Miguel Medeiros quoted Brasil by Lilia Moritz Schwarcz
A história que envolveu a escolha de um novo Hino Nacional, logo em 20 de janeiro de 1890, é igualmente significativa. Abriu-se um concurso e o vencedor foi o projeto de Leopoldo Miguez e Medeiros e Albuquerque, que se oficializou como Hino da Proclamação da República. Mas o velho hino de Francisco Manuel da Silva, que não havia nem ao menos entrado na competição, continuou a ser o Hino Nacional. “Prefiro o velho”, teria dito o marechal Deodoro, não obstante a suspeita de que fosse de autoria de d. Pedro I. Até mesmo a bandeira nacional, a despeito das interpretações surgidas a posteriori (que explicavam o verde como uma referência às matas do país, e o amarelo como uma alusão às riquezas minerais), seguia ostentando seus vínculos com a tradição imperial: o verde, cor heráldica da Casa Real Portuguesa de Bragança; o amarelo, cor da Casa Imperial Austríaca de Habsburgo. Além disso, o desenho republicano reaproveitou o losango da bandeira imperial, apenas retirando o brasão monárquico com as armas imperiais aplicadas e introduzindo o lema positivista de “Ordem e Progresso”. Assim, apesar dos esforços, continuava enraizado na nação um incômodo imaginário monárquico, presente até hoje não só em elementos da retórica patriótica como numa concepção de sociedade ainda impregnada pela mística dos títulos de nobreza, das ordens honoríficas e dos rituais de consagração.
— Brasil by Lilia Moritz Schwarcz, Heloisa Murgel Starling (Page 319)