Explicação das categorias verbais
Gênero (PC) – Refere-se aos participantes no acontecimento comunicado e daí adquire capacidade qualificadora. Em geral, não necessita marca especial. No português, aparece apenas na voz passiva (o livro foi escrito / a novela foi escrita). Já no latim, é um morfema típico do particípio; também se manifestava em construções com objeto direto no português até entre os séculos XVII e XVIII, quando desapareceu definitivamente (“[Inês de Castro] tem pisada a areia ardente, Camões). Vigora ainda hoje no francês e no italiano (je l’ai écrite [la lettre], l’ho scritta).
Número (PC) – Refere-se aos participantes no acontecimento comunicado e daí adquire capacidade quantificadora. No português e demais línguas românicas, está sempre ligada à pessoa no verbo flexionado ou finito e, em parte, também na forma verbal infinita (port. o dizê-lo eu, esp. el decirlo yo –
“o fato de que eu o diga”). Aparece sem pessoa apenas em uma forma infinita, novamente o particípio (visto – vistos).
Pessoa (PC/PF) – Determina a relação dos participantes no acontecimento comunicado com os participantes no ato de fala. Primeira pessoa: coincidência do participante no acontecimento comunicado (PC) com o falante (só em parte também, quando se trata do plural); segunda pessoa:
coincidência PC com o ouvinte; terceira pessoa: PC não coincide com nenhuma das duas pessoas.
Estado (AC) – Afeta a qualidade lógica do sucesso comunicado (afirmativo, negativo, interrogativo, negativo-interrogativo). No português e demais línguas românicas, o estado é mais uma qualidade da oração; mas, às vezes, exige também uma forma verbal especial no âmbito da sintaxe (inversão), ou também no âmbito da morfologia (imperativo – imperativo negado: canta / não cantes; gerúndio – gerúndio negado; particípio – particípio negado).
Aspecto (AC) – Segundo Jakobson, assinala a ação levada até o fim, isto é, como conclusa (perfeita) ou inconclusa (imperfeita). Certas espécies de ação, como durativa, incoativa (ingressiva), terminativa, iterativa, etc., são apenas subdivisões desta categoria.
Tempo ou nível temporal (AC/AF) – Assinala a relação temporal do acontecimento comunicado com o momento do ato de fala; o presente encerra este momento, o passado é anterior, e o futuro ocorrerá depois deste momento:
Voz ou diátese (PC/AC) – Determina a relação entre o acontecimento comunicado e seus participantes. O primeiro participante lógico, o sujeito, pode ser agente do acontecimento (voz ativa) ou objeto do acontecer (voz passiva), ou agente e objeto ao mesmo tempo (voz média, incluído o reflexivo):
Modo (PC/AC/PF) – Assinala a posição do falante com respeito à relação entre a ação verbal e seu agente ou fim, isto é, o que o falante pensa dessa relação. O falante pode considerar a ação como algo feito, como verossímil – como um fato incerto –, como condicionada, como desejada pelo agente,
como um ato que se exige do agente, etc., e assim se originam os modos: indicativo, subjuntivo, condicional, optativo, imperativo.
Taxis (AC/AC) – Assinala a posição de um acontecimento em relação com outro sem consideração do ato de fala. Nas línguas românicas é encontrada em certas construções impessoais com o gerúndio, com o infinitivo ou com o particípio (comer cantando, comer depois de ter cantado, etc.). Não se trata
aqui de níveis temporais, mas de simples série de ações, já que o infinitivo não encerra relação com o ato de fala.
Evidência (AC/ACF/AF) – Assinala que o falante se refere a outro ato de fala – a uma informação indireta – por meio do qual ele experimenta o acontecimento como não vivido por ele mesmo (Pedro deve ter falado com João). No português e demais línguas românicas, é muito empregado nestes casos o modus conditionalis (teria partido = eu não o asseguro, ouvi de outra pessoa) e às vezes o futuro (serão duas horas).