Miguel Medeiros quoted Sociedade paliativa by Byung-Chul Han
O dispositivo de felicidade neoliberal nos distrai do sistema de dominação [Herrschaftszusammenhang] existente ao nos obrigar apenas à introspecção da alma. Ele cuida para que cada um se ocupe apenas ainda consigo mesmo, com a sua própria psyché, em vez de interrogar criticamente as relações sociais. O sofrimento pelo qual a sociedade seria responsável é privatizado e psicologizado. Devem se melhorar não as condições sociais, mas sim as da alma. A demanda pela otimização da alma, que, na realidade, obriga a uma adequação às relações de dominação, oculta misérias sociais. Assim, a psicologia positiva sela o fim da revolução. Não revolucionários, mas treinadores de motivação tomam o palco, e cuidam para que não surja nenhum descontentamento [Unmut], sim, nenhuma raiva [Mut]: “Na véspera da crise econômica mundial na década de 1920, com as suas extremas oposições sociais, houve muitos representantes dos trabalhadores e ativistas radicais que denunciaram o excesso dos ricos e a miséria dos pobres. No século XXI, em contrapartida, uma ninhada numerosa e inteiramente diferente de ideólogos disseminou o contrário – que, em nossa sociedade profundamente desigual, tudo estaria bem, e que, para aqueles que se esforçassem, ficaria ainda melhor. Motivadores e outros representantes do pensamento positivo tinham uma boa oferta para as pessoas que, por causa do mercado de trabalho constantemente oscilante, estavam à beira da ruína econômica: Dê boas-vindas a toda ‘mudança’ angustiante e a veja como uma oportunidade”[21].
— Sociedade paliativa by Byung-Chul Han (Page 27 - 29)