“Espírito” vem da palavra latina “respirar”. O que respiramos é ar, que é realmente matéria, por sutil que seja. A pesar do uso em sentido contrário, a palavra “espiritual” não implica necessariamente que falemos de algo distinto da matéria (incluindo a matéria da que parece o cérebro), ou de algo alheio ao reino da ciência. Em ocasiões usarei a palavra com toda liberdade. A ciência não só é compatível com a espiritualidade mas também é uma fonte de espiritualidade profunda. Quando reconhecemos nosso lugar em uma imensidão de anos luz e no passo das foi, quando captamos a complicação, beleza e sutileza da vida, a elevação deste sentimento, a sensação combinada de regozijo e humildade, é sem dúvida espiritual. Assim são nossas emoções em presença da grande arte, a música ou a literatura, ou ante os atos de altruísmo e valentia exemplar como os da Mohadma Gandhi ou Martin Luther King, Jr. A ideia de que a ciência e a espiritualidade se excluem mutuamente de algum modo disposta um fraco serviço a ambas.
— O Mundo Assombrado Pelos Demônios by Carl Sagan (Page 48)