Miguel Medeiros replied to sol2070's status
@sol2070 Não, essa citação é a da entrevista no capítulo "A relevância do anarcossindicalismo"
This link opens in a pop-up window
37% complete! Miguel Medeiros has read 9 of 24 books.
@sol2070 Não, essa citação é a da entrevista no capítulo "A relevância do anarcossindicalismo"
A doença manifestava-se em uma gama de sensações anômalas. Algumas, conforme ele as detalhava, provocaram meu interesse e minha curiosidade; embora, talvez, o conteúdo e o tom da narrativa tenham contribuído para tal efeito. Sofrera bastante com uma acuidade mórbida dos sentidos. Até mesmo a comida mais insípida lhe era insuportável; só podia usar trajes de uma determinada textura; o odor das flores lhe sufocava; a mais tênue das luzes torturava seus olhos; e os sons, salvo o dos instrumentos de corda, inspiravam-lhe horror.
— Edgar Allan Poe. Medo Clássico by Edgar Allan Poe (Medo Clássico)
Poe descrevendo um emo em 1839
Contemplei o panorama que tinha diante de mim — a casa em si e a paisagem simples ao seu redor, suas paredes soturnas, suas janelas com vãos que pareciam olhos, seus juncos esparsos, seus esbranquiçados troncos de árvores anêmicas — com o espírito conturbado, com uma sensação que não posso comparar a nenhuma outra senão ao despertar que interrompe um sonho de ópio — o amargo regresso à vida cotidiana, o medonho cair do véu. Fui tomado por um frio na alma, uma vertigem, uma náusea profunda — um desânimo mental irredimível, que nenhum estímulo da imaginação poderia instigar ao sublime. Parei para refletir: o quê, o que me perturbava tanto ao contemplar a casa de Usher? Era um mistério inexplicável; sequer conseguia lutar contra os devaneios sombrios que me assolavam ao ponderá-lo. Fui obrigado a me contentar com a conclusão insatisfatória de que embora, sem dúvida, existam combinações de objetos naturais prosaicos capazes de nos afetar dessa forma, não obstante a análise desse poder jaz muito além de nossa compreensão. Era possível, refleti, que tão somente um arranjo diferente dos componentes da cena, dos detalhes da imagem, bastasse para modificar ou, quiçá, anular sua capacidade de gerar uma impressão pesarosa; incentivado por essa ideia, conduzi meu cavalo até a beira íngreme do lago escuro e lúgubre de superfície mortiça, contíguo à casa, e olhei para baixo — tomado por calafrio ainda mais pungente do que o anterior —, deparando-me com as imagens invertidas dos juncos acinzentados, dos arremedos das árvores e das janelas que pareciam olhos vazios.
— Edgar Allan Poe. Medo Clássico by Edgar Allan Poe (Medo Clássico) (Page 54)
É meia-noite. As asas de um corvo se misturam à escuridão. A velha casa em ruínas observa com janelas que …
Você se refere ao Pentágono, conforme geralmente se faz, como uma organização de defesa. Em 1947, quando a Lei de Defesa Nacional foi aprovada, seu autor, o Departamento de Guerra — o departamento americano preocupado com a guerra que, até então, era chamado honestamente de Departamento de Guerra — teve seu nome trocado para Departamento de Defesa. Nessa época eu era um estudante e não me considerava muito sofisticado, mas sabia, e todo mundo sabia, que isto significava que, independente do envolvimento que o exército americano tenha tido no passado com a defesa — e ele parcialmente teve — isso havia acabado: desde que foi denominado Departamento de Defesa, estava claro que seria um departamento de ataque, de agressão, e nada mais. De acordo com o princípio de nunca se acreditar em algo, até que seja negado oficialmente
a ideia do anarquismo é que a delegação de autoridade tem de ser mínima e que os representantes, em qualquer um dos níveis de governo, devem responder diretamente para a comunidade orgânica em que vivem. De fato, a situação ideal seria que a participação em um destes níveis de governo fosse temporária e, mesmo durante o período que estivesse acontecendo, ela deveria consumir somente parte do tempo. Ou seja, os membros de um conselho de trabalhadores que estão, por algum período, encarregados de tomar decisões que outras pessoas não têm tempo de tomar, deveriam continuar a fazer suas tarefas no local de trabalho ou na comunidade aos quais pertence
O anarquista coerente, portanto, deve ser um socialista, mas um socialista de um tipo particular. Ele não se oporá somente ao trabalho alienado e especializado e buscará a apropriação do capital por todo o corpo de trabalhadores, mas irá também insistir para que essa apropriação seja direta, não exercida por alguma força da elite agindo em nome do proletariado. Ele irá, em síntese, se opor à organização da produção pelo governo. Isso significa socialismo de Estado, o comando dos oficiais do Estado sobre a produção e o comando dos gestores, cientistas, oficiais nas fábricas […]. O objetivo da classe trabalhadora é libertar-se da exploração. Esse objetivo não é atingido e não pode ser atingido por uma nova classe de gestores e governantes que substitua a burguesia. Ele é realizado apenas pelos próprios trabalhadores tomando o controle da produção
A civilização e a justiça da ordem burguesa aparecem em todo seu sinistro esplendor onde quer que os escravos e os párias dessa ordem ousem rebelar-se contra seus senhores. Em tais momentos, essa civilização e essa justiça mostram o que são: selvageria sem máscara e vingança sem lei […]. As façanhas infernais da soldadesca refletem o espírito inato dessa civilização da qual é ela o braço vingador e mercenário […]. A burguesia do mundo inteiro, que assiste com complacência a essa matança em massa depois da luta, treme de horror ante a profanação do ladrilho e do tijolo.
Por que os homens são livres? No que consiste a liberdade humana? Como é possível a ação moral? Como um …
O historiador anarquista Rudolf Rocker, que apresenta uma concepção sistemática do desenvolvimento do pensamento anarquista rumo ao anarcossindicalismo, por linhas que levam à similaridade com o trabalho de Guérin, coloca bem o problema quando escreve que o anarquismo não é um sistema social fixo e fechado, mas uma tendência definida no desenvolvimento histórico humano, que, em contraste com a tutela intelectual de todas as instituições governamentais e clericais, luta para o livre desenvolvimento, sem qualquer bloqueio, de todas as forças individuais e sociais da vida. Mesmo a liberdade é apenas um conceito relativo, não absoluto, visto que ela tende, constantemente, a se tornar mais ampla e afetar círculos mais extensos, das mais variadas maneiras. Para o anarquista, a liberdade não é um conceito abstrato e filosófico, mas a possibilidade concreta essencial para todo ser humano desenvolver completamente todas as faculdades, as capacidades e os talentos com os quais a natureza o dotou, e convertê-los em valor social. Quanto menos esse desenvolvimento natural do homem for influenciado pela proteção política ou eclesiástica, mais eficiente e harmoniosa se tornará a personalidade humana, mais ela se tornará a medida da cultura intelectual da sociedade em que foi desenvolvida.
Maior coletânea de Chomsky já publicada sobre o tema, Notas sobre o anarquismo reúne oito entrevistas e dois artigos, nos …
Além do artigo que intitula a presente edição, publicado em 1913, a edição abrange os textos Fatalidade da revolução (sem …
Ora, consideremos um operário, supondo-o um dos mais favorecidos, ganhando relativamente bem, sem jamais ter ficado desempregado ou enfermo; esse operário poderá viver uma vida confortável que deveria ser assegurada a todos aqueles que produzem, satisfazer todas as suas necessidades físicas e intelectuais, enquanto trabalha? Sejamos francos, mal poderá satisfazer um centésimo de suas necessidades, e das mais limitadas; será preciso que ele as reduza ainda mais se quiser economizar alguns centavos para seus dias de velhice. E qualquer que seja sua parcimônia, nunca conseguirá economizar o bastante para viver sem fazer nada. As economias feitas no período produtivo mal chegarão a compensar o déficit que a velhice traz, se não lhe bastam heranças ou qualquer outra renda inesperada que nada tem a ver com o trabalho. Para um desses trabalhadores privilegiados, é preciso quantos miseráveis que não têm o que comer para saciar a fome!? E ainda o desenvolvimento do industrialismo e do equipamento mecânico tendem a aumentar o número de desempregados, a diminuir o número dos operários abastados. * * * Agora, suponhamos que o trabalhador abastado, em vez de continuar a aplicar suas economias em quaisquer valores, ao reunir certa soma, passe trabalhar por conta. Na prática, o operário sozinho quase não existe isoladamente. O pequeno patrão, com dois ou três operários, vive, talvez, um pouco melhor que eles, todavia, perseguido incessantemente pelos prazos, não pode esperar por qualquer melhoria, já se dá por feliz se consegue manter-se em seu bem-estar relativo e evitar a falência. Os altos lucros, as grandes fortunas, a vida nababesca são reservadas aos grandes proprietários, aos grandes acionistas, aos grandes usineiros, aos grandes especuladores que não trabalham mas ocupam os operários às centenas. O que prova que o capital é trabalho acumulado, mas o trabalho dos outros acumulado nas mãos de um único é roubo. De tudo isso conclui-se claramente que a propriedade individual só é acessível àqueles que exploram seus semelhantes. A história da humanidade demonstra-nos que essa forma de propriedade não é a mesma das primeiras associações humanas, que ocorreu apenas muito tarde em sua evolução, quando a família começou a liberar-se da promiscuidade, que a propriedade individual começou a mostrar-se na propriedade comum ao clã, à tribo. Isso em nada provaria sua legitimidade se essa apropriação pudesse ser operada de modo não arbitrário e demonstrar aos burgueses — que quiseram fazer disso um argumento em seu favor, sustentando que a propriedade sempre foi o que é hoje — que esse argumento não tem mais valor aos nossos olhos. * * * De resto, aqueles que vituperam tanto contra os anarquistas, que reivindicam a força para despossuí-los, puseram nisso tantas formas para despossuir a nobreza em 1789 e frustrar os camponeses que se haviam colocado ao trabalho enforcando os hobereaux,3 destruindo os títulos de nobreza, apoderando-se dos bens senhoriais? Os confiscos e as vendas fictícias, ou a preços irrisórios, que eles praticaram tiveram por objetivo despojar os possuidores primordiais, e os camponeses que esperavam sua parte disso, para açambarcar-lhes seu lucro? Não se permitiram isso pelo simples direito da força que eles mascararam e sancionaram por comédias legais? Essa espoliação não foi mais iníqua — admitindo que a que exigimos o seja, o que não é — porquanto não foi feita em proveito da coletividade, e só contribuiu para enriquecer alguns traficantes que se apressaram a fazer a guerra aos camponeses que se haviam lançado ao assalto dos castelos, fuzilando-os e tratando-os de bandoleiros? Os burgueses são, portanto, inoportunos ao gritar roubo quando se quer forçá-los a restituir, pois sua propriedade é apenas o fruto de um roubo.
— O Princípio anarquista e outros ensaios by Peter Kropotkin
Do mesmo modo que a servidão substituiu a escravidão, o salariado substituiu a servidão. A Revolução de 1789 queimou os velhos títulos de propriedade feudais, os camponeses enforcaram alguns senhores, os burgueses guilhotinaram alguns outros, a propriedade mudou de mãos, a supremacia da propriedade feudal passou às mãos do capital, o assalariado substituiu o servo; nominativamente, o trabalhador tornou-se livre, tudo o que há de mais livre! Completamente liberto dos laços que o prendiam à terra, pode transportar-se de um país a outro, se tem os meios de pagar às companhias ferroviárias — que cobram uma tarifa enorme no transporte de passageiros — ou se tem do que se alimentar durante o tempo que durar sua viagem, se resolver fazê-la a pé. Tem o direito de residir em qualquer apartamento, desde que pague ao proprietário do imóvel; tem o direito de trabalhar em qualquer lugar, sob a condição de que o industrial, que açambarcou as ferramentas de trabalho do ramo industrial que ele escolheu, queira empregá-lo; não está obrigado a nenhuma servidão em relação àqueles que o empregam; sua mulher já não é obrigada a suportar os caprichos do senhor; a própria lei o proclama igual ao bilionário; mais ainda, pode tomar parte na elaboração das leis — pelo direito de escolher aqueles que devem produzi-las — tanto quanto os privilegiados; não é esse, portanto, o ideal de seus sonhos? O que lhe falta, então, para estar no ápice de suas aspirações? Deve-se crer que não, pois se reconhece que o salariado é tão-somente a transformação atenuada da escravidão e pede-se sua abolição. É que todos esses direitos são apenas nominativos e que, para servir-se deles, é preciso possuir o poder político que permite viver à custa daqueles que vos suportam, ou possuir esse motor universal, o dinheiro, que liberta de tudo. O capitalista não pode mais matar o trabalhador mas pode deixá-lo morrer de fome ao não empregá-lo; ele não pode mais tomar à força a operária que lhe resiste, mas pode muito bem corrompê-la fazendo brilhar diante de seus olhos o luxo, o bem-estar que um salário incerto não pode lhe dar.
— O Princípio anarquista e outros ensaios by Peter Kropotkin
Não se pode ser egoísta sem fazer mal a alguém ou a todos. A razão disso é que o homem é um ser essencialmente sociável; que sua vida se compõe de fios inumeráveis que se continuam visível e invisivelmente na vida dos outros; que, enfim, ele não é um ser inteiro, mas uma parte integrante da humanidade. Não há linha de demarcação entre um homem e outro, nem entre o indivíduo e a sociedade: não há meu e teu moral, assim como não há teu e meu econômico
— O Princípio anarquista e outros ensaios by Peter Kropotkin