– Com certeza. Existe certo fascínio em ficar assustado quando faz parte de um jogo. Um bebê nasce com três medos instintivos: de barulhos altos, de quedas e da ausência de luz. Por isso acham tão divertido pular e gritar “bu!” para assustar alguém. É por isso que é tão divertido andar de montanha-russa. E foi por isso que esse Túnel do Mistério começou a dar dinheiro. As pessoas saíam daquela Escuridão trêmulas, ofegantes, meio mortas de medo, mas continuavam pagando para entrar.
– Espere um pouco, eu me lembro agora. Algumas pessoas saíram mortas, não foi? Houve boatos sobre isso depois que fecharam.
– Ora bolas! – bufou o psicólogo. – Duas ou três morreram. Isso não foi nada! Eles subornaram as famílias dos mortos e convenceram o Conselho da cidade de Jonglor a esquecer. Afinal de contas, disseram, se as pessoas com coração fraco querem entrar no túnel, é por conta e risco delas e, além do mais, não aconteceria de novo. Então colocaram um médico na recepção e fizeram todos os clientes passarem por um exame físico antes de entrar no carro. Isso na verdade aumentou a venda de entradas.
– Bem, e daí?
– Veja bem, tinha outra coisa. As pessoas às vezes saíam em boas condições, a não ser pelo fato de que se recusavam a entrar em locais cobertos... qualquer tipo de lugar coberto, inclusive palácios, mansões, apartamentos, cortiços, casas de campo, cabanas, choças, alpendres e tendas.
Theremon pareceu chocado.
– Quer dizer que elas se recusavam a sair do espaço aberto? Onde dormiam?
– Ao ar livre.
– Deviam ter sido forçadas a entrar.
– Ah, elas foram, elas foram. Diante disso, essas pessoas entravam em uma crise histérica violenta e faziam o melhor que podiam para bater a cabeça contra a parede mais próxima. Quando alguém obrigava essas pessoas a entrar em algum lugar, não conseguia segurá-las lá sem uma camisa de força ou uma dose pesada de tranquilizante.
– Deviam estar loucas.
– É exatamente isso. Uma em cada dez pessoas que entravam no túnel saía desse jeito. Chamaram os psicólogos e fizemos a única coisa que era possível. Fechamos a exibição. – Ele fez um gesto largo com as mãos.
– Qual era o problema com essas pessoas?
– Essencialmente, o mesmo problema que havia com você quando achou que as paredes da sala estavam se fechando sobre você no escuro. Existe um termo psicológico para o medo instintivo da ausência de luz que o ser humano sente. Chamamos isso de “claustrofobia” porque a ausência de luz sempre está relacionada a lugares fechados, de forma que o medo de uma coisa é o medo de outra. Entende