Miguel Medeiros quoted Sociedade paliativa by Byung-Chul Han
Hoje impera por todo lugar uma algofobia, uma angústia generalizada diante da dor. Também a tolerância à dor diminui rapidamente. A algofobia tem por consequência uma anestesia permanente. Toda condição dolorosa é evitada. Tornam-se suspeitas, entrementes, também as dores de amor. A algofobia se prolonga no social. Conflitos e controvérsias que poderiam levar a confrontações dolorosas têm cada vez menos espaço. A algofobia se estende também à política. A coação à conformidade e a pressão por consenso crescem. A política se orienta em uma zona paliativa e perde toda vitalidade. A “falta de alternativa” é um analgésico político. O “centro” difuso atua paliativamente. Em vez de debater e lutar pelos melhores argumentos, entregamo-nos à compulsão por sistema [Systemzwang]. Uma pós-democracia se anuncia. Ela é uma democracia paliativa. Por isso, Chantal Mouffe demanda uma “política agonística”, que não evita confrontações dolorosas[2]. A política paliativa não é capaz de visões ou de reformas penetrantes. Ela prefere tomar analgésicos de curto efeito, que apenas aceleram disfunções e rejeições. A política paliativa não tem nenhuma coragem para a dor. Desse modo, o igual [das Gleiche] avança.
— Sociedade paliativa by Byung-Chul Han (Page 9 - 11)