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Ralf Ludwig: Fenomenologia do espírito (Portuguese language, Editora Vozes) No rating

A obra mais famosa de Hegel foi a Fenomenologia do espírito, publicada no ano de …

Começamos com uma introdução suave sobre o conceito hegeliano de dialética. De início, espantados, tomamos conhecimento por vez primeira que o ponto de partida da dialética não se encontra num emaranhado, distante do mundo, de especulações abstratas, mas no simples conceito do amor. No amor, Hegel encontra um acontecimento fiel da verdade, que perpassa toda a realidade. O que Hegel diz sobre o amor é um tesouro precioso do pensamento humano, que faz com que pareçam supérfluas toneladas de romances amorosos.

Ali é um ser humano, um eu singular que ama. Até o presente, sua personalidade repousa em si mesmo. Ele posta-se soberano sobre seus próprios pés. (Se alguém quiser fazer essa ligação, pode chamar a isso de tese: o eu afirma a si mesmo e concebe-se como autoposição.)

Mas no amor acontece algo de bem próprio. A pessoa que é atingida sai de si mesma, esquece de si e se entrega a uma dedicação total. Essa é uma clara negação, uma negação de seu eu originário (essa seria a antítese). Se só se restringisse a essa negação, as consequências seriam sujeição e um fim trágico.

Mas agora acontece algo decisivo. Na dedicação à pessoa amada, na entrega da própria personalidade o que ama volta e encontra a si mesmo, experimenta a si mesmo de forma totalmente nova, ele se vê no outro e se depara ali com uma profundidade inusitada. Hegel diria em tal caso que essa síntese é a negação da primeira negação: nega-se a primeira negação do eu. Com essa dupla negação, a pessoa que ama encontra seu novo eu.

É possível transferir esse modelo de pensamento também ao amor de mãe: posição do eu, alienação e sacrifício na criança, suspensão da alienação no amor: o sacrifício já não é mais um sacrifício.

O exemplo que o próprio Hegel apresenta no “prefácio”, a respeito do processo por que passa o botão, transformando-se em flor e depois em fruto, confirma esse conhecimento que retiramos aqui do fenômeno do amor: A realidade encontra-se num movimento! Nesse sentido, a dialética não é um método de astúcia, com o qual repercutimos a realidade a partir de fora, mas é um movimento que perpassa tudo que é como uma lei. A dialética é uma lei de movimento da vida

Fenomenologia do espírito by  (Page 39 - 40)