Hegel foi extraordinariamente cético em relação ao conceito de exemplo. Há, na Enciclopédia, algumas passagens em que ele rechaça, com certo gesto de superioridade, a exigência de que deveria fornecer exemplos. 112 Por que motivo Hegel acabou por proceder assim, por que é que ele se recusa a dar exemplos - e há certa dificuldade para a consciência pré-dialética em compreendê-lo// corretamente a esse respeito-, isto vocês poderão perceber facilmente. Pois o exemplo sempre pressupõe que exista uma extensão conceituai geral que seria segura, dada positivamente, enquanto resultado e valendo como uma coisa, que poderia ser, portanto, exemplificada por um particular. No entanto, para Hegel, as coisas se passam de tal maneira que essa relação de uma extensão lógica geral, sob a qual o particular é pensado, encontra-se em suspensão [suspendiert]. De todo modo, estamos aqui no plano do conceito especulativo, onde isso justamente se manifesta: não há aqui nenhuma extensão conceitua! geral que compreenda sob si tais e tais coisas. Ao contrário, em Hegel, a extensão conceituai geral consistiria na própria vida do particular pensado sob ela; ela se preenche por meio do particular, não sendo para ela simplesmente o caso de o estar abarcando, mas origina-se do particular tendo nele sua vida e, portanto, nenhum particular é capaz de ser propriamente considerado como uma ilustração [Exempel] simplesmente morta, como que derivada dela. E é isso, na verdade, que torna tão extraordinariamente difícil, sempre que se exige de alguém que pense dialeticamente, reivindicar que forneça um exemplo da dialética.
— Introdução à dialética by Theodor W. Adorno (Page 208 - 209)