- Aos conceitos de tudo, muitos e um opõe-se o conceito daquilo que tudo suprime, isto é, nenhum, com o que o objeto de um conceito ao qual nenhuma intuição passível de ser dada corresponde é = nada, isto é, um conceito sem objeto, como os noúmenos, que não pode ser computado entre as possibilidades, ainda que em razão disso não devam ser afirmados como impossíveis (ens rationis855), ou como algo tal como certas forças fundamentais novas, que decerto se pensa sem contradição, mas também sequer são pensadas sem exemplo da experiência, e que, portanto, não devem ser computadas entre as possibilidades.
- Realidade é algo, negação é nada, nomeadamente, um conceito da falta de um objeto, como a sombra, o frio (nihil privativum).
- A mera forma da intuição, sem substância, não é em si objeto algum, mas sua mera condição formal (na qualidade de fenômeno), como o espaço puro, e o tempo puro, que são, decerto, algo, na qualidade de formas para intuir, mas não são em si objetos que são intuídos (ens imaginarium).
- O objeto de um conceito que contradiz a si mesmo é nada porque o conceito é nada, o impossível, algo como a figura retilínea com dois lados (nihil negativum).
A tabela dessa divisão do conceito do nada (com efeito, a divisão paralela do algo segue-se por si) deve, portanto, ser disposta assim: Nada, na qualidade de: 1. Conceito vazio sem objeto ens rationis 2. Objeto vazio de um conceito nihil privativum 3. Intuição vazia sem objeto ens imaginarium 4. Objeto vazio sem conceito nihil negativum
Vê-se que a coisa-pensamento (nº 1) é distinguida da não-coisa pelo fato de aquela não poder ser computada entre as possibilidades por ser uma mera invenção (ainda que não contraditória), ao passo que essa última opõe-se à possibilidade porque mesmo seu conceito B349 se suprime. Entretanto, ambas são conceitos vazios. O nihil privativum (nº 2) e o ens imaginarium (nº 3), pelo contrário, são dados vazios para conceitos. Se não fosse dada luz aos sentidos, não se poderia representar escuridão alguma, e se seres extensos não fossem percebidos, não se poderia representar espaço algum A negação, assim como a mera forma da intuição, sem uma realidade, não são objetos.
— Crítica da Razão Pura by Immanuel Kant (Page 252 - 254)