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Miguel Medeiros

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Immanuel Kant: Crítica da Razão Pura (Paperback, Português language, Edipro) 4 stars

Publicada pela primeira vez em 1781, a Crítica da Razão Pura é um divisor de …

Em todas as subsunções de um objeto sob um conceito, a representação do primeiro tem que ser homogênea com o segundo, isto é, o conceito necessita conter o que é representado no objeto a ser subsumido a ele, pois isso é precisamente o que significa a expressão: um objeto está contido sob um conceito. Assim, o conceito empírico de um prato tem homogeneidade com o conceito geométrico puro de um círculo, uma vez que a redondez pensada no primeiro pode ser intuída no segundo.

Ora, conceitos puros do entendimento, todavia, em comparação com intuições empíricas (até com as sensíveis em geral), são completamente não homogêneos425, não podendo jamais ser encontrados em qualquer intuição. Ora, como é a subsunção do segundo ao primeiro e, assim, possível a aplicação da categoria aos fenômenos, posto que ninguém diria que ela, A138/B177 por exemplo a causalidade, também poderia ser intuída via sentidos e está encerrada no fenômeno? Esta questão tão natural e importante é efetivamente a causa que torna necessária uma doutrina transcendental da faculdade do juízo com a finalidade nomeadamente de exibir a possibilidade de aplicar conceitos puros do entendimento aos fenômenos em geral. Em todas as outras ciências, em que os conceitos através dos quais é o objeto pensado em geral universalmente não são tão distintos e heterogêneos426 relativamente àqueles que o representam in concreto, é desnecessário fornecer uma discussão especial sobre a aplicação dos primeiros aos segundos.

Agora fica claro ser imperioso haver uma terceira coisa que precisa permanecer em homogeneidade com a categoria por um lado e com o fenômeno por outro, e que possibilite a aplicação da primeira ao segundo. Essa representação mediadora427 tem que ser pura (sem nada que seja empírico) e, no entanto, intelelectual por um lado e sensível por outro. Uma tal representação é o esquema transcendental.

O conceito do entendimento encerra a unidade sintética pura do múltiplo em geral. O tempo, como a condição formal do múltiplo do sentido interno e, portanto, da associação de todas as representações, contém um múltiplo a priori na intuição pura. Ora, uma determinação temporal transcendental 428 é homogênea com a categoria (que constitui sua unidade) B178 na medida em que é universal e se apoia em uma regra a priori. Mas é, por outro lado, A139 homogênea com o fenômeno na medida em que o tempo está contido em toda representação empírica do múltiplo. Daí se tornar possível uma aplicação da categoria aos fenômenos mediante a determinação temporal transcendental que, como o esquema do conceito do entendimento, medeia a subsunção dos segundos à primeira.

Depois do que foi mostrado na dedução das categorias, é de se esperar429 que ninguém se manterá em dúvida acerca da resolução da questão: se esses conceitos puros do entendimento são de uso meramente empírico ou também transcendental, isto é, se, na qualidade de condições de uma experiência possível, relacionam-se a priori somente aos fenômenos ou se, na qualidade de condições da possibilidade das coisas em geral, podem ser estendidos aos objetos em si mesmos (sem qualquer restrição à nossa sensibilidade). Com efeito, vimos aí que os conceitos são totalmente impossíveis, nem podem ter qualquer significado onde um objeto não é dado para eles mesmos ou, ao menos, para os elementos de que são constituídos e, portanto, não podem de modo algum dizer respeito às coisas em si430 (sem se considerar se e como podem nos ser dados); que, ademais, a modificação de nossa sensibilidade constitui a única maneira pela qual os objetos são dados a nós; finalmente, que conceitos puros B179 a priori, a se somar à função do entendimento na categoria, têm que A140 conter condições formais a priori da sensibilidade (nomeadamente o sentido interno) que contêm a condição geral sob a qual exclusivamente pode ser a categoria aplicada a qualquer objeto. Denominaremos essa condição formal e pura da sensibilidade, à qual está restrito o uso do conceito do entendimento, de esquema desse conceito do entendimento e chamaremos de esquematismo do entendimento puro o processo do entendimento431 com esses esquemas.

O esquema é sempre, em si mesmo, apenas um produto da imaginação; entretanto, como a síntese dessa última não tem, como meta, qualquer intuição singular, mas somente a unidade na determinação da sensibilidade, o esquema precisa ser distinguido da imagem. Assim, se coloco cinco pontos um em seguida do outro, . . . . . , esta é uma imagem do número cinco. Ao contrário, se me limito a pensar um número em geral, o qual pode ser cinco ou cem, esse pensar é mais a representação de um método para representar um grande número432 (por exemplo, cem) conforme certo conceito, do que essa própria imagem, a qual tão só dificilmente eu poderia abarcar com a vista e comparar com o conceito. Ora, essa representação de um processo geral B180 da imaginação para fornecer um conceito com sua imagem é o que denomino esquema para esse conceito.

De fato, não são imagens dos objetos, mas esquemas que dão fundamento aos nossos conceitos puros sensíveis. A141 Nenhuma imagem seria jamais adequada ao conceito de um triângulo em geral.433 Com efeito, não alcançaria a generalidade do conceito, a qual o torna válido para todos os triângulos, quer retângulos, quer de ângulos oblíquos etc., mas seria sempre limitada a uma parte dessa esfera. O esquema do triângulo jamais pode existir em outro lugar senão no pensamento, e significa uma regra da síntese da imaginação com referência a formas puras no espaço. E ainda muito menos um objeto da experiência ou sua imagem atingiriam o conceito empírico, estando este, antes, sempre relacionado imediatamente ao esquema da imaginação, na qualidade de uma regra para a determinação de nossa intuição de acordo com certo conceito geral. O conceito de cão significa uma regra em corfomidade com a qual minha imaginação pode especificar a forma de um animal de quatro patas em geral, sem estar limitado a qualquer forma especial singular a mim oferecida pela experiência ou qualquer imagem possível que posso exibir in concreto. Esse esquematismo de nosso entendimento, no tocante aos fenômenos e a sua mera forma, é uma arte secreta nas profundezas B181 da alma humana cujas verdadeiras operações só podemos com dificuldade extrair da natureza e desvelar ante os olhos.434 Tudo o que podemos dizer é o seguinte: a imagem é um produto da faculdade empírica da imaginação produtiva, o esquema dos conceitos sensíveis (como as A142 figuras no espaço) um produto e, por assim dizer, um monograma da imaginação pura a priori, através do qual e de acordo com o qual as imagens tornam-se possíveis pela primeira vez, mas que têm que ser conectadas ao conceito, com o qual não são em si nunca completamente congruentes, sempre somente mediante o esquema que designam. Pelo contrário, o esquema de um conceito puro do entendimento é algo inteiramente irredutível a uma imagem,435 sendo, antes, tão só a pura síntese em harmonia com uma regra de unidade em consonância com conceitos em geral, o que a categoria expressa e é um produto transcendental da imaginação que diz respeito à determinação do sentido interno em geral, de acordo com condições de sua forma (o tempo) com referência a todas as representações, na medida em que estas devem ser conectadas a priori em um conceito de acordo com a unidade da apercepção.

Crítica da Razão Pura by  (Page 148 - 151)

commented on O capital by Karl Marx

Karl Marx: O capital (Paperback, Português language, 2013, Boitempo) 5 stars

Tradução vencedora do Prêmio Jabuti de Melhor Tradução (2014). O clássico de Marx foi originalmente …

Os primeiros capitulos são complicadissimos, mas esse quarto sobre o surgimento do capital e a mais-valia é muito gostoso de ler, fui separando citações mas acabou virando o capitulo inteiro.

Byung-Chul Han: A expulsão do outro (Paperback, 2022, Editora Vozes) No rating

A proliferação do igual é uma “plenitude na qual transluz ainda apenas o vazio”. A …

Hoje se fala muito de autenticidade. Ela surge em toda propaganda do neoliberalismo com uma roupagem emancipatória. Ser autêntico significa ser livre de modelos de expressão e comportamento pré-definidos, prescritos de fora [de nós]. Dela parte a compulsão de ser igual apenas a si mesmo, de se definir apenas por si mesmo; sim, de ser autor e inventor de si mesmo. O imperativo da autenticidade desenvolve uma compulsão por si, uma compulsão de se questionar, se escutar, se espiar, se cercear. Ele acentua, assim, a autorreferência narcísica. A compulsão por autenticidade compele o eu a produzir a si mesmo. A autenticidade é, em última instância, a forma de produção neoliberal do si. Ela faz de todos produtores de si mesmos. O eu como empreendedor de si mesmo produz a si, performa a si mesmo, e oferece a si mesmo como mercadoria. A autenticidade é um ponto de venda. O esforço pela autenticidade de ser igual apenas a si mesmo desencadeia uma comparação [Vergleich] permanente com o outro. A lógica do equi-parar [Ver-Gleichens] faz o ser-outro [Anderssein] se inverter no ser-igual [Gleichsein]. Assim, a autenticidade do ser diferente consolida a conformidade social. Ela permite apenas as diferenças conformes ao sistema; a saber, a diversidade. A diversidade como termo neoliberal é um recurso que se deixa explorar. Assim, ela é oposta à alteridade, que se furta a toda utilização econômica. Hoje, todos querem ser diferentes do outro. Mas, nesse querer-ser-diferente, o igual se perpetua. Aqui, estamos lidando com uma conformidade de nível superior. O ser igual se afirma por meio do ser diferente. A autenticidade do ser diferente impõe até mesmo de maneira mais eficiente a conformidade do que a uniformização repressiva. Esta é muito mais frágil do que aquela. [...] Como uma estratégia neoliberal de produção, a autenticidade produz diferenças comoditificáveis [kommodifizierbare]. Assim, ela aumenta a pluralidade de mercadorias com as quais a autenticidade é materializada. Os indivíduos expressam a sua autenticidade sobretudo por meio do consumo. O imperativo da autenticidade não leva à formação de um indivíduo autônomo, soberano. Antes, ele é completamente cobrado pelo comércio. O imperativo da autenticidade produz uma compulsão narcísica. O narcisismo não é idêntico ao saudável amor-próprio, que não tem nada de patológico. O amor-próprio não exclui o amor pelo outro. O narcisista, em contrapartida, é cego frente ao outro. O outro é dobrado até que o ego se reconheça nele. O sujeito narcisista percebe o mundo apenas como sombras de si mesmo. A consequência fatal: o outro desaparece. As fronteiras entre o si e o outro se dissipam. O si se difunde e se torna difuso. O eu se afoga no si. Um si estável surge, em contrapartida, apenas em vista do outro. A autorreferência excessiva e narcisista produz, em contrapartida, um sentimento de vazio.

A expulsão do outro by  (Page 37 - 41)

Byung-Chul Han: A expulsão do outro (Paperback, 2022, Editora Vozes) No rating

A proliferação do igual é uma “plenitude na qual transluz ainda apenas o vazio”. A …

Com o terrorismo, ocorreu algo que aponta, para além da intenção imediata dos agentes [envolvidos], para falhas sistêmicas. Não é o religioso em si que leva o ser humano ao terrorismo. Antes, é a resistência do singular contra a violência do global. A defesa contra o terror, que se relaciona a certas religiões e grupos de pessoas, é, por isso, uma ação compensatória sem esperanças. Também a evocação do inimigo oculta o verdadeiro problema, que tem uma causa sistêmica. É o terror do próprio global que produz o terrorismo. A violência do global bane todas as singularidades que não se deixam submeter à troca universal. O terrorismo é o terror do singular contra o terror do global. A morte, que se furta a toda troca, é o singular pura e simplesmente. Com o terrorismo, ela irrompe brutalmente no sistema em que a vida se totalizou como produção e desempenho. A morte é o fim da produção. A glorificação da morte por parte dos terroristas e a atual histeria da saúde, que busca prolongar a todo o custo a vida como mera vida, condicionam-se reciprocamente. Nesse contexto sistêmico chama atenção o lema da al-Qaeda: “Vocês amam a vida, nós amamos a morte”.

A expulsão do outro by  (Page 24 - 25)

Byung-Chul Han: A expulsão do outro (Paperback, 2022, Editora Vozes) No rating

A proliferação do igual é uma “plenitude na qual transluz ainda apenas o vazio”. A …

No pornô, todos os corpos se equivalem. Eles também se decompõem em partes iguais do corpo. Furtado de toda linguagem, o corpo é reduzido ao sexual que, com exceção da diferença sexual, não conhece distinção alguma. O corpo pornográfico não é mais um cenário, um “palco suntuoso”, uma “superfície fabulosa” “na qual se inscrevem sonhos e divindades”[8]. Ele não narra nada. Ele não seduz. O pornô produz uma desnarrativização e deslinguistificação, não apenas do corpo, mas também da comunicação em geral. Nisso consiste a sua obscenidade. Não é possível jogar com a carne nua. O jogo precisa de uma aparência [Scheins], de uma inverdade. A verdade nua e pornográfica não permite nenhum jogo, nenhuma sedução. Também a sexualidade como desempenho reprime toda forma de jogo. Ela se torna inteiramente maquinal. O imperativo neoliberal do desempenho, sexyness e fitness nivela o corpo, por fim, a um objeto funcional que deve ser otimizado.

A expulsão do outro by  (Page 17 - 18)

Byung-Chul Han: A expulsão do outro (Paperback, 2022, Editora Vozes) No rating

A proliferação do igual é uma “plenitude na qual transluz ainda apenas o vazio”. A …

Mesmo a maior coleção de informação, Big Data, dispõe de muito pouco saber. Por meio do Big Data se descobrem correlações. As correlações dizem: se A ocorre, também ocorre, frequentemente, B. Por que é assim, [isso] não se sabe. A correlação é a forma de saber mais primitiva, que não está nem em condições de descobrir a relação causal, ou seja, a relação de causa e efeito. É assim. A pergunta pelo por que é supérflua aqui. Nada é, então, compreendido [begriffen]. Saber, porém, é compreender [Begreifen]. Assim, o Big Data torna o pensamento superficial. Entregamo-nos sem pensar ao assim-é.

A expulsão do outro by  (Page 12)

Immanuel Kant: Crítica da Razão Pura (Paperback, Português language, Edipro) 4 stars

Publicada pela primeira vez em 1781, a Crítica da Razão Pura é um divisor de …

O entendimento foi anteriormente explicado apenas negativamente: uma faculdade não-sensível 217 A68 do conhecimento. Não podemos, agora, partilhar de qualquer intuição independentemente da sensibilidade. Assim, não é o entendimento uma faculdade da intuição. B93 Não há, porém, fora da intuição, outra maneira de conhecer exceto através de conceitos. Por conseguinte, o conhecimento de todo entendimento, ao menos do humano, é um conhecimento conceitual 218, não intuitivo, mas discursivo. Todas as intuições, na qualidade de sensíveis, apoiam-se em afecções, enquanto conceitos em funções. Entendo, entretanto, por função219 a unidade da ação de ordenar diferentes representações sob uma representação comum. Assim, conceitos se fundam na espontaneidade do pensar, ao passo que intuições sensíveis na receptividade de impressões. Ora, a partir desses conceitos, o entendimento não pode fazer outro uso senão o de julgar por meio deles. Como nenhuma representação diz respeito ao objeto imediatamente a não ser apenas a intuição, resulta que um conceito jamais é relacionado imediatamente a um objeto, sendo, porém, sempre relacionado a uma outra representação dele (seja esta uma intuição ou ela mesma já um conceito). O juízo é, assim, o conhecimento mediato de um objeto e, portanto, a representação de uma representação dele. Em cada juízo existe um conceito que vale para muitos, e que entre esses muitos também compreende uma dada representação, relacionando-se esta última então imediatamente com o objeto. Assim, por exemplo, no juízo Todos os corpos são divisíveis, o conceito do divisível 220 está relacionado a diversos outros conceitos, entre eles, contudo, está aqui particularmente relacionado ao conceito de corpo; este, porém, está relacionado A69 a certos fenômenos que se apresentam a nós.221 Estão, portanto, esses objetos B94 representados mediatamente através do conceito de divisibilidade222. Portanto, todos os juízos são funções da unidade entre nossas representações, posto que, em lugar de uma representação imediata, uma mais elevada, compreendendo esta e outras sob si mesma, é empregada para conhecimento do objeto, e com isso muitos conhecimentos possíveis são reunidos em um. Podemos, contudo, reconduzir todas as ações do entendimento aos juízos, de modo que o entendimento em geral possa ser representado como faculdade de julgar223. Com efeito, conforme dito anteriormente, ele é uma faculdade de pensar224. Pensar é o conhecimento através de conceitos. Conceitos, porém, na qualidade de predicados de juízos possíveis, relacionam-se a alguma representação de um objeto ainda indeterminado. Assim, o conceito de corpo significa algo, por exemplo, metal, o que através de tal conceito pode ser conhecido. É, portanto, conceito somente na medida em que outras representações estão contidas sob ele, mediante as quais pode ele ser relacionado aos objetos. Ele é, portanto, o predicado para um juízo possível, por exemplo, que todo metal é um corpo. Consequentemente, as funções do entendimento podem todas ser encontradas juntas quando se é capaz de mostrar integralmente as funções de unidade nos juízos. Que isso é plenamente realizável será evidenciado pela seção seguinte.

Crítica da Razão Pura by 

Immanuel Kant: Crítica da Razão Pura (Paperback, Português language, Edipro) 4 stars

Publicada pela primeira vez em 1781, a Crítica da Razão Pura é um divisor de …

Nosso conhecimento nasce de duas fontes fundamentais da mente, sendo a primeira o receber representações (a receptividade das impressões), enquanto a segunda, a faculdade de conhecer um objeto por meio dessas representações (espontaneidade dos conceitos); através da primeira, um objeto nos é dado, ao passo que, através da segunda, este é pensado em relação àquela representação (como mera determinação da mente). Assim, intuição e conceitos constituem os elementos de todo nosso conhecimento, do que resulta que nem conceitos sem intuição que de algum modo lhes corresponda, nem intuição sem conceitos podem produzir conhecimento. Ambos são ou puros ou empíricos. São empíricos quando a sensação (a qual pressupõe a presença real do objeto) está nele contida; são, porém, puros quando nenhuma sensação está mesclada à representação. Pode-se chamar estes últimos de matéria do conhecimento sensível. B75 Consequentemente, a intuição pura contém apenas a forma em que algo A51 é intuído, e o conceito puro somente a forma do pensar um objeto em geral. Somente intuições ou conceitos puros são possíveis a priori, enquanto empíricos somente a posteriori.

Se chamarmos de sensibilidade a receptividade de nossa mente para receber representações na medida em que é ela afetada de algum modo, então, pelo contrário, a faculdade de produzir, ela mesma, representações, ou a espontaneidade do conhecimento, é o entendimento.173 Nossa natureza é tal que a intuição nunca pode ser outra coisa senão sensível, isto é, tudo que ela contém é o modo no qual somos afetados pelos objetos. Pelo contrário, a faculdade para pensar o objeto sensível da intuição sensível é o entendimento. Nenhum desses atributos174 deve ser preferido em relação aos outros. Sem sensibilidade, nenhum objeto nos seria dado, e, sem entendimento, nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas.175 Daí é tão necessário tornar seus conceitos176 sensíveis (isto é, adicionar a eles o objeto na intuição) quanto tornar suas intuições compreensíveis (isto é, submetê-las aos conceitos). Ambas essas faculdades, ou capacidades,177 ademais, não podem permutar suas funções. O entendimento não é capaz de intuir coisa alguma, ao passo que os sentidos não são capazes de pensar nada. O conhecimento só pode nascer de sua associação.178 B76 Não se deve, porém, em virtude disso, confundir suas participações, A52 havendo, sim, grandes motivos para separá-los entre si cuidadosamente, e distingui-los. Daí distinguirmos a ciência das regras da sensibilidade em geral, isto é, a estética, da ciência das regras do entendimento em geral, isto é, a lógica.

Crítica da Razão Pura by  (Page 86 - 87)

Immanuel Kant: Crítica da Razão Pura (Paperback, Português language, Edipro) 4 stars

Publicada pela primeira vez em 1781, a Crítica da Razão Pura é um divisor de …

Como já foi dito muitas vezes, a lógica geral abstrai de todo conteúdo do conhecimento e espera que, partindo de outro lugar, seja qual for, a ela sejam fornecidas representações para que as transforme em conceitos, o que se processa analiticamente. Ao contrário, a lógica transcendental possui um múltiplo de sensibilidade disposto a priori diante de si, a ela oferecido pela estética A77 transcendental, para suprir de uma matéria os conceitos puros do entendimento, sem a qual seriam destituídos de qualquer conteúdo e, portanto, totalmente vazios. Ora, espaço e tempo contêm um múltiplo de intuição a priori pura, mas pertencem, entretanto, às condições de receptividade de nossa mente, sob as quais exclusivamente pode ela acolher representações de objetos e, portanto, devem sempre também afetar o conceito destes. Somente a espontaneidade de nosso pensamento exige que esse múltiplo comece por ser percorrido, assumido e combinado para que a partir dele seja produzido um conhecimento. Chamo de síntese essa ação.

Entendo, B103 porém, por síntese, no seu sentido mais geral, a ação241 de combinar entre si diferentes representações e compreender sua multiplicidade em um conhecimento. Uma tal síntese é pura quando o múltiplo não é dado empiricamente, mas a priori (como no espaço e no tempo). Antes de toda análise de nossas representações, devem ser estas primeiramente dadas, nenhum conceito podendo surgir analiticamente se se tratar do conteúdo. A síntese de um múltiplo, porém (seja dado empiricamente ou a priori), começa por produzir um conhecimento, o qual decerto pode ser inicialmente ainda tosco e confuso e, assim, carente de análise; apesar disso, é somente a síntese que propriamente colhe os elementos A78 para os conhecimentos e os associa em um certo conteúdo; consequentemente, é a primeira coisa à qual temos que dar atenção se quisermos julgar sobre a origem primordial de nosso conhecimento.

A síntese em geral é, como veremos na sequência, o mero efeito da imaginação,242 de uma função cega, embora imprescindível, da alma, sem a qual não teríamos absolutamente qualquer conhecimento, mas da qual apenas raramente estamos conscientes. Contudo, produzir conceitos a partir dessa síntese é uma função que cabe ao entendimento,243 e mediante a qual ele nos provê pela primeira vez de conhecimento no sentido próprio.

Ora, B104 a síntese pura, geralmente representada, produz o conceito puro do entendimento. Entretanto, entendo por essa síntese aquilo que se apoia em um fundamento de unidade sintética a priori: assim, nossa numeração (sobretudo como é de se notar nos números maiores) é uma síntese segundo conceitos, visto que ocorre de acordo com um fundamento comum de unidade (por exemplo, a década). Por conseguinte, sob esse conceito a síntese do múltiplo se torna necessária.

Crítica da Razão Pura by  (Page 104 - 105)