Pois se percebe claramente que pensar, ou melhor, que conhecer só é realmente conhecer quando é mais do que a mera consciência de si mesmo - quando, portanto, dirige-se a um outro, ou seja, quando não permanece na mera tautologia. Se pretendemos conhecer algo, então queremos - caso possam me perdoar 122 a sutileza didática e professoral-// justamente conhecer algo, e não simplesmente permanecer às voltas apenas com o ato de conhecer. Em outras palavras, queremos ir além do âmbito de nosso mero pensar. Entretanto, de outro lado, justamente pelo fato de que pretendemos conhecer esse algo, ele se torna também um momento do nosso pensar, torna-se ele mesmo conhecimento e, portanto, torna-se propriamente também espírito. Conhecer significa sempre tanto quanto acolher, em nossa pró- pria consciência, aquilo que se nos contrapõe como estranho [fremd] , não idêntico [unidentisch] e, assim, significa, em certa medida, nos apropriarmos dele, fazer dele nossa própria coisa. E esse paradoxo, segundo o qual conhecer significa, por um lado, verter algo numa identidade [conosco], mas, ainda as- sim, relacionar-se a algo que não nos é idêntico - justamente porque, se assim não fosse, não se trataria aqui realmente de conhecer - esse paradoxo, de outro modo insolúvel, compele propriamente ao esforço do conceito, àquele processo da verdade que se desdobra a si mesma, assim como também, paralelamente, do pensar que se desdobra a si próprio - processo que aqui nos referimos com o nome de "dialética".
— Introdução à dialética by Theodor W. Adorno (Page 236 - 237)