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Yuri Bravos

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Cavalo doido cavalo de pau

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François Mauriac: Le Noeud de Viperes (Paperback, French language, Librairie Generale Francaise) 4 stars

Pensar o pior dos outros é sempre uma denúncia de nós mesmos

4 stars

É um belo livro para ver o mal que nos fazemos quando sempre esperamos o pior dos outros e criamos em nossas mentes motivos funestos para todas as ações. Como nos faz mal quando, sem conversar francamente com os outros, nos apressamos a julgar cada passo.

Pensar o pior dos outros é sempre uma denúncia de nós mesmos. O Nó de Víboras é uma história sobre isso.

@sol2070 verdades hahaha mas não é só no solarpunk, em qualquer punk a maioria das pessoas não entendem o que o punk quer comunicar, entendem que apenas é uma estética meio "suja", meio "rebelde".

Por isso que ressaltei mais ali em cima que o solarpunk me pegou quando compreendi que o punk da coisa estava voltada ao reúso e ao direito de consertar. Duas coisas muito palpáveis para hoje e que nós somos impedidos, seja pela produção que nunca pode deixar de crescer, seja por ser um direito negado mesmo, via obsolescência programada.

E, realmente, essa parte do solarpunk tende a ser relegada ao último plano.

@sol2070 de fato hahaha o solarpunk me chamou atenção quando captei que a maior proposta dele com tecnologia é o conserto, o reuso e não-descarte. Pq literalmente é algo que podemos fazer hoje e podemos ainda fazer bem (logo mais quando só as IAs souberem fazer coisas, talvez percamos de vez a capacidade de fazer bem).

Foi quando entendi o apelo de investigar outras formas de fazer para poder se dar conta que são aplicáveis hoje. Entra muito aí a cosmovisão dos povos tradicionais que conseguem enxergar possibilidades que para nós são muitas vezes invisíveis. O Ailton Krenak fala como a micropolítica é também um caminho de mudança: em cada um que abre um piso de cimento para plantar um jardim.

Talvez comece num nível "mero", mas se não começar por algum lugar, nunca chegará em efetiva mudança.

@sol2070 sobre uma possibilidade de ficção mais otimista, acho que todo o momento solarpunk precisa ser encarado como formas de sonhar hoje o amanhã que queremos. Um tipo de investigação hipotética de novas formas de fazer as coisas. Acho que tem o seu valor ao lado das distopias!

Não deixam de ser duas formas de chacoalhar as pessoas, uma pelo choque da bruteza, outra por um vislumbre de possibilidades.

François Mauriac: Le Noeud de Viperes (Paperback, French language, Librairie Generale Francaise) 4 stars

Voilà ce qui me reste : ce que j'ai gagné, au long de ces années affreuses, cet argent dont vous avez la folie de vouloir que je me dépouille.

Le Noeud de Viperes by  (31%)

Está sendo mais cansativo que imaginei ler o original em francês, mas o livro é magistralmente escrito. É possível sentir as ondas de raiva e rancor que o personagem sente. E todo o problema está radicado aquí nesse trecho: tudo que ele tinha era o dinheiro que havia ganho. Sua personalidade estava baseada nisso. E ele só consegue ler as pessoas dentro dessa mesma lógica de valores mediados por dinheiro.

Amedeo Cencini: Desde la aurora te busco (Paperback, Sal terrae) 5 stars

Los valores, en efecto, son la fuente de nuestra identidad, en ellos reconocemos nuestra verdad personal, lo que somos y lo que estamos llamados a ser, son parte de nosotros. Por esto, deben ser vividos y no solo proclamados; amados y no simplemente traducidos en la práctica; gozados, y no tristemente observados; descubiertos como fuente de identidad y sentido, y no solo mirados con admiración: en ellos me encuentro a mí mismo, de hecho, así ellos reviven en mí.

Desde la aurora te busco by  (54%)

Os valores precisam dar sentido a nossa vida e serem de fato gozados. Não podem ser simplesmente impostos, mas ressoarem dentro de nós.

Como é triste viver valores por obrigação. Apaga toda chama de vitalidade.

Jessé Souza: A Elite do Atraso (Paperback, Brazilian Portuguese language, 2017, Leya) 4 stars

Quem é a elite do atraso?Como pensa e age essa parcela da população que controla …

(…) o Ocidente, na sua história, logra institucionalizar duas fontes de toda a moralidade possível: a noção de produtividade para o bem comum, aquilo que confere dignidade para qualquer indivíduo; e a noção de personalidade sensível, em parte criada contra o produtivismo como forma de se inventar narrativamente um novo tipo de ser humano. (…) aquilo que define o que há de mais alto, ou seja, a virtude, nos seres humanos não é apenas sua capacidade produtiva, mas a possibilidade de ser fiel aos próprios sentimentos e emoções mais íntimos. Como esses sentimentos e emoções são, por definição, reprimidos e silenciados para o bem da disciplina e da capacidade produtiva, nós temos que aprender a conhecê-los e expressá-los. (…) Foi o capitalismo financeiro que domou o conteúdo revolucionário do expressivismo e transformou as bandeiras da contracultura em estímulo à produção. Desde então, criatividade passa a ser encontrar soluções ágeis para os dilemas corporativos e sensibilidade passa a ser a habilidade de gerir pessoas. Mais importante ainda, pode-se agora ser expressivista sem qualquer crítica social que envolva efetiva distribuição de riqueza e de poder. Expressivismo, também em país de maioria pobre como o nosso, passa a ser a preservação das matas, o respeito às minorias identitárias e temas como sustentabilidade e responsabilidade social de empresas. O charme dessa posição é que ela “tira onda” de emancipadora, como na luta pelos direitos das minorias e pela preservação da natureza. Esses temas são, na verdade, realmente fundamentais. O engano reside na reversão das hierarquias. Em um país onde tantos levam uma vida miserável e indigna deste nome, a superação da miséria de tantos é a luta primeira e mais importante. (…) Tudo se dá como se esse pessoal “bem-intencionado” morasse em Oslo, e não no Brasil, e tivesse apenas relações com seus amigos de Copenhague e Estocolmo. Para um sueco que efetivamente resolveu os problemas centrais de injustiça social e distribuição de riquezas, não é estranho que se dedique à preservação de espécies raras e faça dessa luta sua atuação política principal. Que um brasileiro faça o mesmo e se esqueça da sorte de tantos seres humanos tão perto dele é apenas compreensível se ele os torna invisíveis.

A Elite do Atraso by  (65%)

É muito forte essa denúncia central do livro: invisibilizamos os pobres desde a escravidão, mantendo-os na condição subumana de escravos.

E seguimos vivendo como se eles não existissem para outra coisa que não serem explorados e espoliados.

Jessé Souza: A Elite do Atraso (Paperback, Brazilian Portuguese language, 2017, Leya) 4 stars

Quem é a elite do atraso?Como pensa e age essa parcela da população que controla …

Quais os modos mais adequados para lhe falar à mente e ao coração [da classe média]? Quais seus medos específicos? Quais seus desejos particulares? É a partir dessas questões que podemos conhecer o comportamento de qualquer classe social, assim como o de qualquer indivíduo também. Saber a sua renda – a forma como o liberalismo (não) percebe as classes sociais – não nos esclarece nenhuma dessas questões. (...) Como a classe média é uma classe intermediária, entre a elite do dinheiro, de quem é uma espécie de “capataz moderno”, e as classes populares, a quem explora, ela tem que se autolegitimar tanto para cima quanto para baixo. (...)ela se justifica para cima com o moralismo e para baixo com o populismo. Não por acaso, precisamente as duas ideias centrais que a elite do dinheiro e seus intelectuais orgânicos construíram para tornar a classe média cativa e manipulável simbolicamente.

A Elite do Atraso by  (Page 62)

Amedeo Cencini: Desde la aurora te busco (Paperback, Sal terrae) 5 stars

(…) la experiencia de una cierta impotencia es siempre valiosa, porque nos hace ser más realistas y sinceros con nosotros mismos, más humildes y comprensivos con los demás y sus fragilidades (…).

Desde la aurora te busco by  (33%)

Quem nunca perdeu e se frustrou acaba de tornando abobalhado, até tosco, diante das coisas como são. Só quem perde e passa a conhecer seus limites sabe acolher os outros na sua limitações, sabe o que é querer ser diferente e não conseguir (ainda).

Jessé Souza: A Elite do Atraso (Paperback, Brazilian Portuguese language, 2017, Leya) 4 stars

Quem é a elite do atraso?Como pensa e age essa parcela da população que controla …

Estava na base do contrato social do Estado de bem-estar que a ideia distributivista – uma estrutura de impostos na qual quem ganha mais também paga mais – seria a base financeira que possibilitaria uma sociedade afluente e igualitária. No âmbito do capitalismo fordista, em que a fração mais importante do capital é a burguesia industrial, esse esquema era viável. (…) Com a dominância crescente do capitalismo financeiro, todo o esquema do Estado fiscal cai por terra. (…) Em um átimo, um fundo de investimento pode retirar investimentos bilionários de um país e aplicá-los em outro.(…) Crescentemente, os ricos passam a pagar muito pouco ou deixam simplesmente de pagar impostos por mecanismos legais e ilegais de evasão de renda, agora facilitados pelos paraísos fiscais, especialmente criados para “lavar dinheiro” do capitalismo financeiro e satisfazer a nova máxima dos capitalistas vitoriosos: “Sonegadores fiscais de todo o mundo, uni-vos!”

A Elite do Atraso by  (59%)

Jessé Souza: A Elite do Atraso (Paperback, Brazilian Portuguese language, 2017, Leya) 4 stars

Quem é a elite do atraso?Como pensa e age essa parcela da população que controla …

Nosso passado intocado, precisamente por seu esquecimento, é o do escravismo. Do escravismo nós herdamos o desprezo e o ódio covarde pelas classes populares que tornou impossível uma sociedade minimamente igualitária como a europeia. (...)

Isso não significa, como sabemos depois de estudar as hierarquias opacas do capitalismo, que todos são iguais nos principais países europeus. Obviamente não são. (...)

Mas o que lá não se tem é a divisão entre “gente” e “não gente” típica de países escravocratas que nunca criticaram essa herança. (...)

São pessoas que levam uma subvida em todas as esferas, fato que é aceito como natural pela população. A subvida só é aceita porque essas pessoas são percebidas como subgente, e subgente merece ter subvida. Simples assim, ainda que a naturalização dessa desigualdade monstruosa no dia a dia nos cegue quanto a isso.

A Elite do Atraso by  (56% - 57%)

Está sendo esclarecedor e estarrecedor a leitura dessa obra.