O intercâmbio de mercadorias constitui, junto com os investimentos diretos no exterior e os empréstimos, a camisa de força da divisão internacional do trabalho. Os países do chamado Terceiro Mundo permutam entre si pouco mais de uma quinta parte de suas exportações, ao passo que as três quartas partes do total de suas vendas exteriores são direcionadas para os centros imperialistas de que são tributários[1]. Em sua maioria, os países latino-americanos se identificam, no mercado mundial, com uma matéria-prima ou com um só alimento[2]. A América Latina dispõe de lã, algodão e fibras naturais em abundância, e conta com uma indústria têxtil já tradicional, mas participa em apenas 0,6 por cento das compras de fios e tecidos da Europa e Estados Unidos. A região foi condenada a vender sobretudo produtos primários, para dar trabalho às fábricas estrangeiras, e acontece que esses produtos “são exportados, em sua grande maioria, por fortes consórcios com vinculações internacionais, que dispõem de influências suficientes nos mercados mundiais para colocar seus produtos nas condições mais convenientes”[3], mas nas mais convenientes para eles, que geralmente expressam os interesses dos países compradores: isto é, a preços mais baixos. Nos mercados internacionais há um virtual monopólio da demanda de matérias-primas e da oferta de produtos industrializados; já os oferentes de produtos básicos, também compradores de bens acabados, operam dispersos: alguns, fortes, atuam congregados em torno da potência dominante, Estados Unidos, que consome quase tanto quanto o resto do planeta; os outros, os fracos, operam isolados, oprimidos contra oprimidos. Nunca existiu nos chamados mercados internacionais o chamado livre jogo da oferta e da procura, e sim uma ditadura, sempre em proveito dos países capitalistas desenvolvidos. Os centros de decisão onde os preços são fixados se encontram em Washington, Nova York, Londres, Paris, Amsterdam e Hamburgo: nos conselhos de ministros e na Bolsa. Pouco ou nada adianta que tenham assinado, com pompa e barulho, acordos internacionais para proteger os preços do trigo (1949) do açúcar (1953), do estanho (1956), do azeite de oliva (1956) e do café (1962). Basta olhar a curva descendente do valor relativo desses produtos para constatar que os acordos nada significaram senão simbólicas desculpas que os países fortes apresentaram aos países fracos quando os preços de seus produtos alcançaram níveis escandalosamente baixos. Cada vez vale menos o que a América Latina vende e, comparativamente, cada vez vale mais o que ela compra.
— As Veias Abertas da América Latina by Eduardo Galeano (Page 313 - 315)