Black era rico demais, poderoso demais — além de generoso e popular demais —, para que não ficassem de olhos abertos. A administração dos Estados Unidos fez várias tentativas de assumir o controle das operações de Black (usando falsos argumentos de interesse nacional) ou, pelo menos, fragmentar seu império. Foi estabelecido um valor para a desapropriação; a ideia era militarizar as empresas de Black.
Entretanto, Black passou a investir apenas em aplicações não militares, que, obviamente, nada tinham a ver com a segurança nacional. De repente, a empresa voltou sua atenção para pessoas com deficiência: fazer mudos falarem e paralíticos andarem. No momento, havia pessoas vendo, ouvindo, andando, correndo, nadando e até praticando malabarismo, graças a próteses, órteses, implantes e outros produtos criados pela Black Corporation e suas subsidiárias. Com esse tipo de currículo, Black podia argumentar que a perseguição do governo não atendia ao interesse nacional; suas ações eram anticapitalistas — ou, falando bem baixinho para ninguém ouvir, socialistas.
(…)
Black se tornou mais que um herói.
Apesar de tudo isso, o nome de Douglas Black era malvisto por diversos integrantes do grupo nas salas de bate-papo.
Nelson tinha procurado em vão razões plausíveis para isso. Não era como se muitos que se referiam a Black com palavras carregadas de ódio tivessem alguma queixa pessoal contra ele: ninguém, por exemplo, tinha trabalhado em uma das empresas que foram à falência e teve sua carreira destruída pela ascensão de Black. Parecia que o pior que podia ser dito a respeito de Black era que ele era um workaholic, que trabalhava muito e esperava que seus funcionários trabalhassem tanto quanto ele. Talvez isso tivesse pesado contra ele.