a secularização dos bens se restringirá à confiscação da propriedade da Igreja, que foi, sobretudo, praticada pela hipócrita Prússia. Naquele tempo, a Guerra dos Camponeses, o fato mais ra­dical da história alemã, fracassou por culpa da teologia. Hoje, com o fracasso da própria teologia, nosso status quo, o fato menos livre da história alemã, se despedaçará contra a filosofia. Na véspera da Reforma, a Alema­nha oficial era a serva mais incondicional de Roma. Na véspera de sua revolução, ela é a serva incondicional de menos do que Roma: da Prússia e da Áustria, dos aristocratas rurais [Krautjunker] e dos filisteus.

Crítica da filosofia do direito de Hegel by  (Page 158)

Karl Marx: Crítica da filosofia do direito de Hegel (Paperback, Portuguese language, 2010, Boitempo) No rating

Com apresentação de Rubens Enderle (tradutor do livro junto com Leonardo de Deus) e notas …

A arma da crítica não pode, é claro, substituir a crítica da arma, o poder material tem de ser derrubado pelo poder material, mas a teoria também se torna força material quando se apodera das massas. A teoria é capaz de se apoderar das massas tão logo demonstra ad hominem, e demonstra ad hominem tão logo se torna radical. Ser radical é agarrar a coisa pela raiz. Mas a raiz, para o homem, é o próprio homem. A prova evidente do radicalismo da teoria alemã, portanto, de sua energia prática, é o fato de ela partir da superação positiva da religião. A crítica da religião tem seu fim com a doutrina de que o homem é o ser supremo para o homem, portanto, com o imperativo categórico de subverter todas as relações em que o homem é um ser humilhado, escravizado, abandonado, desprezível. Relações que não podem ser mais bem retratadas do que pela exclamação de um francês acerca de um projeto de imposto sobre cães: “Pobres cães! Que­rem vos tratar como homens!”.

Crítica da filosofia do direito de Hegel by  (Page 157)