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Liev Nikolayevich Tolstói: Uma confissão (Paperback, Editora Mundo Cristao, Erectogen) No rating

Minha vida parou. Eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, …

Na época, eu não percebi isso. Só de vez em quando, não a razão, mas o sentimento se rebelava contra essa superstição generalizada em nosso tempo, com a qual as pessoas escondem de si mesmas a própria incompreensão da vida. Assim, em minha temporada em Paris, a execução pública de uma pena de morte denunciou, para mim, a precariedade da minha superstição no progresso. Quando vi a cabeça separar-se do corpo e ouvi o barulho das duas partes batendo dentro de uma caixa, entendi — não com a razão, mas com todo o ser — que nenhuma teoria da racionalidade do que existe e do progresso é capaz de justificar aquela ação e que, mesmo que todas as pessoas do mundo, por força de quaisquer teorias, desde a criação do mundo, achem que isso é necessário, eu sei que não é necessário, sei que é ruim e que, portanto, ao avaliar o que é bom e necessário, não sigo o que as pessoas dizem e fazem, nem o progresso, mas meu coração. Outro exemplo de compreensão da insuficiência da superstição no progresso para a vida foi a morte de meu irmão. Homem inteligente, bondoso, sério, adoeceu jovem, sofreu mais de um ano e morreu entre tormentos, sem entender por que vivia e, menos ainda, por que morria. Nenhuma teoria foi capaz de dar resposta a essas perguntas, nem para mim nem para ele, na hora de sua agonia lenta e torturante.

Uma confissão by  (Page 23)