Há anjos que ainda acreditam que todos os países terminam na linha de suas fronteiras. São aqueles que afirmam que os Estados Unidos pouco ou nada tem a ver com a integração latino-americana, uma vez que não fazem parte da Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC) nem do Mercado Comum Centro-Americano. Como queria o libertador Simón Bolívar, dizem, essa integração não vai além do limite entre o México e seu poderoso vizinho do norte. Aqueles que sustentam
esse critério seráfico esquecem – interesseira amnésia – que uma legião de piratas, mercadores, banqueiros, marines, embaixadores e capitães de empresa norte-americanos, ao longo de uma história negra, apossaram-se da vida e do destino da maioria dos povos do Sul, e que atualmente também a indústria da América Latina jaz no fundo do aparelho digestivo do Império. “Nossa” união faz a “sua” força, na medida em que os países, ao não romper previamente com os moldes do subdesenvolvimento e da dependência, integram suas respectivas servidões.
— As Veias Abertas da América Latina by Eduardo Galeano (Page 333 - 334)