À caça por novos estímulos, excitações e vivências, perdemos hoje a capacidade de repetição. Aos dispositivos neoliberais como autenticidade, inovação ou criatividade é inerente uma coação permanente ao novo. Eles produzem, contudo, ao fim e ao cabo, apenas variações do igual. O velho, o sido, que admite uma repetição realizadora, é abolido, pois se opõe à lógica do aumento de produção. Repetições, contudo, estabilizam a vida. Sua característica essencial é o encasamento.
O novo cai logo na rotina. É mercadoria que se gasta e provoca novamente a necessidade de algo novo. A coação de ter que rejeitar o rotineiro produz mais rotina. É inerente ao novo uma estrutura de tempo que logo esmaece em rotina. A coação de produção como coação ao novo apenas aprofunda o atoleiro da rotina. Para escapar da rotina, do vazio, consumimos ainda mais coisas novas, novos estímulos e vivências. Justamente a sensação de vazio impulsiona a comunicação e o consumo. A "vida intensiva" como reclame do regime neoliberal não é outra coisa do que consumo intensivo. Face à ilusão da "vida intensiva" vale refletir sobre uma outra forma de vida que seja mais intensiva do que o consumo e a comunicação contínuos
— O desaparecimento dos rituais by Byung-Chul Han (Page 22 - 23)