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Miguel Medeiros

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"Este mundo grande cansa-me à exaustão o pequeno corpo.". — Pórcia

Sou um leigo que se entrega à filosofia, literatura, história e ciência. Leitor de Philip K. Dick a Platão, ouvinte de Arctic Monkeys a John Coltrane, jogador de Red Dead Redemption a Deus Ex.

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J. R. R. Tolkien: O Senhor dos Anéis (Portuguese language, HarperCollins)

Conheça a edição de O Senhor dos Anéis mais completa já produzida no Brasil! Aqui, …

“Todos os ‘grandes segredos’ sob as montanhas tinham revelado ser apenas noite vazia: não havia mais nada para descobrir, nada que valesse a pena fazer, apenas asquerosas comilanças furtivas e lembranças ressentidas. Ele estava desgraçado por completo. Odiava o escuro e odiava a luz mais ainda: odiava todas as coisas, e o Anel mais que tudo.”

“O que quer dizer?”, perguntou Frodo. “Por certo o Anel era seu Precioso, a única coisa que lhe importava? Mas, se ele o odiava, por que não se livrou dele ou foi embora deixando-o para trás?”

“Você deveria começar a entender, Frodo, depois de tudo que ouviu”, disse Gandalf. “Ele o odiava e o amava, assim como odiava e amava a si mesmo. Não podia livrar-se dele. Não lhe restava vontade nesse assunto.

“Um Anel de Poder toma conta de si mesmo, Frodo. Ele pode soltar-se traiçoeiramente, mas seu possuidor jamais o abandona. No máximo joga com a ideia de entregá-lo aos cuidados de outra pessoa — e isso só na primeira etapa, quando o domínio está só começando. Mas ao que sei, só Bilbo, em toda a história, já passou de jogar e realmente o fez. Precisou de toda a minha ajuda também. E mesmo assim nunca o teria abandonado ou jogado de lado. Não era Gollum, Frodo, e sim o próprio Anel que decidia as coisas. O Anel o abandonou.”

O Senhor dos Anéis by  (Page 93)

Theodor W. Adorno: Introdução à dialética (Paperback, Português language, 2012, Unesp) No rating

Dialética é uma orientação na filosofia cujas motivações se entrelaçam com a própria origem do …

Permitam-me expressar analogamente assim, lançando mão de uma expressão de caráter teológico: o conceito de verdade na dialética seria um conceito negativo de verdade, assim como há uma teologia negativa. 28 ; Se Espinosa ensinou a célebre frase segundo a qual seria o "verum index sui et jalsi", 2 ~4 então diríamos, em contrapartida, que na dialética 'jalsum index sui etveri". 285 Isso significa que não há um conceito positivo, tangível, coisa de verdade, tal como apenas nos estaria assegurado só a pretensão de identidade imediata da ordem das coisas e dos conteúdos [ Ordnung der Dingen und der Sachen]. Porém, de outro lado, é evidente que essa força, da qual vive a própria intelecção na inverdade, é justamente a ideia de verdade. Acontece que não temos a própria ideia de verdade como algo dado, ela é apenas como que a fonte de luz a partir da qual a negação determinada, a intelecção do não verdadeiro [enquanto algo] determinado, propriamente sucede - tal como é formulado numa sentença de "Pandora", a qual fiz constar recentemente como mote na epígrafe de um trabalho: "destinada a ver o ilu- minado, não a luz". 286 Em outras palavras, a dialética também não pode aceitar a tradicional diferenciação entre gênese e validade. Ela tampouco pode se apropriar da posição, defendida talvez pelo psicologismo mais extremo - ou, melhor dizendo, pelo psicologismo de qualquer estirpe -, segundo a qual toda espécie de verdade se esgotaria em sua origem, de maneira que a ideia de verdade enquanto tal seria dissolvida, digamos, tão logo se tenha chegado a ver, nem que seja por uma vez, como são as coisas por trás dela, alcançando aquilo a partir do que ela própria teria surgido. Eu gostaria aqui de evocar expressa- mente o pensamento de Nietzsche, o qual com enorme razão censurou à consciência tradicional o fato de ela ensinar que aquilo que em determinado momento teve seu surgimento [das Entsprungene] não poderá ser o verdadeiro, isto é, que o que veio a ser jamais poderia ser fundamentalmente diferente daquilo de onde surgiu.287 Porém, caso vocês aceitem a concepção dia- lética contra a filosofia do originário [ Ursprungsphilosopbie], tal como tentei lhes apresentar, isto é, que aquilo que se origina é ou pode ser qualitativamente diferente em relação àquilo de onde se originou, então perderia também efeito a crença de que 270 se poderia, recorrendo à gênese// de um conteúdo [ Gehalt] espiritual, liquidar com sua verdade, de que assim sua verdade estaria como que revogada. Todavia, inversamente, as coisas sucedem também de tal maneira que a hipóstase de uma verdade, seja ela qual for - ou seja, a hipóstase que não considera aquele processo em que, sim, consiste a vida mesma da verdade, em que ela se origina e também soçobra, em que ela adquire, enfim, seu conteúdo próprio -, que tal hipóstase da verdade, contrapondo-se a seu surgimento [Entstehen] e, portanto, apelando à absolutização da validade em detrimento da gênese, é tão falsa quanto a relativização em termos da gênese. Nesse ponto, a análise dialética teria propriamente de destroçar a alternativa à qual nos vemos aqui atrelados - teria ela mesma de compreender essa alternativa como meramente superficial [vordergründ{g], como produto de um pensamento reificado, em . vez de se submeter a essa alternativa.

Introdução à dialética by  (Page 457 - 460)

Theodor W. Adorno: Introdução à dialética (Paperback, Português language, 2012, Unesp) No rating

Dialética é uma orientação na filosofia cujas motivações se entrelaçam com a própria origem do …

o mundo de hoje ser experienciado pelas pessoas num sentido novo e - eu gostaria de dizer - negativo, a saber: como mundo fechado. Não se trata certamente de um mundo fechado tal como era o caso para a filosofia da Alta Idade Média, na qual o dogma revelado coincidia com os estágios mais avançados de consciência. Trata-se, antes, de um mundo fechado no sentido de que propriamente tudo o que há em geral de experiência possível já seria experienciado antecipadamente pelas pessoas ou deveria ser considerado como já socialmente pré-formado - um mundo fechado sob a perspectiva, portanto, de que está excluída a experiência daquilo que é novo, em sentido enfático. Em outras palavras, o mun- do é fechado, falando do ponto de vista econômico, no sentido de que tende a retroceder ao nível da reprodução simples, provocando o atrofiamento da reprodução ampliada - uma tendência que, ao menos como tendência, vem sendo ratificada por vários economistas. 266 É o caso, poderíamos dizer, de um mundo da experiência no qual não existe mais algo como uma frontier, um mundo em que não subsiste nada que não esteja registrado [ Unerfasstes] - no qual tudo é antecipadamente percebi- do pelos seres humanos como pré-organizado. E a necessidade de uma sistemática, que surge nessa nova situação, não é nenhuma outra senão a de encontrar formas conceituais que cor- respondam àquela pré-ordenação que forja de antemão o ente, cunhado pelo fenômeno da "bureaucratisation du monde", 267 ou seja, o fenômeno do mundo administrado. Com efeito, é característico, para os sistemas de estilo mais recente, o fato de que apresentem enormes estruturações procedimentais; ou enormes planos processuais, de acordo com os quais tudo encontra seu lugar, como num processo administrativo já planejado. De modo que, nesses sistemas, não há propriamente espaço algum para transcendência. Em contrapartida, os grandes sistemas de outrora tiravam seu impulso diretamente do fato de que a transcendência da consciência, a transcendência do espírito, uma secularização do espírito divino, metamorfaseava-se, diante do singular// e do factual [Tatsãchlicbes], em imanência. Assim, tentavam compreender aquilo que não é espírito, apesar disso, igualmente como algo espiritual, isto é, compreendê-lo como sendo algo mais do que é. Essa tendência dos mais antigos sistemas de conferir àquilo que meramente existe uma espécie de sentido, ao assimilá-lo à totalidade, desapareceu hoje completamente, e agora se trata apenas de algo como gigantescos planos burocráticos, que então compreenderiam tudo sob si, e em que o critério decisivo seria a representação do adequar-se de uma coisa à outra, sem fissuras, de tudo o que ali acontece.

Introdução à dialética by  (Page 433 - 434)

Theodor W. Adorno: Introdução à dialética (Paperback, Português language, 2012, Unesp) No rating

Dialética é uma orientação na filosofia cujas motivações se entrelaçam com a própria origem do …

Não existe nenhum solo de sustentação para a filosofia - em todo caso, não para a filosofia hoje. Assim como a sociedade atual não poderia ser compreendida a partir de seus assim chamados fundamentos naturais, tampouco poderia, por exemplo, a agricultura decidir sobre a organização da sociedade contemporânea. Antes, a verdade é, ela mesma, verdade em movimento, na qual os momentos originários, como são chama- dos, emergem como momentos, como momentos do arcaico, da rememoração [Erinnerung], ou como quer que vocês desejem designá-los. Em todo caso, não se deve atribuir a eles uma substancialidade superior, quer sob um ponto de vista metafísico, moral ou lógico. O núcleo de um pensamento, aquilo que nele é efetivamente substancial, aquilo por meio do que um pensar se ratifica como verdadeiro e não como simples tolice, este núcleo não consiste no solo sobre o qual se estabeleceria de maneira inabalável. Tampouco se trata de uma tese, concretamente falando [dinghajt], a ser extraída, para a qual se poderia apontar o dedo e dizer: "Ora, vejam, aí está o que procuráva- mos: é isto o que ele defende, esta é sua opinião, aí está seu pensamento, e ele não pode fazer nada diferente, Deus o ajude." 242 Isso tudo são representações acerca do teor da filosofia que foram, por seu turno, obtidas sob coerção da consciência moral, sob a compulsão [Notung] nos seres humanos para reconhecer de que lado alguém de fato está, e nas quais está presente também a pressuposição de que um pensamento será responsável e verdadeiro se e somente se as pessoas que o pronunciam numa dada ocasião // puderem ser responsabilizadas por ele diante de uma agremiação ou comissão qualquer. Em outras palavras, está presente aí a negação daquele momento da liberdade do pensamento que constitui a atmosfera do movimento filosófico do conceito. O cerne ou a substancialidade de um pensar é a fonte latente de energia de onde o pensamento haure sua força, a luz que recai por meio do pensamento sobre os objetos, mas não é algo objetivo [Gegenstandliches] a ser tomado de maneira firme como se fosse uma coisa, diante da qual poderíamos, di- gamos assim, fazer um juramento. E, como vimos, há o "idole d"échelle", cuja verdade residiria afinal na exigência de que o pensamento deve, de algum modo, ser capaz de prestar contas a cada instante acerca do solo em que se apoia, acerca daquilo que constituiria seu cerne coisa [dinghajt]. Em vez disso, deve- ríamos ver esse momento substancial como algo que se encontraria atrás, uma fonte de força, e não uma espécie de tese ou coisa que pudesse ser apreendida por um simples exercício de "controle" [Kontrolle].

Introdução à dialética by  (Page 393 - 394)

Terence Eagleton: Como ler Literatura (Portuguese language, L&PM) No rating

"A maioria dos livros introdutórios sobre teoria ou análise literária comete o mesmo pecado capital: …

Gostamos de pensar os indivíduos como únicos. Mas, se isso vale para todos, então todos temos a mesma qualidade, qual seja, nossa identidade única. O que temos em comum é o fato de sermos todos incomuns. Todos são especiais, o que significa que ninguém é especial. A verdade, porém, é que os seres humanos são incomuns só até certo ponto. Não existem qualidades exclusivas de uma pessoa só. Infelizmente, é impossível existir um mundo onde apenas uma pessoa seja irascível, vingativa ou mortalmente agressiva. Isso porque os seres humanos não são essencialmente tão diferentes entre si, verdade que os pós-modernistas relutam em admitir. Compartilhamos uma quantidade enorme de coisas simplesmente por sermos humanos, e isso se revela no vocabulário que temos para tratar do caráter humano. Compartilhamos inclusive os processos sociais pelos quais vimos a nos individualizar. É verdade que os indivíduos combinam essas qualidades comuns de maneiras muito diversas, e em parte é isso o que os torna tão diferenciados. Mas as qualidades em si são moeda corrente. Não faz muito sentido dizer que só eu sinto um ciúme tão insano, nem chamar a moeda que tenho no bolso de dime, muito embora mais ninguém fale assim. Chaucer e Pope decerto concordariam, mas Oscar Wilde e Allen Ginsberg provavelmente não. Os críticos literários podem pensar que os indivíduos são incomparáveis, mas os sociólogos discordam. Se os seres humanos fossem, na maioria, encantadoramente imprevisíveis, os sociólogos perderiam o emprego. Eles, como os stalinistas, não se interessam pelo indivíduo. Pelo contrário, examinam padrões comuns de comportamento. É uma verdade sociológica que as filas nas caixas de supermercado sempre são mais ou menos do mesmo comprimento, pois os seres humanos são semelhantes em sua relutância de perder tempo demais com tarefas tediosas e relativamente triviais, como pagar as compras no mercado. Seria realmente estranho que alguém fizesse fila só para se divertir. Nesse caso, seria uma boa ação avisar os serviços de assistência social. Ao tentar captar a “essência” de um indivíduo, no sentido daquilo que o faz peculiar, inevitavelmente usaremos termos genéricos. Isso vale tanto para a literatura quanto para a linguagem do cotidiano. Às vezes, considera-se que as obras literárias dizem respeito sobretudo ao concreto e específico. Mas aqui há uma ironia. Um escritor pode amontoar frases e mais frases, adjetivos e mais adjetivos, para capturar a essência esquiva de alguma coisa. Mas, quanto mais usa a linguagem para descrever um personagem ou situação, mais tende a soterrá-lo sob uma montanha de generalidades. Ou simplesmente a soterrá-lo sob a própria linguagem.

Como ler Literatura by  (27%)

Terence Eagleton: Como ler Literatura (Portuguese language, L&PM) No rating

"A maioria dos livros introdutórios sobre teoria ou análise literária comete o mesmo pecado capital: …

Não existe desvio sem norma. Os idiossincráticos podem se orgulhar em ser obstinadamente eles mesmos, mas em certo sentido a excentricidade depende da existência de pessoas “normais”. Isso fica claro, mais uma vez, no mundo de Dickens, cujas figuras tendem a se dividir entre convencionais e grotescas. Para cada Pequena Nell, melancólico modelo de virtude em A loja de antiguidades, há um Quilp, um anão brutal do mesmo romance que masca charutos acesos e ameaça morder a esposa. Para cada jovem gentil e discreto como Nicholas Nickleby, há um Wackford Squeers, um mestre-escola caolho, brutal e calhorda da mesma obra, que tiraniza os alunos e, em vez de ensiná-los a soletrar a palavra “janela”, coloca-os a limpar as janelas da escola. O problema é que, se os personagens normais têm toda a virtude, as figuras aberrantes têm toda a vida. Ninguém tomaria um suco de laranja com Oliver Twist se tivesse oportunidade de dividir uma cerveja com Fagin. A patifaria é mais atraente do que a respeitabilidade. No momento em que as classes médias vitorianas definiram a normalidade como a parcimônia, a prudência, a paciência, a castidade, a docilidade, a autodisciplina e a industriosidade, estava claro que o demônio ficaria com o melhor. Numa situação dessas, claro que a opção é pela aberração. Daí a obsessão pós-moderna com vampiros e horrores góticos, com o pervertido e o marginal, que se tornou tão ortodoxa como eram antigamente a parcimônia e a castidade. Poucos leitores do Paraíso perdido preferem o Deus de Milton, que fala como um funcionário público enfezado, ao Satanás em atitude de desafio e indisfarçada revolta. Com efeito, é quase possível especificar o primeiro momento na história inglesa em que a virtude se torna maçante e o vício, atraente. O filósofo Thomas Hobbes, escrevendo nos meados do século XVII, admira qualidades heroicas ou aristocráticas como a bravura, a honra, a glória e a magnanimidade; o filósofo John Locke, escrevendo no final do século XVII, enaltece os valores de classe média como o trabalho, a parcimônia, a sobriedade e a moderação.

Como ler Literatura by  (25%)

Terence Eagleton: Como ler Literatura (Portuguese language, L&PM) No rating

"A maioria dos livros introdutórios sobre teoria ou análise literária comete o mesmo pecado capital: …

Hoje em dia, a palavra “character” [até aqui traduzida como “personagem”], além de figura literária, pode significar também uma letra, um símbolo, um caractere ou caráter, em suma. Vem de um termo grego antigo, significando um sinete ou timbre que imprime uma marca específica. Daí passou a significar a marca característica de um indivíduo, e não apenas sua assinatura. Um character, tal como uma character reference [“carta de referência”, sobre o caráter de alguém] hoje em dia, era um sinal, um retrato ou descrição de determinado indivíduo. Depois de algum tempo, veio a designar a pessoa como tal, homem ou mulher. O caráter, como sinal que representava o indivíduo, passou a ser o caráter, como identidade própria do indivíduo. O que havia de característico na marca se tornou o caráter único daquela pessoa. Assim, a palavra “caráter” é um exemplo de uma figura de linguagem conhecida como sinédoque, em que a parte representa o todo. O interesse disso não é meramente técnico. A transição de “caráter” como marca peculiar de um indivíduo para “caráter” como identidade do próprio indivíduo está ligada a toda uma história social. Faz parte, em suma, do nascimento e desenvolvimento do individualismo moderno. Agora os indivíduos são definidos pelo que têm de característico, como a assinatura ou a personalidade inimitável. O que nos diferencia entre nós é mais importante do que o que temos em comum. O que faz de Tom Sawyer Tom Sawyer são todas aquelas características que ele não partilha com Huck Finn. Lady Macbeth é o que é por causa de seu temperamento voluntarioso feroz e de sua ambição impetuosa, e não porque sofre, se angustia, ri e espirra. Como estas são coisas que compartilha com o resto da espécie, não contam realmente como parte de seu caráter. Levada ao extremo, essa concepção bastante curiosa dos homens e das mulheres sugere que uma boa, talvez a maior, parte do que são e fazem não são realmente eles. Não é característica deles; e, como a personalidade ou o caráter é tido como único e exclusivo, todas essas outras coisas não podem contar como parte do indivíduo. Hoje, o termo “caráter” designa as qualidades morais e mentais de um indivíduo, como o comentário do príncipe Andrew, dizendo que levar um tiro na Guerra das Malvinas era muito bom para “formar o caráter”. Talvez ele queira formar seu caráter com um pouco mais de frequência. A palavra, claro, também se refere a figuras em romances, peças, filmes etc. Mas ainda usamos o termo para as pessoas de carne e osso, como em: “Quem são aquelas figuras [characters] ali vomitando pela janela do Vaticano?”. Também pode indicar uma pessoa caprichosa ou cheia de manias, como em “Meu Deus, que figura! [character]”. Interessante notar que o termo é usado com mais frequência para os homens do que para as mulheres, e reflete um gosto muito inglês pela excentricidade. Os ingleses tendem a admirar gente ranheta e inconformada, que faz questão de não se dar com o próximo. Esses esquisitões são unanimemente incapazes de ser qualquer coisa, a não ser eles mesmos. Quem anda com um arminho no ombro ou usa saco de papel pardo na cabeça é tido como uma figura [character], o que sugere que suas excentricidades devem ser aceitas com simpatia. Há um espírito de tolerância na palavra character nessa acepção de “que figura!”. Poupa-nos o trabalho de botar uma meia dúzia na cadeia.

Como ler Literatura by  (24%)