Eu havia dito, a respeito da questão do padrão de medida, que a única possibilidade que a dialética considera nesse con- texto é, precisamente, a de um padrão de medida imanente. E acredito que, se em algum lugar o pensamento contemporâneo deve aprender com a dialética hegeliana, então que seja justamente neste ponto mais decisivo: a exigência formulada por Hegel de que o pensamento não deve trazer de fora padrões para medir uma coisa, tal como é a marca da época atual, mas, ao contrário, que deve abandonar-se à coisa mesma, podendo obter o padrão de medida apenas dela própria - por meio, tal como Hegel diz, do "puro observar". 289 Nisso reside o momento decisivo da dialética, de acordo com o qual o objeto, para o qual o pensamento dialético se dirige, não é em si não qualificado, que, apenas quando o encobrimos com nossa rede categorial, tem suas determinações detectadas. Ao contrário, o objeto é antes já determinado - em outras palavras, para a dialética não há objeto que, justamente na medida em que se nos apresenta como objeto determinado, não contenha, dentro de si mesmo, o pensamento, que não contenha em si mesmo sujeito. Em outras palavras, nesse ponto reside, na dialética, um momento de idealismo, a saber, justamente o indício da subjetividade enquanto algo mediado, momento que tem também de ser re- tido, por mais que, de um ponto de vista mais abrangente, devamos nos posicionar crítica e ceticamente contra a pretensão do idealismo de compreender o mundo ou de produzi-lo a partir de si mesmo. De outro lado, essa compreensão não é idealista, uma vez que o momento aqui, que há pouco caracterizei como o momento subjetivo, representa tão somente um momento. E também porque o conceito de subjetividade, que se encontra aí subjacente, representa um abstraktum, uma abstração feita a partir de sujeitos vivos, de seres humanos vivos, cujo pensar pertence à determinação dos opostos; e, por fim, porque, justa- mente em virtude desse caráter abstrato [Abstraktheit], por causa dessa inverdade, caso queiram chamar assim, não pode por seu 273 turno ser absolutizado, // não pode ser transformado em um existente-em-si. Ao contrário, o sujeito é algo necessariamente mediado pelo objeto, da mesma maneira como, inversamente, o objeto é mediado precisamente pelo pensamento.
— Introdução à dialética by Theodor W. Adorno (Page 463 - 464)