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Miguel Medeiros

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Joined 1 year, 11 months ago

"Este mundo grande cansa-me à exaustão o pequeno corpo.". — Pórcia

Sou um leigo que se entrega à filosofia, literatura, história e ciência. Leitor de Philip K. Dick a Platão, ouvinte de Arctic Monkeys a John Coltrane, jogador de Red Dead Redemption a Deus Ex.

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Miguel Medeiros's books

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Fyodor Dostoevsky: Memórias do Subsolo (Paperback, Portuguese language, 2009, Editora 34)

Obra-prima da literatura mundial, esta pequena novela traz, em embrião, vários temas da fase madura …

Sou um homem doente... Um homem mau. Um homem desagradável. Creio que sofro do fígado. Aliás, não entendo níquel da minha doença e não sei, ao certo, do que estou sofrendo. Não me trato e nunca me tratei, embora respeite a medicina e os médicos. Ademais, sou supersticioso ao extremo; bem, ao menos o bastante para respeitar a medicina. (Sou suficientemente instruído para não ter nenhuma superstição, mas sou supersticioso.) Não, se não quero me tratar, é apenas de raiva. Certamente não compreendeis isto. Ora, eu compreendo. Naturalmente não vos saberei explicar a quem exatamente farei mal, no presente caso, com a minha raiva; sei muito bem que não estarei a “pregar peças” nos médicos pelo fato de não me tratar com eles; sou o primeiro a reconhecer que, com tudo isto, só me prejudicarei a mim mesmo e a mais ninguém. Mas, apesar de tudo, não me trato por uma questão de raiva. Se me dói o fígado, que doa ainda mais.

Memórias do Subsolo by 

Benjamín Labatut: A pedra da loucura (Portuguese language, Todavia) No rating

A realidade está além do nosso alcance? A verdade e a loucura são sintomas da …

Uma boa metade.

No rating

Metade desse livro é muito interessante, alinha HP Lovecraft, Philip K. Dick e a crise na matemática para falar sobre como a era da razão se foi e entramos em um mundo de incertezas. Tem inclusive um relato curioso sobre a situação politica no Chile. Na segunda metade no lugar de termos conclusões o autor descamba para falar sobre uma suposta leitora maluca com quem ele ficou obcecado.

Pierce Butler: Uma introdução à biblioteconomia (Portuguese language, 2024, Briquet de Lemo) No rating

Edição em português de uma nova tradução (2024) de An Introduction to Library Science, de …

Na realidade, não existe pesquisa científica enquanto não for formulada uma hipótese teórica. Químicos não fazem misturas aleatoriamente para ver o que acontecerá. Biólogos não empurram sob seus microscópios o primeiro organismo vivo a seu alcance. Pedagogos não se lançam à sala de aula mais próxima ou sociólogos à penitenciária que esteja mais perto. Antes que possa haver observação científica tem de haver reflexão intelectual. Cronologicamente, o experimento vem depois da hipótese, não antes dela.

Uma introdução à biblioteconomia by  (Page 80)

Pierce Butler: Uma introdução à biblioteconomia (Portuguese language, 2024, Briquet de Lemo) No rating

Edição em português de uma nova tradução (2024) de An Introduction to Library Science, de …

A biblioteca não é um posto missionário para a pregação de um evangelho literário estabelecido que seja eternamente verdadeiro. O dever do bibliotecário não é seduzir as pessoas, contra suas vontades, para se converterem à sua maneira de pensar. Ele é simplesmente o guardião dos arquivos culturais da sociedade. A responsabilidade que assume com seu ofício é prospectar esses arquivos, em proveito da comunidade, até o limite máximo de sua capacidade. Portanto, uma fase decisiva do serviço da biblioteca a qualquer leitor será assisti-lo com um método eficaz para que concretize seu próprio objetivo pessoal, desde que este não seja antissocial, e protegê-lo de vir a desperdiçar esforços em atividades que serão infrutíferas no que toca a sua vontade imediata. Para tudo isso é preciso que haja uma compreensão solidária da motivação e da capacidade mental do indivíduo. A biblioteconomia eficaz é principalmente uma questão de acurado diagnóstico psicológico.

Da mesma maneira é o ofício do bibliotecário com referência aos livros sob sua custódia. Sua eficiência na utilização deles em proveito da comunidade dependerá do conhecimento que tiver acerca de seu conteúdo. No entanto é obviamente impossível para qualquer pessoa conhecer o conteúdo de tantas obras lendo-as uma a uma. Ao longo de um ano, o mais assíduo dos leitores raramente poderá examinar mais de duzentos volumes. Nesse ritmo, toda uma vida será insuficiente para travar um conhecimento pessoal com dez mil livros. Para comparar, calcula-se que a literatura mundial chega a aproximadamente oito milhões e meio de escritos. O bibliotecário, como profissional, deve esforçar-se para tomar conhecimento dos livros e não para conhecê-los diretamente. Seu estudo básico é a história bibliográfica. Ela consiste, como vimos, nas histórias separadas da literatura, da ciência e de sua efetividade combinada no sistema atual de erudição. Além do mais é óbvio que o proveito que ele auferir desses estudos dependerá muito grandemente de sua capacidade de ler os inventários da bibliografia formal como uma versão taquigráfica da história. O bibliotecário deve conhecer não apenas sociologia especializada e psicologia, mas também um tipo específico de ciência histórica.

Uma introdução à biblioteconomia by  (Page 78 - 79)

Pierce Butler: Uma introdução à biblioteconomia (Portuguese language, 2024, Briquet de Lemo) No rating

Edição em português de uma nova tradução (2024) de An Introduction to Library Science, de …

Mais do que isso, porém, o gosto pela leitura de cada indivíduo, sua motivação, seu método e seu proveito lhe são peculiarmente próprios. São o resultado complexo de si mesmo e de sua experiência intelectual. Valer-se disso como regra para avaliar as capacidades, necessidades, ideais e desejos de outrem é quase tão tolo quanto seria julgar seu estado físico pela própria sensação de bem-estar de quem avalia. Qualquer pessoa que vê na sociedade somente a duplicação infinita de sua própria personalidade comumente vive uma vida de perpétua confusão intelectual. Deblatera com os colegas constantemente por não fazerem como ele faz. Atribui o desrespeito a suas normas à ignorância ou à maldade. Não imagina que eles sejam verdadeiros consigo mesmos exatamente porque são diferentes dele na forma de pensar e de agir. Enquanto não puder se imaginar agindo de modo diferente se ele e seu passado tiverem sido diferentes, ninguém poderá alcançar uma compreensão favorável da humanidade. Uma imaginação desse tipo é impossível a menos que se tenha observado, sem predisposição, os atos alheios.

Uma introdução à biblioteconomia by  (Page 77 - 78)

Pierce Butler: Uma introdução à biblioteconomia (Portuguese language, 2024, Briquet de Lemo) No rating

Edição em português de uma nova tradução (2024) de An Introduction to Library Science, de …

Assim, acontece que a biblioteca deve valer-se ao máximo da obra de curto fôlego de autores que careçam de algum talento original. Tratar esses autores como de segunda categoria porque se limitam a expor de novo, ao invés de criar, é perder de vista sua importância social. Eles pertencem, por um breve período, à vanguarda como portadores de contágios intelectuais. É dever do bibliotecário explorar a vitalidade desse tipo de obra enquanto ainda esteja viva. Para assim agir, deverá observar com a imparcialidade de um historiador cada um dos mais relevantes movimentos da erudição contemporânea. Sua tarefa será diferente das de outros historiadores da produção literária. Não se interessa pela literatura enquanto literatura ou com o conhecimento enquanto conhecimento. Seu interesse fundamental está no uso atual que é feito deles em sua própria época e em sua própria comunidade. A importância de um livro para a biblioteca é determinada por sua real popularidade, a qualidade e as dimensões de sua influência na vida intelectual das pessoas que a utilizam.

Uma introdução à biblioteconomia by  (Page 74)

Pierce Butler: Uma introdução à biblioteconomia (Portuguese language, 2024, Briquet de Lemo) No rating

Edição em português de uma nova tradução (2024) de An Introduction to Library Science, de …

A condição intelectual de um adulto não pode ser descrita em termos exclusivos de sua experiência escolar. Os indivíduos variam conforme a quantidade do que conservam de sua escolaridade. Alguém pode se lembrar de uma grande parte do que chegou a aprender nas aulas que recebeu e, no entanto, fazer pouco uso disso em sua vida mental. Outra pessoa, apesar de preservar muito menos dos efeitos da vida escolar, poderá urdir o que possui no tecido de suas atividades intelectuais. Porém, ainda mais do que isso, grande parte do conteúdo de cada mente adulta foi adquirida fora da sala de aula. Todas as formas de contatos pessoais diretos, além do processo indireto de aprendizagem pela leitura, deixaram seu resquício. O efeito residual total da experiência intelectual de um indivíduo pode muito bem ser chamado de sua erudição.

Uma introdução à biblioteconomia by  (Page 70)

Pierce Butler: Uma introdução à biblioteconomia (Portuguese language, 2024, Briquet de Lemo) No rating

Edição em português de uma nova tradução (2024) de An Introduction to Library Science, de …

A ciência educacional moderna parece mostrar uma clara tendência, em seu entusiasmo pela técnica e o método, a desconsiderar o bem-estar do indivíduo e ignorar os interesses da sociedade. Apesar das grandes conquistas nos dois primeiros campos, provavelmente há boas razões para considerar a escola moderna menos eficiente nas outras matérias do que o sistema antigo que ela suplantou. Isso não quer dizer, como muitos o fazem, que devamos retornar aos programas antigos. Ficou provado que isso é completamente obsoleto. É ainda menos adaptado às necessidades modernas do que os sucedâneos que foram imaginados às pressas. Continua, porém, valendo o fato de que quem se formou nos tempos de antes estava aparentemente mais bem preparado para ser bem-sucedido em sua carreira e com participação ativa nos assuntos da sociedade pré-moderna do que os indivíduos correspondentes dos dias atuais. O estilo acadêmico de antigamente era sobretudo humanístico, mas assim também era o próprio tecido social antes da ascensão da ciência e da industrialização dos tempos atuais. Naquela época, quando um jovem terminava a faculdade já era uma pessoa completa, pois possuía o conhecimento necessário para a vida adulta. Em nossos dias, ainda é uma criança, e por um motivo similar. Isso não é devido a que ele ou sua escola haja se deteriorado. Ocorreu uma mudança violenta nas condições intelectuais da própria sociedade. A missão da educação ampliou-se enormemente. O conhecimento acumulado ultrapassou em muito o conteúdo do currículo de ensino. Houve época em que os dois eram quase idênticos. Hoje em dia, o objetivo da educação deve ser ampliado de modo a abranger todo o processo pelo qual um membro individual da sociedade recorre ao complexo repositório comum de capital intelectual. Aqui a biblioteca assume nova relevância que se torna menos importante apenas quando comparada com a escola.

Uma introdução à biblioteconomia by  (Page 36 - 37)

Pierce Butler: Uma introdução à biblioteconomia (Portuguese language, 2024, Briquet de Lemo) No rating

Edição em português de uma nova tradução (2024) de An Introduction to Library Science, de …

A necessidade que a sociedade tem de promover a iniciação, por assim dizer, de seus membros mais jovens em um estado definido de conhecimentos parece recuar ao passado biológico da humanidade. No período da infância não só os seres humanos, mas também os animais superiores aparentemente desenvolveram uma aptidão especial para a aprendizagem. Isso talvez possa declinar um pouco com a maturidade, porém nunca será perdido por completo. O ser humano, independentemente da idade, sempre permanece com sua característica de aprendibilidade.

Uma introdução à biblioteconomia by  (Page 33)