Miguel Medeiros quoted Brasil by Lilia Moritz Schwarcz
Enquanto isso, no Brasil, para provar que a República vinha para ficar, alteravam-se rapidamente nomes e símbolos, na tentativa de dar mais concretude à mudança efetiva de regime. O largo do Paço passou a se chamar 15 de Novembro; a Estrada de Ferro Pedro II, Central do Brasil; o Colégio Pedro II, Colégio Nacional; o vistoso conjunto de residências denominado Vila Ouro Preto foi batizado de Vila Rui Barbosa. Os motivos impressos no papel-moeda circulante também foram alterados, e rapidamente: saiu d. Pedro II e a monarquia, entraram as imagens da nova República dos Estados Unidos do Brasil. A voga chegou aos nomes próprios, que começaram a se inspirar nos modelos republicanos norte-americanos — Jefferson, Franklin, Washington. Até mesmo o termo “corte” foi trocado, por decreto, por “capital federal”; isso a despeito de a população, acostumada com o nome antigo, acabar por mantê-lo. Uma nova lista de festas nacionais substituiria as antigas datas do Almanack Laemmert, famoso noticioso do Império: o dia 1º de janeiro celebraria a “fraternidade universal”, 13 de maio, “a fraternidade dos brasileiros”, 14 de julho, “a República”, e 21 de abril “os precursores”. Neste último caso, tratava-se de consagrar a figura de Tiradentes, o único rebelde condenado à morte durante a Conjuração Mineira de 1789. No entanto, como se desconheciam retratos do herói, o que se viu foi um processo crescente de associação entre a sua figura e a de Cristo: olhar cândido, vestes brancas com um crucifixo no peito, cabelos até os ombros, soltos. A partir desse momento, a imagem do novo herói ganharia a iconografia política, que se apropriou de Tiradentes não só como símbolo revolucionário: o mártir que se sacrificou pela República.
— Brasil by Lilia Moritz Schwarcz, Heloisa Murgel Starling (Page 318 - 319)