Miguel Medeiros quoted Sociedade paliativa by Byung-Chul Han
O dispositivo de felicidade individualiza o ser humano e leva à despolitização e à dessolidarização da sociedade. Cada um tem de cuidar da própria felicidade. Ela se torna um assunto privado. Também o sofrimento é interpretado como resultado do próprio fracasso. Assim há, em vez de revolução, depressão. Enquanto buscamos curar nossa própria alma, perdemos de vista os contextos sociais que levam a rejeições sociais. Se medos e incertezas nos assolam, responsabilizamos não a sociedade, mas nós mesmos por isso. O fermento da revolução é, porém, a dor sentida em comum. O dispositivo de felicidade neoliberal a sufoca no [seu] germe. A sociedade paliativa despolitiza a dor ao medicalizá-la e privatizá-la. É oprimida e reprimida, assim, também a dimensão social da dor. Nenhum protesto parte daquelas dores crônicas que podem ser interpretadas como fenômenos da sociedade do cansaço. O cansaço na sociedade do desempenho neoliberal é não político porque representa um cansaço-do-Eu [Ich-Müdigkeit]. Ele é um sintoma do sujeito do desempenho sobrecarregado e narcísico. Ele individualiza as pessoas, em vez de ligá-las em um Nós. Ele deve ser distinguido daquele cansaço-do-Nós [Wir-Müdigkeit], que promove a comunidade. O cansaço-do-Eu é a melhor profilaxia contra a revolução.
— Sociedade paliativa by Byung-Chul Han (Page 30 - 31)