Miguel Medeiros quoted O tomismo by Etienne Gilson
A Suma de teologia expõe a demonstração sob a forma que segue. E certo, e nós o constatamos pelos sentidos, que há movimento no mundo. Ora, tudo o que se move é movido por algo. Nada, com efeito, é movido a não ser se está em potência com relação àquilo para o que é movido; e, ao contrário, nada move a não ser que esteja em ato. Afinal, mover algo é fazê-lo passar da potência ao ato. Ora, algo não pode ser levado da potência ao ato senão por um ente em ato, assim, é o quente em ato (por exemplo, o fogo) que torna quente em ato a madeira que só era quente em potência; fazendo-a queimar, move-a e a altera. Mas não é possível que o mesmo ente esteja, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, em ato e em potência. Assim, o quente em ato não pode ser ao mesmo tempo frio em ato, mas apenas frio em potência. É, portanto, impossível que algo seja, da mesma maneira e sob o mesmo aspecto, motor e movido, quer dizer, que ele se mova a si mesmo. Por ai vemos que tudo o que se move é movido por algum outro. Se, porém, aquilo pelo que algo é movido está ele mesmo em movimento, é porque ele é movido por sua vez por algum outro motor, o qual é movido por outro, e assim por diante. Mas não se pode recuar aqui até o infinito, porque não haveria, então, primeiro motor nem, por conseguinte, nenhum motor, visto que um motor segundo não move a não ser que um primeiro o mova, tal como o bastão que não move senão porque a mão imprime-lhe movimento. É, portanto, necessário, para explicar o movimento, recuar até um primeiro motor ao qual nada mova, quer dizer, Deus.
— O tomismo by Etienne Gilson