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Byung-Chul Han: A expulsão do outro (Paperback, 2022, Editora Vozes) No rating

A proliferação do igual é uma “plenitude na qual transluz ainda apenas o vazio”. A …

Hoje se fala muito de autenticidade. Ela surge em toda propaganda do neoliberalismo com uma roupagem emancipatória. Ser autêntico significa ser livre de modelos de expressão e comportamento pré-definidos, prescritos de fora [de nós]. Dela parte a compulsão de ser igual apenas a si mesmo, de se definir apenas por si mesmo; sim, de ser autor e inventor de si mesmo. O imperativo da autenticidade desenvolve uma compulsão por si, uma compulsão de se questionar, se escutar, se espiar, se cercear. Ele acentua, assim, a autorreferência narcísica. A compulsão por autenticidade compele o eu a produzir a si mesmo. A autenticidade é, em última instância, a forma de produção neoliberal do si. Ela faz de todos produtores de si mesmos. O eu como empreendedor de si mesmo produz a si, performa a si mesmo, e oferece a si mesmo como mercadoria. A autenticidade é um ponto de venda. O esforço pela autenticidade de ser igual apenas a si mesmo desencadeia uma comparação [Vergleich] permanente com o outro. A lógica do equi-parar [Ver-Gleichens] faz o ser-outro [Anderssein] se inverter no ser-igual [Gleichsein]. Assim, a autenticidade do ser diferente consolida a conformidade social. Ela permite apenas as diferenças conformes ao sistema; a saber, a diversidade. A diversidade como termo neoliberal é um recurso que se deixa explorar. Assim, ela é oposta à alteridade, que se furta a toda utilização econômica. Hoje, todos querem ser diferentes do outro. Mas, nesse querer-ser-diferente, o igual se perpetua. Aqui, estamos lidando com uma conformidade de nível superior. O ser igual se afirma por meio do ser diferente. A autenticidade do ser diferente impõe até mesmo de maneira mais eficiente a conformidade do que a uniformização repressiva. Esta é muito mais frágil do que aquela. [...] Como uma estratégia neoliberal de produção, a autenticidade produz diferenças comoditificáveis [kommodifizierbare]. Assim, ela aumenta a pluralidade de mercadorias com as quais a autenticidade é materializada. Os indivíduos expressam a sua autenticidade sobretudo por meio do consumo. O imperativo da autenticidade não leva à formação de um indivíduo autônomo, soberano. Antes, ele é completamente cobrado pelo comércio. O imperativo da autenticidade produz uma compulsão narcísica. O narcisismo não é idêntico ao saudável amor-próprio, que não tem nada de patológico. O amor-próprio não exclui o amor pelo outro. O narcisista, em contrapartida, é cego frente ao outro. O outro é dobrado até que o ego se reconheça nele. O sujeito narcisista percebe o mundo apenas como sombras de si mesmo. A consequência fatal: o outro desaparece. As fronteiras entre o si e o outro se dissipam. O si se difunde e se torna difuso. O eu se afoga no si. Um si estável surge, em contrapartida, apenas em vista do outro. A autorreferência excessiva e narcisista produz, em contrapartida, um sentimento de vazio.

A expulsão do outro by  (Page 37 - 41)