Miguel Medeiros quoted Atos humanos by Han Kang
Por não querer ser um fardo para ninguém, voltou a estudar. Com a intenção de partir para o lugar mais longe possível, candidatou-se à universidade em Seul. É claro que aquele local não era um refúgio. Policiais à paisana sempre rondavam pelo campus, e os estudantes eram levados à força pelos militares e inscritos no posto de fronteira. Com frequência, não se podia fazer assembleias, dado o alto risco. Era uma luta na qual se arriscava a vida. Quando as janelas da biblioteca principal eram quebradas pelo lado de dentro e uma faixa comprida era estendida ao longo das paredes externas, isso era um sinal. DERRUBE O ASSASSINO DUWHAN JEON. Um estudante, com a ponta de uma corda amarrada na cintura e a outra presa a uma coluna no terraço, jogava-se do telhado para ganhar tempo, enquanto um policial subia e puxava a corda. Pendurado na corda, o estudante distribuía os panfletos e gritava o lema, e cerca de trinta ou quarenta jovens, homens e mulheres, criavam um tumulto e cantavam na praça em frente à biblioteca. A repressão era agressiva e rápida, e nenhuma canção prosseguia até o final. Nos dias em que você observava aquilo de longe, dormia mal à noite. Mesmo depois de conseguir adormecer, tinha pesadelos e acordava.
— Atos humanos by Han Kang (Page 94)