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Miguel Medeiros

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Success! Miguel Medeiros has read 52 of 48 books.

Karl Marx: O capital (Paperback, Português language, 2013, Boitempo) 5 stars

Tradução vencedora do Prêmio Jabuti de Melhor Tradução (2014). O clássico de Marx foi originalmente …

Vimos que a forma-dinheiro é apenas o reflexo, concentrado numa única mercadoria, das relações de todas as outras mercadorias. Que o dinheiro seja mercadoria45 é, portanto, uma descoberta que só realiza aquele que toma sua forma pronta para, a partir dela, empreender uma análise mais profunda desse objeto. O processo de troca confere à mercadoria, que ele transforma em dinheiro, não seu valor, mas sua forma de valor específica. A confusão entre essas duas determinações gerou o equívoco de considerar o valor do ouro e da prata como imaginário46. Do fato de o dinheiro, em funções determinadas, poder ser substituído por simples signos de si mesmo, derivou outro erro, segundo o qual ele seria um mero signo [Zeichen]. Por outro lado, nisso residia a noção de que a forma-dinheiro da coisa é externa a ela mesma, não sendo mais do que a forma de manifestação de relações humanas que se escondem por trás dela. Nesse sentido, cada mercadoria seria um signo, uma vez que, como valor, ela é tão somente um invólucro reificado [sachliche] do trabalho humano nela despendido47. Mas considerar como meros signos os caracteres sociais que, num determinado modo de produção, aplicam-se às coisas – ou aos caracteres reificados [sachlich] que as determinações sociais do trabalho recebem nesse modo de produção – significa considerá-las, ao mesmo tempo, produtos arbitrários da reflexão [Reflexion] dos homens. Esse foi o modo iluminista pelo qual, no século XVIII, costumou-se tratar das formas enigmáticas das relações humanas, cujo processo de formação ainda não podia ser decifrado, a fim de eliminar delas, ao menos provisoriamente, sua aparência estranha.

O capital by  (Page 164 - 166)

Karl Marx: O capital (Paperback, Português language, 2013, Boitempo) 5 stars

Tradução vencedora do Prêmio Jabuti de Melhor Tradução (2014). O clássico de Marx foi originalmente …

A troca direta de produtos tem, por um lado, a forma da expressão simples do valor e, por outro lado, ainda não a tem. Aquela forma era: x mercadoria A = y mercadoria B. A forma da troca imediata de produtos é: x objeto de uso A = y objeto de uso B41. Aqui, antes da troca, as coisas A e B ainda não são mercadorias, mas tornam-se mercadorias apenas por meio dela. O primeiro modo como um objeto de uso pode ser valor é por meio de sua existência como não-valor de uso, como quantidade de valor de uso que ultrapassa as necessidades imediatas de seu possuidor. As coisas são, por si mesmas, exteriores [äusserlich] ao homem e, por isso, são alienáveis [veräusserlich]. Para que essa venda [Veräusserung] seja mútua, os homens necessitam apenas se confrontar tacitamente como proprietários privados daquelas coisas alienáveis e, precisamente por meio delas, como pessoas independentes umas das outras. No entanto, tal relação de alheamento [Fremdheit] mútuo não existe para os membros de uma comunidade natural-espontânea, tenha ela a forma de uma família patriarcal, uma comunidade indiana antiga, um Estado inca etc. A troca de mercadorias começa onde as comunidades terminam: no ponto de seu contato com comunidades estrangeiras ou com membros de comunidades estrangeiras. A partir de então, as coisas que são mercadorias no estrangeiro também se tornam mercadorias na vida interna da comunidade. Sua relação quantitativa de troca é, a princípio, inteiramente acidental. Elas são permutáveis por meio do ato volitivo de seus possuidores de aliená-las mutuamente. Ao mesmo tempo, a necessidade de objetos de uso estrangeiros se consolida paulatinamente. A constante repetição da troca transforma-a num processo social regular, razão pela qual, no decorrer do tempo, ao menos uma parcela dos produtos do trabalho tem de ser intencionalmente produzida para a troca. Desse momento em diante, confirma-se, por um lado, a separação entre a utilidade das coisas para a necessidade imediata e sua utilidade para a troca. Seu valor de uso se aparta de seu valor de troca. Por outro lado, a relação quantitativa, na qual elas são trocadas, torna-se dependente de sua própria produção. O costume as fixa como grandezas de valor.

O capital by  (Page 162 - 163)

Karl Marx: O capital (Paperback, Português language, 2013, Boitempo) 5 stars

Tradução vencedora do Prêmio Jabuti de Melhor Tradução (2014). O clássico de Marx foi originalmente …

Observando a questão mais de perto, vemos que todo possuidor de mercadorias considera toda mercadoria alheia como equivalente particular de sua mercadoria e, por conseguinte, sua mercadoria como equivalente universal de todas as outras mercadorias. Mas como todos os possuidores de mercadorias fazem o mesmo, nenhuma mercadoria é equivalente universal e, por isso, tampouco as mercadorias possuem qualquer forma de valor relativa geral na qual possam se equiparar como valores e se comparar umas com as outras como grandezas de valor. Elas não se confrontam, portanto, como mercadorias, mas apenas como produtos ou valores de uso.

Em sua perplexidade, nossos possuidores de mercadorias pensam como Fausto. Era no início a açãoc. Por isso, eles já agiram antes mesmo de terem pensado. As leis da natureza das mercadorias atuam no instinto natural de seus possuidores, os quais só podem relacionar suas mercadorias umas com as outras como valores e, desse modo, como mercadorias na medida em que as relacionam antagonicamente com outra mercadoria qualquer como equivalente universal. Esse é o resultado da análise da mercadoria. Mas somente a ação social pode fazer de uma mercadoria determinada um equivalente universal. A ação social de todas as outras mercadorias exclui uma mercadoria determinada, na qual todas elas expressam universalmente seu valor. Assim, a forma natural dessa mercadoria se converte em forma de equivalente socialmente válida. Ser equivalente universal torna-se, por meio do processo social, a função especificamente social da mercadoria excluída. E assim ela se torna – dinheiro.

O capital by  (Page 161)

Machado de Assis: Memórias póstumas de Brás Cubas (Hardcover, Português language, Editora Antofágica) No rating

Brás Cubas está morto. Mas isso não o impede de relatar em seu livro os …

Estas memórias, apesar de vestidas com a elegância sepulcral de Cubas, narram uma das mais entediantes vidas. Palavras vindas do além-túmulo, de um narrador afiado, já em sua última edição, escreve com troça e erudição o que seria a essência de sua vida. Que vida sacal! Às favas seus amores vulgares, às favas Marcela, Eugênia, Virgília. Às favas seus sonhos burgueses, às favas seu ministério, seu jornal ou seu emplastro.

Machado traçou um retrato dos representantes da alta sociedade brasileira. E, apesar de escrever com maestria, não me interesso por essa vida de Cubas.

Karl Marx: O capital (Paperback, Português language, 2013, Boitempo) 5 stars

Tradução vencedora do Prêmio Jabuti de Melhor Tradução (2014). O clássico de Marx foi originalmente …

O caráter misterioso da forma-mercadoria consiste, portanto, simplesmente no fato de que ela reflete aos homens os caracteres sociais de seu próprio trabalho como caracteres objetivos dos próprios produtos do trabalho, como propriedades sociais que são naturais a essas coisas e, por isso, reflete também a relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação social entre os objetos, existente à margem dos produtores. É por meio desse quiproquó que os produtos do trabalho se tornam mercadorias, coisas sensíveis-suprassensíveis ou sociais. A impressão luminosa de uma coisa sobre o nervo óptico não se apresenta, pois, como um estímulo subjetivo do próprio nervo óptico, mas como forma objetiva de uma coisa que está fora do olho. No ato de ver, porém, a luz de uma coisa, de um objeto externo, é efetivamente lançada sobre outra coisa, o olho. Trata-se de uma relação física entre coisas físicas. Já a forma-mercadoria e a relação de valor dos produtos do trabalho em que ela se representa não tem, ao contrário, absolutamente nada a ver com sua natureza física e com as relações materiais [dinglichen] que dela resultam. É apenas uma relação social determinada entre os próprios homens que aqui assume, para eles, a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Desse modo, para encontrarmos uma analogia, temos de nos refugiar na região nebulosa do mundo religioso. Aqui, os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, como figuras independentes que travam relação umas com as outras e com os homens. Assim se apresentam, no mundo das mercadorias, os produtos da mão humana. A isso eu chamo de fetichismo, que se cola aos produtos do trabalho tão logo eles são produzidos como mercadorias e que, por isso, é inseparável da produção de mercadorias.

O capital by  (Page 147 - 148)

O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo

Immanuel Kant: Crítica da Razão Pura (Paperback, Português language, Edipro) 4 stars

Publicada pela primeira vez em 1781, a Crítica da Razão Pura é um divisor de …

Assim, quisemos dizer que toda nossa intuição nada mais é do que a representação do fenômeno; que as coisas que intuímos não são em si mesmas o que intuímos serem elas, nem são suas relações de tal modo constituídas em si mesmas como a nós aparecem, e que, se suprimirmos nosso sujeito ou mesmo apenas a constituição subjetiva dos sentidos em geral, toda a constituição, todas as relações dos objetos no espaço e tempo, até os próprios espaço e tempo desapareceriam, e como fenômenos não podem existir em si mesmos, mas apenas em nós.131 A nós permanece totalmente desconhecido qual possa ser a condição com os objetos em si e abstraídos de toda essa receptividade de nossa sensibilidade. Nada conhecemos senão nosso modo de percebê-los, que nos é característico e, ademais, não diz respeito necessariamente a todo ser, ainda que decerto diga respeito a todo ser humano. É só dele que temos de nos ocupar. B60 Espaço e tempo são as suas formas puras, a sensação em geral, sua matéria. Aquelas132 somente podemos conhecê-las a priori, isto é, antes de toda percepção real e, assim, são chamadas de intuição pura; esta, porém, é o que em nosso conhecimento o faz ser chamado de conhecimento a posteriori, isto é, intuição empírica. As formas vinculam-se à nossa sensibilidade de maneira absolutamente necessária, independentemente da espécie de sensações que possamos ter; estas podem A43 ser muito diversas. Mesmo se pudéssemos conduzir essa nossa intuição ao grau máximo de nitidez, não chegaríamos com isso mais perto da constituição dos objetos em si mesmos. Com efeito, em quaisquer casos, nos manteríamos conhecendo por completo apenas nosso modo de intuição, isto é, nossa sensibilidade, e esta sempre apenas sob as condições originalmente dependentes do sujeito, de espaço e de tempo; o que possam ser os objetos em si mesmos jamais seria conhecido mesmo mediante o mais esclarecedor conhecimento de seu fenômeno, o único que nos é dado.

Daí dizer que nossa inteira sensibilidade nada é senão a confusa representação das coisas, contendo meramente aquilo que a elas diz respeito em si mesmas, mas apenas sob um amontoado de marcas e representações parciais, que não distinguimos conscientemente umas das outras, constitui uma adulteração do conceito de sensibilidade e de fenômeno que torna toda a doutrina deles inútil e vazia. A diferença entre uma representação sem nitidez B61 e a nítida é meramente lógica, e não diz respeito ao conteúdo. Indubitavelmente, o conceito de direito de que se serve o entendimento saudável contém precisamente as mesmas coisas que a mais sutil especulação pudesse dele desenvolver, somente no uso comum e prático, não se estando consciente dessas representações múltiplas nesses pensamentos. Por conseguinte, não se pode dizer que o conceito comum é sensível e contém A44 um mero fenômeno, pois o direito não pode de modo algum aparecer, mas seu conceito está no entendimento e representa uma constituição (a constituição moral) de ações que lhes cabem em si mesmas. Pelo contrário, a representação de um corpo na intuição nada contém em absoluto que pudesse caber a um objeto em si mesmo, mas meramente o fenômeno de algo e o modo em que somos por ele afetados; e essa receptividade de nossa capacidade cognitiva denomina-se sensibilidade e se mantém grandemente distinta do conhecimento do objeto em si, mesmo que se pudesse perscrutar até o seu âmago (o fenômeno).

Crítica da Razão Pura by  (Page 76 - 77)