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Miguel Medeiros

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"Este mundo grande cansa-me à exaustão o pequeno corpo.". — Pórcia

Sou um leigo que se entrega à filosofia, literatura, história e ciência. Leitor de Philip K. Dick a Platão, ouvinte de Arctic Monkeys a John Coltrane, jogador de Red Dead Redemption a Deus Ex.

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G. W. F. Hegel: Fenomenologia do espírito (Paperback, Editora Vozes) No rating

Esta tradução da Fenomenologia do espírito foi publicada pela Vozes em 1992 em dois volumes …

73 [Es ist eine) Segundo uma representação natural, a filosofia, antes de abordar a Coisa mesma ou seja, o conhecimento efetivo do que é, em verdade, necessita primeiro pôr-se de acordo sobre o conhecer, o qual se considera ou um instrumento com que se domina o absoluto, ou um meio através do qual o absoluto é contemplado.

Parece correto esse cuidado, pois há, possivelmente, diversos tipos de conhecimento. Alguns poderiam ser mais idôneos que outros para a obtenção do fim último, e por isso seria possível uma falsa escolha entre eles. Há também outro motivo: sendo o conhecer uma faculdade de espécie e de âmbito determinados, sem uma determinação mais exata de sua natureza e de seus limites, há o risco de alcançar as nuvens do erro em lugar do céu da verdade.

Ora, esse cuidado chega até a transformar-se na convicção de que constitui um contrassenso, em seu conceito, todo empreendimento visando conquistar para a consciência o que é em si, mediante o conhecer; e que entre o conhecer e o absoluto passa uma nítida linha divisória. Pois, se o conhecer é o instrumento para apoderar-se da essência absoluta, logo se suspeita que a aplicação de um instrumento não deixe a Coisa tal como é para si, mas com ele traga conformação e alteração. Ou então o conhecimento não é instrumento de nossa atividade, mas de certa maneira um meio passivo, através do qual a luz da verdade chega até nós; nesse caso também não recebemos a verdade como é em si, mas como é nesse meio e através dele.

Nos dois casos, usamos um meio que produz imediatamente o contrário de seu fim; melhor dito, o contrassenso está antes em recorrermos em geral a um meio. Sem dúvida, parece possível remediar esse inconveniente pelo conhecimento do modo-de-atuação do instrumento, o que permitiria descontar no resultado a contribuição do instrumento para a representação do absoluto que por meio dele fazemos; obtendo assim o verdadeiro em sua pureza. Só que essa correção nos levaria, de fato, aonde antes estávamos. Ao retirar novamente, de uma coisa elaborada, o que o instrumento operou nela, então essa coisa no caso o absoluto fica para nós exatamente como era antes desse esforço; que, portanto, foi inútil. Se através do instrumento o absoluto tivesse apenas de achegar-se a nós, como o passarinho na visgueira, sem que nada nele mudasse, ele zombaria desse artifício, seja não estivesse e não quisesse estar perto de nós em si e para si. Pois, nesse caso o conhecimento seria um artifício, porque, com seu atarefar-se complexo, daria a impressão de produzir algo totalmente diverso do que só a relação imediata relação que por isso não exige esforço. Por outra: se o exame do conhecer aqui representado como um meio faz-nos conhecer a lei da refração de seus raios, de nada ainda nos serviria descontar a refração no resultado. Com efeito, o conhecer não é o desvio do raio: é o próprio raio, através do qual a verdade nos toca. Ao subtraí-lo, só nos restaria a pura direção ou o lugar vazio.

Fenomenologia do espírito by  (Page 69 - 70)

Ralf Ludwig: Fenomenologia do espírito (Portuguese language, Editora Vozes) No rating

A obra mais famosa de Hegel foi a Fenomenologia do espírito, publicada no ano de …

Mas o leitor que tem algum conhecimento da metafísica tradicional ou de outros projetos de filosofia ficará atônito: Aquilo que “é” para os sentidos, o ser, o que se constitui na meta derradeira para outros filósofos, o ser, que se deseja ver cair nas cordas, em Hegel, encontra-se logo no começo! No pensamento de Hegel, o fato de que algo “é”, isso não é o supremo, mas o ínfimo que se pode ver de uma coisa. O objeto é, sem sombras de dúvida, realidade, não poderia ser percebido se não fosse.

Quando Hegel o rotula provisoriamente como puro ser, o mais puro conhecimento, verdade e essência, não vamos nos deixar enganar com isso, pois logo virá uma guinada nessa abordagem.

Fenomenologia do espírito by  (Page 47 - 48)

commented on O Senhor dos Anéis by J. R. R. Tolkien

J. R. R. Tolkien: O Senhor dos Anéis (Portuguese language, HarperCollins)

Conheça a edição de O Senhor dos Anéis mais completa já produzida no Brasil! Aqui, …

A trilogia "O Senhor dos Anéis" eram uns dos meus filmes favoritos da infância mas até então nunca tinha lido os livros. Está sendo uma experiencia interessante, tem muito tempo que não assisto aos filmes então ainda é uma leitura surpreendente. É interessante ver o tom mais melancólico em relação ao "O Hobbit", a expansão desse mundo, os acontecimentos que não aparecem nos filmes, os poemas, as ilustrações, as descrições magistrais do Tolkien tanto de seu mundo quando de seus personagens.

É muito bom voltar a algo da infância mas que ao mesmo tempo é algo "novo".

Vladimir Ilich Lenin: Imperialismo, estágio superior do capitalismo (Portuguese language, 2021, Boitempo Editorial) No rating

Escrita um ano antes da Revolução de Outubro e publicada no calor das jornadas revolucionárias …

As associações monopolistas de capitalistas – cartéis, sindicatos, trustes – partilham entre si, em primeiro lugar, o mercado interno, apoderando-se mais ou menos completamente da produção do país. Mas o mercado interno, no capitalismo, está inevitavelmente ligado ao externo. O capitalismo, há muito, criou um mercado mundial. E à medida que a exportação de capital foi crescendo e as relações com o estrangeiro e com as colônias, bem como as “esferas de influência” das maiores associações monopolistas, foram se expandindo, em todos os sentidos, o caso “naturalmente” foi se aproximando de um acordo mundial entre elas, da constituição de cartéis internacionais. Trata-se de um novo patamar de concentração mundial de capital e de produção, mas incomparavelmente mais elevado que os anteriores. Vejamos como surge esse supermonopólio. A indústria elétrica é a mais típica para os últimos progressos da técnica, para o capitalismo de fins do século XIX e princípios do século XX. E ­desenvolveu-se, acima de tudo, nos dois mais avançados, os Estados Unidos e a Alemanha. Na Alemanha, a crise de 1900 contribuiu particularmente para a concentração desse setor da indústria. Durante essa crise, os bancos, que na época já se encontravam bastante ligados à indústria, aceleraram e aprofundaram no mais alto grau o perecimento das empresas relativamente pequenas, a absorção destas pelas grandes. “Os bancos”, diz Jeidels, “retiraram a mão de apoio justamente daquelas empresas que mais tinham necessidade dela, provocando com isso, a princípio, uma ascensão vertiginosa, e depois a falência irremediável das sociedades que não estavam suficientemente ligadas a eles.”[1] Como resultado, depois de 1900, a concentração avançou a passos de gigante. Até 1900 existiam sete ou oito “grupos” na indústria elétrica; cada um era composto por várias sociedades (no total havia 28) e atrás de cada um havia de dois a onze bancos. Por volta de 1908-1912, todos esses grupos se fundiram em um ou dois.

Imperialismo, estágio superior do capitalismo by  (Arsenal Lênin) (Page 91)

Vladimir Ilich Lenin: Imperialismo, estágio superior do capitalismo (Portuguese language, 2021, Boitempo Editorial) No rating

Escrita um ano antes da Revolução de Outubro e publicada no calor das jornadas revolucionárias …

Há de se dedicar uma atenção primordial ao “sistema de participação”, do qual já falamos sucintamente. Eis como descreve a essência do assunto o economista alemão Heymann, que foi um dos primeiros, se não o primeiro, a prestar-lhe atenção: O dirigente controla a sociedade fundamental [literalmente, a “sociedade-mãe”]; esta, por sua vez, exerce o domínio sobre as sociedades que dependem dela (“sociedades-filhas”); estas últimas, sobre as “sociedades-netas” etc. É possível, desse modo, sem possuir um capital muito grande, dominar ramos gigantescos da produção. Com efeito, se a posse de 50% do capital é sempre suficiente para controlar uma sociedade anônima, basta que o dirigente possua apenas 1 milhão para estar em condições de controlar 8 milhões do capital das “­sociedades-netas”. E se esse “entrelaçamento” vai ainda mais longe, com 1 milhão é possível controlar 16 milhões, 32 milhões etc.[3] Na verdade, a experiência demonstra que basta possuir 40% das ações para dirigir os negócios de uma sociedade por ações[4], pois uma determinada parte dos pequenos acionistas dispersos não tem na prática possibilidade alguma de assistir às assembleias gerais etc. A “democratização” da posse das ações, da qual os sofistas burgueses e os oportunistas “sociais-democratas” esperam (ou dizem que esperam) a “democratização do capital”, o aumento do papel e da importância da pequena produção etc., é na realidade um dos modos de fortalecer o poder da oligarquia financeira. Por isso, entre outras coisas, nos países capitalistas mais adiantados ou mais antigos e “experientes”, as leis autorizam a emissão de ações menores. Na Alemanha, a lei não permite ações inferiores ao total de mil marcos, e os magnatas das finanças alemães olham com inveja para a Inglaterra, onde a lei permite ações até de 1 libra esterlina (= 20 marcos, cerca de 10 rublos). Siemens, um dos grandes industriais e um dos “reis financistas” da Alemanha, declarou em 7 de junho de 1900, no Reichstag, que “a ação de 1 libra esterlina é a base do imperialismo britânico”[5]. Esse negociante tem uma concepção notavelmente mais profunda, mais “marxista” do que é o imperialismo do que certo escritor indecente que se considera fundador do marxismo russo[a] e supõe que o imperialismo é da natureza ruim de um determinado povo…

Imperialismo, estágio superior do capitalismo by  (Arsenal Lênin) (Page 70 - 71)

Vladimir Ilich Lenin: Imperialismo, estágio superior do capitalismo (Portuguese language, 2021, Boitempo Editorial) No rating

Escrita um ano antes da Revolução de Outubro e publicada no calor das jornadas revolucionárias …

A operação fundamental e original dos bancos é a intermediação nos pagamentos. Nesse sentido, os bancos convertem o capital monetário inativo em ativo, isto é, em capital que rende lucro, coletam todo e qualquer tipo de rendimentos monetários e colocam-nos à disposição da classe dos capitalistas. Com o desenvolvimento da atividade bancária e a sua concentração em poucos estabelecimentos, os bancos se alçam, de modestos intermediários, a monopolistas onipotentes, que dispõem de quase todo o capital monetário do conjunto dos capitalistas e pequenos proprietários, bem como da maior parte dos meios de produção e das fontes de matérias-primas de um dado país ou de uma série de países. Essa transformação de numerosos modestos intermediários em um punhado de monopolistas constitui um dos processos fundamentais da escalada do capitalismo a imperialismo capitalista e, por isso, devemos nos deter, em primeiro lugar, na concentração da atividade bancária.

Imperialismo, estágio superior do capitalismo by  (Arsenal Lênin) (Page 51)

Vladimir Ilich Lenin: Imperialismo, estágio superior do capitalismo (Portuguese language, 2021, Boitempo Editorial) No rating

Escrita um ano antes da Revolução de Outubro e publicada no calor das jornadas revolucionárias …

convém dar uma definição do imperialismo que inclua os cinco traços fundamentais seguintes: 1) a concentração da produção e do capital elevada a um patamar tão elevado de desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um papel decisivo na vida econômica; 2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação, baseada nesse “capital financeiro”, da oligarquia financeira; 3) a exportação de capital, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire um significado particularmente importante; 4) a formação de associações internacionais monopolistas de capitalistas, que dividem o mundo entre si, e 5) o término da partilha territorial do mundo entre as grandes potências capitalistas. O imperialismo é o capitalismo no estágio de desenvolvimento em que se formou a dominação dos monopólios e do capital financeiro, adquiriu marcada importância a exportação de capital, deu-se início à partilha do mundo pelos trustes internacionais e terminou a partilha de toda a Terra entre os grandes países capitalistas.

Imperialismo, estágio superior do capitalismo by  (Arsenal Lênin) (Page 114)

Vladimir Ilich Lenin: Imperialismo, estágio superior do capitalismo (Portuguese language, 2021, Boitempo Editorial) No rating

Escrita um ano antes da Revolução de Outubro e publicada no calor das jornadas revolucionárias …

Para o antigo capitalismo, com o pleno domínio da livre concorrência, era típica a exportação de mercadorias. Para o capitalismo mais recente, com o domínio do monopólio, tornou-se típica a exportação de capital. O capitalismo é a produção de mercadorias em um patamar superior de seu desenvolvimento, quando também a força de trabalho se transforma em mercadoria. O crescimento da troca, tanto no interior de um país como, sobretudo, no campo internacional, é uma característica distintiva do capitalismo. Desigualdade e saltos no desenvolvimento das diferentes empresas, dos distintos setores da indústria, dos diferentes países são inevitáveis sob o capitalismo. Primeiramente, a Inglaterra se tornou, antes dos outros, um país capitalista, e em meados do século XIX, ao implantar o livre comércio, pleiteou o papel de “oficina de todo o mundo”, o fornecedor de artigos ­manufaturados para todos os países, que em troca deveriam fornecer-lhe as matérias-primas. Mas esse monopólio da Inglaterra perdeu força já no último quartel do século XIX, pois alguns outros países, defendendo-se por meio de direitos alfandegários “protecionistas”, haviam se desenvolvido em Estados capitalistas independentes. No limiar do século XX assistimos à formação de monopólios de outro tipo: primeiro, uniões monopolistas de capitalistas em todos os países de capitalismo desenvolvido; segundo, situação monopolista de uns poucos países riquíssimos, nos quais a acumulação do capital alcançou proporções gigantescas. Constituiu-se um enorme “excedente de capital” nos países avançados. É evidente que se o capitalismo tivesse sido capaz de desenvolver a agricultura, que agora se encontra em toda parte terrivelmente atrasada em relação à indústria, se tivesse sido capaz de elevar o nível de vida das massas da população, a qual permanece, apesar do vertiginoso progresso da técnica, em uma vida de subalimentação e miséria, não haveria motivo para se falar de um excedente de capital. E tal “argumento” é constantemente apresentado pelos críticos pequeno-burgueses do capitalismo. Mas então o capitalismo deixaria de ser capitalismo, pois a desigualdade no desenvolvimento e o nível de subalimentação das massas são as condições e as premissas basilares, inevitáveis, desse modo de produção. Enquanto o capitalismo permanecer capitalismo, o excedente de capital dirige-se não à elevação do nível de vida das massas de um dado país, pois isso significaria a diminuição dos lucros dos capitalistas, mas ao aumento desses lucros por meio da exportação de capital para o estrangeiro, para os países atrasados. Nesses países atrasados, o lucro é em geral elevado, pois os capitais são escassos, o preço da terra e os salários são relativamente baixos e as matérias-primas são baratas. A possibilidade da exportação de capital é criada pelo fato de uma série de paí­ses atrasados ter sido já incorporada na circulação do capitalismo mundial, terem sido construídas as principais ferrovias, ou iniciada a sua construção, terem sido asseguradas as condições elementares para o desenvolvimento da indústria etc. A necessidade da exportação de capital obedece ao fato de que, em alguns países, o capitalismo “amadureceu demais”, e o capital (nas condições do insuficiente desenvolvimento da agricultura e da miséria das massas) carece de campo para a sua colocação “lucrativa”.

Imperialismo, estágio superior do capitalismo by  (Arsenal Lênin) (Page 85 - 86)

Vladimir Ilich Lenin: Imperialismo, estágio superior do capitalismo (Portuguese language, 2021, Boitempo Editorial) No rating

Escrita um ano antes da Revolução de Outubro e publicada no calor das jornadas revolucionárias …

O capitalismo em geral é caracterizado por separar a propriedade do capital da aplicação do capital à produção, separar o capital monetário do industrial ou produtivo, separar o rentista, que vive apenas dos rendimentos provenientes do capital monetário, do empresário e de todas as pessoas que participam diretamente da gestão do capital. O imperialismo, ou o domínio do capital financeiro, é um patamar superior do capitalismo em que essa separação adquire proporções imensas. O predomínio do capital financeiro sobre todas as demais formas do capital denota uma posição dominante do rentista e da oligarquia financeira, significa o destacamento de poucos Estados detentores de “potência” financeira em relação a todos os demais. Em que dimensões esse processo se dá, é possível julgar a partir dos dados estatísticos das emissões, ou seja, a saída de todos os tipos de títulos.

Imperialismo, estágio superior do capitalismo by  (Arsenal Lênin) (Page 81)

Vladimir Ilich Lenin: Imperialismo, estágio superior do capitalismo (Portuguese language, 2021, Boitempo Editorial) No rating

Escrita um ano antes da Revolução de Outubro e publicada no calor das jornadas revolucionárias …

De todo modo, o livro foi publicado somente no ano seguinte, após a tomada do poder pelos bolcheviques. Mas no prefácio às edições francesa e alemã, escrito em julho de 1920, Lênin, já como líder da primeira revolução proletária da história, não poupa a turba que passou a considerar inimiga do socialismo: Neste livro, damos especial atenção à crítica do “kautskismo”, essa corrente ideo­lógica internacional que em todos os países do mundo era representada pelos “teóricos mais eminentes”, chefes da Segunda Internacional (Otto Bauer e cia. na Áustria, Ramsay MacDonald e outros na Inglaterra, Albert Thomas na França etc. etc.) e um número infinito de socialistas, reformistas, pacifistas, democratas burgueses e clérigos.[16] O livro possui dez capítulos relativamente curtos, nos quais vão sendo destrinchados aspectos do funcionamento do capitalismo em seu novo estágio. Aqui não cabe uma análise detalhada das questões levantadas em cada um; apenas alguns pontos que considero indispensáveis serão tratados. Em primeiro lugar, para Lênin, o imperialismo é um estágio específico do modo de produção capitalista, resultado de uma mudança substancial na sua estrutura organizacional; o estágio do capitalismo monopolista. Iniciado no último quartel do século XIX, o imperialismo se apresenta como consequência das tendências intrínsecas do processo de acumulação de capital – em que prevalecem a sua concentração e centralização – e das contradições que surgem da luta de classes no capitalismo, como analisou Marx. Portanto, o imperialismo é algo novo, não se confunde com os impérios antigos. No capítulo VII, Lênin apresenta sua definição: “Se fosse indispensável dar uma definição o mais breve possível do imperialismo, seria preciso dizer que o imperialismo é o estágio monopolista do capitalismo”[17]. Nesse estágio específico, seguindo o rastro de Hilferding, Lênin reconhece o capital financeiro como a força central do imperialismo. É justamente na esfera financeira que ocorre uma mudança de qualidade no sistema: ao contrário do estágio anterior, em que prevalecia o capital industrial, o impulso econômico do imperialismo está no capital financeiro. Em segundo lugar, no estágio imperialista, a exportação de capital ganha proeminência. A característica do “velho” capitalismo, em que predominava a livre concorrência, é a exportação de mercadorias. O “novo” capitalismo, em que imperam os monopólios, é caracterizado pela exportação de capital. A exportação de capital acentua a internacionalização econômica e, com isso, a competição entre os Estados-nação. Em terceiro lugar, a questão da possibilidade de organização do capitalismo que evitasse a eclosão de guerras. Essa é uma das principais questões do livro. Além do prefácio da obra de Bukhárin que mencionei anteriormente, Lênin já havia discutido isso em outras oportunidades[18]. Em oposição a Kautsky, ele demonstra que os conflitos internacionais são inerentes ao funcionamento do capitalismo, embora em algumas situações possa predominar a cooperação. A exportação de capital tende a promover o crescimento econômico nos países receptores. Assim, a estabilidade do sistema é impossível, pois o desenvolvimento desigual provoca mudanças na correlação de forças entre as nações, com a tendência de erosão do poder do centro em relação a novos núcleos de poder com maior dinamismo econômico. Nesse caso, diferentemente do que se convencionou entender com base na chamada teoria da dependência, existe a tendência estrutural de que os países mais desenvolvidos tenham uma taxa de crescimento econômico menor em relação aos países menos desenvolvidos, no próprio centro capitalista ou na periferia do sistema[19]. A expansão do capital não requer necessariamente a conflagração de guerras, porém estas não podem ser descartadas, de tal modo que as atividades ligadas ao setor armamentista adquirem uma posição privilegiada nas economias nacionais. A existência de inimigos externos – mesmo inventados – que justifiquem as encomendas militares faz parte do jogo das grandes potências. Além disso, o clima de belicismo permanente beneficia também setores da economia que não estão ligados diretamente à indústria bélica, algo a que Kautsky parece não ter dado tanta importância. Em quarto lugar, vale lembrar que a contribuição teórica de Lênin para o estudo do desenvolvimento do capitalismo no mundo já se encontrava em dois textos, “O chamado problema dos mercados”, de 1893, e “Para caracterizar o romantismo econômico”, de 1897, além da obra clássica “O desenvolvimento do capitalismo na Rússia”, de 1899[20]. Nesses trabalhos, Lênin, ainda jovem, explica que o capital é progressivo e que o objetivo final dos investimentos é a valorização do capital, e não o consumo que está subordinado ao processo de acumulação. A busca por mercados externos não é decorrência das dificuldades de realização do mais-valor, como defendiam Rosa Luxemburgo e os populistas russos[21]. O imperialismo também não é uma consequência da queda da taxa de lucro. O capital é progressivo: não precisa “esperar” pela queda da taxa de lucro para buscar mercados externos nem qualquer outra contratendência que se queira considerar. Não há limite estrutural que leve à estagnação da economia. Sendo progressivo, os limites do capital só se encontram em si mesmo[22]. Por fim, um dos principais elementos que contribuiu para que o livro obtivesse um sucesso incomparável com outras obras lançadas na época sobre o mesmo tema está relacionado à ênfase de Lênin na questão da opressão nacional. Diz ele: “Intensifica-se também particularmente a opressão nacional e a tendência a anexações, ou seja, à violação da independência nacional”[23]. Além da luta de classes, o movimento revolucionário deveria atentar para a luta pela descolonização. Lênin, que enfrentou o tsarismo russo, o governo mais reacionário da Europa, encontrou na opressão nacional um fator potencial para a revolução proletária, vinculando a luta de classes à luta anti-imperialista de libertação nacional. Não foi por acaso que grande parte dos movimentos de independência nacional se identificou com o comunismo e com a luta anti-imperialista, especialmente após 1945, quando ocorreu o desmantelamento dos antigos impérios coloniais[24]. É sempre bom lembrar que a revolução chinesa de 1949, a maior revolução anticolonial da história, foi liderada por um partido comunista fortemente influenciado pelas ideias de Lênin.

Imperialismo, estágio superior do capitalismo by  (Arsenal Lênin) (Page 15 - 17)