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Miguel Medeiros

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George Breitman, Malcolm X: Malcolm X Fala (Português language, 2021, Ubu Editora) 3 stars

Os discursos aqui reunidos foram proclamados, com exceção de "Mensagem às bases", entre 1964 e …

De todos os nossos estudos, é a história a mais qualificada para confirmar nossas pesquisas. Quando você compreende que tem problemas, tudo o que precisa fazer é verificar o método histórico usado em todo o mundo por outras pessoas que têm problemas semelhantes aos seus. Depois de ver como elas resolveram os delas, você saberá como resolver os seus. Há uma revolução, uma Revolução Negra, acontecendo na África. No Quênia, os Mau-Mau7 foram revolucionários; foram eles que trouxeram a palavra “Uhuru”8 à tona. Os Mau-Mau… eram revolucionários, acreditavam na terra arrasada, tiravam da frente tudo o que estava em seu caminho, e sua revolução também era baseada na terra, numa ânsia por terra. Na Argélia, região norte da África, ocorreu uma revolução. Os argelinos eram revolucionários, queriam terras. A França ofereceu permissão para serem integrados à França. E eles disseram à França: “Que se dane a França”; queriam um tanto de terras, não um tanto da França. E travaram uma batalha sangrenta.

Malcolm X Fala by ,

George Breitman, Malcolm X: Malcolm X Fala (Português language, 2021, Ubu Editora) 3 stars

Os discursos aqui reunidos foram proclamados, com exceção de "Mensagem às bases", entre 1964 e …

Eu gostaria de fazer alguns comentários sobre a diferença entre a “Revolução Negra” e a “Revolução dos Negros”.5 Elas são iguais? E, se não são, qual é a diferença? Qual é a diferença entre uma “Revolução Negra” e uma “Revolução dos Negros”? Primeiro, o que é uma revolução? Às vezes, tenho inclinação a acreditar que muitos dos nossos estão usando esta palavra, “revolução”, em vão, sem atentar cuidadosamente para o que essa palavra realmente significa e quais são suas características históricas. Quando você estudar a natureza histórica das revoluções, o motivo de uma revolução, o objetivo de uma revolução, o resultado de uma revolução e os métodos usados em uma revolução, aí pode ser que você troque a palavra. Pode ser que você se envolva em outro programa, que mude de objetivo e mude de ideia.

Veja a Revolução Americana de 1776. Por que aconteceu aquela revolução? Por terra. Por que eles queriam terras? Independência. Como se deu a revolução? Com derramamento de sangue. Motivo número 1: foi baseada na terra, a base da independência. E a única maneira que tinham de conseguir isso era com derramamento de sangue. E a Revolução Francesa, no que se baseou? Os sem-terra contra os latifundiários. E por que aconteceu aquela revolução? Terra. E como conseguiram? Com derramamento de sangue. Foi sem amor nenhum, sem concessão, sem negociação. Estou lhe dizendo: você não sabe o que é uma revolução. Porque, quando você descobrir o que é, vai voltar para o beco, vai sair do caminho.

A Revolução Russa foi baseada em quê? Terra. O sem-terra contra o latifundiário. Como eles resolveram a coisa? Com derramamento de sangue. Não existe revolução que não envolva derramamento de sangue. E você tem medo de sangrar. Eu disse: você tem medo de sangrar!

Quando o homem branco mandou você para a Coreia, você sangrou. Ele mandou você para a Alemanha, e você sangrou. Ele mandou você para o Pacífico Sul para lutar contra os japoneses, e você sangrou. Você sangra pelos brancos, mas, quando se trata de ver suas próprias igrejas sendo bombardeadas e garotinhas negras assassinadas, não tem sangue. Você sangra quando o homem branco diz “sangre”; você morde quando o homem branco diz “morda”; e você late quando o homem branco diz “lata”. Odeio dizer isso sobre nós, mas é verdade. Como você vai ser não violento no Mississippi se foi tão violento na Coreia? Como se pode justificar ser não violento no Mississippi e no Alabama quando suas igrejas estão sendo bombardeadas e suas filhinhas estão sendo assassinadas e, ao mesmo tempo, você vai ser violento contra Hitler, contra Tojo e contra alguém que você nem mesmo conhece?

Se a violência está errada na América, a violência está errada no exterior. Se é errado ser violento defendendo mulheres negras e crianças negras e bebês negros e homens negros, então é errado que a América nos convoque e nos torne violentos no exterior em sua defesa. E, se é certo que a América nos convoque e nos ensine como ser violentos em sua defesa, então é certo que você e eu façamos o que for necessário para defender nosso próprio povo bem aqui, neste país.

A Revolução Chinesa: eles queriam terras. Expulsaram os britânicos, junto com o Pai Tomás6 chinês. Sim, expulsaram. Deram um bom exemplo. Quando eu estava na prisão, li um artigo – não fiquem chocados por eu dizer que estive na prisão. Vocês ainda estão na prisão. É isto que a América significa: prisão. Quando eu estava na prisão, li um artigo na revista Life mostrando uma garotinha chinesa de nove anos; o pai dela estava ajoelhado, de quatro no chão, e ela puxava o gatilho porque ele era um Pai Tomás chinês. Quando fizeram a revolução lá, pegaram uma geração inteira de Pais Tomás e simplesmente os exterminaram. E em dez anos aquela garotinha se tornou uma mulher adulta. Basta de Pais Tomás na China. E hoje a China é um dos mais duros, brutais e temidos países do planeta: temido pelo homem branco. Porque não há nenhum Pai Tomás lá.

Malcolm X Fala by ,

George Breitman, Malcolm X: Malcolm X Fala (Português language, 2021, Ubu Editora) 3 stars

Os discursos aqui reunidos foram proclamados, com exceção de "Mensagem às bases", entre 1964 e …

Em vez de expor nossas diferenças em público, temos que compreender que somos todos a mesma família. E, quando você tem uma discórdia em família, você sabe que roupa suja se lava em casa. Se você sai para a rua brigando, todo mundo te chama de bruto, bronco, não civilizado, selvagem. Se a briga não começar em casa, você que a resolva dentro de casa; entre no armário, discuta a portas fechadas. E então, quando você sair para a rua, vai agir como alguém que faz parte de uma frente comum, uma frente unida. E é isso que precisamos fazer na comunidade, na cidade e no estado. Precisamos parar de expor nossas diferenças diante do homem branco, colocá-lo fora de nossas reuniões e, depois, sentar e negociar uns com os outros. Isso é o que temos que fazer.

Malcolm X Fala by ,

Eduardo Galeano: As Veias Abertas da América Latina (Paperback, Português language, 2010, L&PM) No rating

Remontando a 1970, sua primeira edição, atualizada em 1977, quando a maioria dos países do …

Como sempre, no entanto, quando o Estado se torna dono da principal riqueza de um país, convém perguntar quem é o dono do Estado. A nacionalização dos recursos básicos, por si só, não implica a redistribuição da receita em proveito da maioria, nem põe necessariamente em perigo o poder nem os privilégios da minoria dominante.

As Veias Abertas da América Latina by  (Page 351)

Eduardo Galeano: As Veias Abertas da América Latina (Paperback, Português language, 2010, L&PM) No rating

Remontando a 1970, sua primeira edição, atualizada em 1977, quando a maioria dos países do …

De igual modo, os comentários mais favoráveis que este livro recebeu não provêm de nenhum crítico de prestígio, mas das ditaduras militares que o elogiaram proibindo-o. Por exemplo, As veias não pode circular em meu país, o Uruguai, nem no Chile, e na Argentina as autoridades o denunciaram, na televisão e nos jornais, como um instrumento de corrupção da juventude. “Não deixam ver o que escrevo”, dizia Blas de Otero, “porque escrevo o que vejo.”

As Veias Abertas da América Latina by  (Page 347)

Eduardo Galeano: As Veias Abertas da América Latina (Paperback, Português language, 2010, L&PM) No rating

Remontando a 1970, sua primeira edição, atualizada em 1977, quando a maioria dos países do …

Sei que pode parecer sacrílego que este manual de divulgação fale de economia política no estilo de um romance de amor ou de piratas. No entanto, confesso, repugna-me ler algumas obras valiosas de certos sociólogos, politicólogos, economias ou historiadores, que escrevem em código. A linguagem hermética nem sempre é o preço inevitável da profundidade. Em alguns casos pode esconder, simplesmente, a incapacidade de comunicação elevada à categoria de virtude intelectual. Suspeito de que assim o enfado, com frequência, serve para bendizer a ordem estabelecida: confirma que o conhecimento é um privilégio das elites.

Algo parecido, diga-se de passagem, costuma ocorrer com certa literatura militante dirigida a um público complacente. Parece-me conformista, a despeito da toda a sua possível retórica revolucionária, uma linguagem que mecanicamente repete, para os mesmos ouvidos, as mesmas frases feitas, os mesmos adjetivos, as mesmas fórmulas declamatórias. Talvez essa literatura de paróquia esteja bem longe da revolução quanto a pornografia está longe do erotismo.

As Veias Abertas da América Latina by  (Page 347 - 348)

Eduardo Galeano: As Veias Abertas da América Latina (Paperback, Português language, 2010, L&PM) No rating

Remontando a 1970, sua primeira edição, atualizada em 1977, quando a maioria dos países do …

A resposta mais estimulante não veio das páginas literárias dos jornais, mas de alguns episódios reais ocorridos na rua. Por exemplo, a moça que estava lendo este livro para sua companheira de banco e acabou levantando-se e lendo em voz alta para todos os passageiros enquanto o ônibus atravessava as ruas de Bogotá; ou a mulher que fugiu de Santiago do Chile, nos dias da matança, com este livro no meio das fraldas do bebê; ou o estudante que durante uma semana recorreu as livrarias da rua Corrientes, em Buenos Aires, e o leu aos pedacinhos, de livraria em livraria, porque não tinha dinheiro para comprá-lo.

As Veias Abertas da América Latina by  (Page 347)

Eduardo Galeano: As Veias Abertas da América Latina (Paperback, Português language, 2010, L&PM) No rating

Remontando a 1970, sua primeira edição, atualizada em 1977, quando a maioria dos países do …

Para que o imperialismo norte-americano possa, hoje em dia, integrar para reinar na América Latina, foi necessário que ontem o Império britânico contribuísse para nos dividir com os mesmos fins. Um arquipélago de países, desconectados entre si, nasceu como consequência da frustração de nossa unidade nacional. Quando os povos em armas conquistaram a independência, a América Latina surgia no cenário histórico enlaçada pelas tradições comuns de suas diversas comarcas, exigia uma unidade territorial sem fissuras e falava principalmente dois idiomas da mesma origem, o espanhol e o português. Mas nos faltava, como assinala Trias, uma das condições especiais para a constituição de uma nação única: faltava-nos a comunidade econômica.

Os polos de prosperidade que floresciam para responder às necessidades europeias de metais e alimentos não estavam vinculados entre si: as varinhas do leque tinham seu vértice no outro lado do mar. Os homens e os capitais se deslocavam no vaivém da sorte do ouro ou do açúcar, da prata ou do anil, e só os portos e as capitais, sanguessugas das regiões produtivas, tinham existência permanente. A América Latina nascia como um só espaço na imaginação e na esperança de Simón Bolívar, José Artigas e José de San Martín, mas estava de antemão repartida pelas deformações básicas do sistema colonial. As oligarquias portuárias, através do livre-comércio, consolidaram essa estrutura de fragmentação, que era a sua fonte de lucros: aqueles traficantes ilustrados não podiam incubar a unidade nacional que a burguesia encarnou na Europa e nos Estados Unidos. Os ingleses, herdeiros da Espanha e de Portugal desde antes da independência, aperfeiçoaram essa estrutura ao longo de todo o século passado, por meio das intrigas de luvas brancas dos diplomatas, da força de extorsão dos banqueiros e da capacidade de sedução dos comerciantes. “Para nós, a pátria é a América”, proclamara Bolívar: a grande Colômbia se dividiu em cinco países e o libertador morreu derrotado: “Nunca seremos felizes, nunca”, disse ao general Urdaneta. Traídos por Buenos Aires, San Martín se despojou das insígnias de comando, e Artigas, que chamava de americanos seus soldados, foi morrer em solitário exílio no Paraguai: o Vice-Reinado do Rio da Prata se partiu em quatro. Francisco de Morazán, criador da República Federal da América Central, morreu fuzilado[1], e a cintura da América se fragmentou em cinco pedaços, aos quais se juntaria o Panamá, desprendido da Colômbia por Teddy Roosevelt.

O resultado está à vista: na atualidade, qualquer das corporações multinacionais opera com maior coerência e senso de unidade do que este conjunto de ilhas que é a América Latina, desgarrada por tantas fronteiras e tantos isolamentos. Que integração podem efetivar entre si países que sequer se integraram por dentro? Cada país padece profundas fraturas em seu próprio seio, agudas divisões sociais e tensões não resolvidas entre seus vastos desertos marginais e seus oásis urbanos. O drama se reproduz em escala regional. As ferrovias e as estradas, criadas para transportar a produção ao estrangeiro pelas rotas mais diretas, constituem ainda a prova irrefutável da impotência ou da incapacidade da América Latina de dar vida ao projeto nacional de seus heróis mais lúcidos. O Brasil carece de conexões terrestres permanentes com três de seus vizinhos: Colômbia, Peru e Venezuela; e as cidades do Atlântico não têm comunicação telegráfica direta com as cidades do Pacífico, de modo que os telegramas entre Buenos Aires e Lima, ou entre o Rio de Janeiro e Bogotá, passam inevitavelmente por Nova York; outro tanto ocorre com as linhas telefônicas entre o Caribe e o Sul.

Os países latino-americanos continuam identificando-se cada qual com seu próprio porto, negação de suas raízes e de sua identidade real, a tal ponto que a quase totalidade dos produtos do comércio intrarregional é transportada por mar: os transportes interiores virtualmente não existem. E ocorre ainda que o cartel mundial dos fretes fixa as tarifas e os itinerários segundo seu arbítrio, e a América Latina tem de suportar tarifas exorbitantes e rotas absurdas. Das 118 linhas marítimas regulares que operam na região, há somente dezessete com bandeiras regionais; os fretes sangram a economia latino-americana em um bilhão de dólares por ano[2]. Assim, as mercadorias enviadas de Porto Alegre a Montevidéu chegam mais rapidamente ao destino se passam por Hamburgo, e outro tanto ocorre com a lã uruguaia em viagem para os Estados Unidos; o frete de Buenos Aires para um porto mexicano do golfo diminui em mais da quarta parte se o trajeto se cumpre através de Southampton[3]. O transporte de madeira do México para a Venezuela custa mais do que o dobro do transporte de madeira da Finlândia para a Venezuela, ainda que, segundo os mapas, o México esteja muito mais perto. Uma remessa direta de produtos químicos de Buenos Aires para Tampico, no México, sai mais cara do que passando por New Orleans.[4]

Muito diferente destino foi proposto e conquistado pelos Estados Unidos. Sete anos depois de sua independência, as treze colônias tinham já duplicado sua superfície, que se estendeu para além dos Aleganios até as ribeiras do Mississippi, e quatro anos mais tarde consolidaram a unidade criando um mercado único. Em 1803, compraram da França, por um preço ridículo, o território da Louisiana, tornando a multiplicar por dois sua superfície. Mais tarde foi a vez da Flórida, e em meados do século, a invasão e a amputação de meio México, em nome do “destino manifesto”. Depois, a compra do Alasca, a usurpação do Havaí, Porto Rico e Filipinas. As colônias se tornaram uma nação, e a nação um império, tudo ao longo da colocação em prática de objetivos claramente expressos e perseguidos desde os distantes tempos dos pais fundadores. Enquanto o norte da América crescia, desenvolvendo-se para dentro de suas fronteiras em expansão, o sul, desenvolvido para fora, explodia em fragmentos como uma granada.

As Veias Abertas da América Latina by  (Page 342 - 345)

Eduardo Galeano: As Veias Abertas da América Latina (Paperback, Português language, 2010, L&PM) No rating

Remontando a 1970, sua primeira edição, atualizada em 1977, quando a maioria dos países do …

Há anjos que ainda acreditam que todos os países terminam na linha de suas fronteiras. São aqueles que afirmam que os Estados Unidos pouco ou nada tem a ver com a integração latino-americana, uma vez que não fazem parte da Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC) nem do Mercado Comum Centro-Americano. Como queria o libertador Simón Bolívar, dizem, essa integração não vai além do limite entre o México e seu poderoso vizinho do norte. Aqueles que sustentam

esse critério seráfico esquecem – interesseira amnésia – que uma legião de piratas, mercadores, banqueiros, marines, embaixadores e capitães de empresa norte-americanos, ao longo de uma história negra, apossaram-se da vida e do destino da maioria dos povos do Sul, e que atualmente também a indústria da América Latina jaz no fundo do aparelho digestivo do Império. “Nossa” união faz a “sua” força, na medida em que os países, ao não romper previamente com os moldes do subdesenvolvimento e da dependência, integram suas respectivas servidões.

As Veias Abertas da América Latina by  (Page 333 - 334)

Eduardo Galeano: As Veias Abertas da América Latina (Paperback, Português language, 2010, L&PM) No rating

Remontando a 1970, sua primeira edição, atualizada em 1977, quando a maioria dos países do …

O intercâmbio de mercadorias constitui, junto com os investimentos diretos no exterior e os empréstimos, a camisa de força da divisão internacional do trabalho. Os países do chamado Terceiro Mundo permutam entre si pouco mais de uma quinta parte de suas exportações, ao passo que as três quartas partes do total de suas vendas exteriores são direcionadas para os centros imperialistas de que são tributários[1]. Em sua maioria, os países latino-americanos se identificam, no mercado mundial, com uma matéria-prima ou com um só alimento[2]. A América Latina dispõe de lã, algodão e fibras naturais em abundância, e conta com uma indústria têxtil já tradicional, mas participa em apenas 0,6 por cento das compras de fios e tecidos da Europa e Estados Unidos. A região foi condenada a vender sobretudo produtos primários, para dar trabalho às fábricas estrangeiras, e acontece que esses produtos “são exportados, em sua grande maioria, por fortes consórcios com vinculações internacionais, que dispõem de influências suficientes nos mercados mundiais para colocar seus produtos nas condições mais convenientes”[3], mas nas mais convenientes para eles, que geralmente expressam os interesses dos países compradores: isto é, a preços mais baixos. Nos mercados internacionais há um virtual monopólio da demanda de matérias-primas e da oferta de produtos industrializados; já os oferentes de produtos básicos, também compradores de bens acabados, operam dispersos: alguns, fortes, atuam congregados em torno da potência dominante, Estados Unidos, que consome quase tanto quanto o resto do planeta; os outros, os fracos, operam isolados, oprimidos contra oprimidos. Nunca existiu nos chamados mercados internacionais o chamado livre jogo da oferta e da procura, e sim uma ditadura, sempre em proveito dos países capitalistas desenvolvidos. Os centros de decisão onde os preços são fixados se encontram em Washington, Nova York, Londres, Paris, Amsterdam e Hamburgo: nos conselhos de ministros e na Bolsa. Pouco ou nada adianta que tenham assinado, com pompa e barulho, acordos internacionais para proteger os preços do trigo (1949) do açúcar (1953), do estanho (1956), do azeite de oliva (1956) e do café (1962). Basta olhar a curva descendente do valor relativo desses produtos para constatar que os acordos nada significaram senão simbólicas desculpas que os países fortes apresentaram aos países fracos quando os preços de seus produtos alcançaram níveis escandalosamente baixos. Cada vez vale menos o que a América Latina vende e, comparativamente, cada vez vale mais o que ela compra.

As Veias Abertas da América Latina by  (Page 313 - 315)