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Cezar A. Mortari: Introdução à Lógica (Paperback, Português language, 2017, Editora Unesp) No rating

Ao contrário do que pensam alguns, a lógica é uma ciência apaixonante e viva, fruto …

Além de considerar que argumentos são válidos ou inválidos, tradicionalmente tem sido também feita uma distinção entre argumentos dedutivos e indutivos. É costume diferenciá-los dizendo que os argumentos dedutivos são não ampliativos, isto é, num argumento dedutivo, tudo o que está dito na conclusão já foi dito, ainda que implicitamente, nas premissas. Argumentos indutivos, por outro lado, seriam ampliativos, ou seja, a conclusão diz mais, vai além, do que o afirmado nas premissas.

Essa maneira de colocar as coisas, porém, é um tanto insatisfatória, pois não fica claro quando é que a conclusão diz só o afirma do nas premissas e quando diz mais do que isso. Uma saída seria dizer que a conclusão não diz mais do que está dito nas premissas se ela for consequência lógica das premissas e então estaríamos identificando argumento dedutivo e argumento válido, o que fazem muitos autores. Num sentido estrito, portanto, podemos começar dizendo que um argumento é dedutivo se e somente se ele for vá lido. Contudo, há um sentido mais amplo em que um argumento, ainda que invalido, pode ser chamado de dedutivo: quando há a in tenção, por parte de quem constrói ou apresenta o argumento, de que sua conclusão seja consequência lógica das premissas, ou seja, a pretensão de que a verdade de suas premissas garanta a verdade da conclusão. [...] Porém, independentemente de usarmos o termo 'dedutivo' num sentido estrito ou amplo, nem todos os argumentos que usamos são dedutivos, ou seja, nem sempre pretendemos que a conclusão do argumento seja uma consequência lógica das premissas. Muitas vezes raciocinamos por analogia, ou usando probabilidades - conforme os exemplos a seguir, nos quais se pretende apenas que a conclusão seja altamente provável, dado que as premissas são verdadeiras (A7) P 80% dos entrevistados vão votar no candidato X

►80% de todos os eleitores vão votar em X.

ou então:

(A8) P₁ Esta vacina funcionou bem em macacos.

P₂ Esta vacına funcionou bem em porcos.

► Esta vacına vai funcionar bem em seres humanos.

Os argumentos correspondentes a esses tipos de raciocínio são chamados de indutivos. O primeiro deles poderia ser chamado de um argumento estatístico, ao passo que o segundo poderia ser classificado como um argumento por analogia (pois está baseado nas grandes semelhanças entre os organismos de humanos, macacos e porcos). Repetindo, não há a pretensão de que a conclusão seja verdadeira caso as premissas o forem apenas que ela é provavelmente verdadeira ou que temos boas razões para acreditar que ela seja verdadeira

Como veremos em grande parte do que se segue, a lógica contemporânea é dedutiva. Afinal, estamos interessados, ao partir de proposições que sabemos ou supomos verdadeiras, em atingir conclusões das quais tenhamos uma garantia de que também sejam verdadeiras. Nesse sentido, o ideal a ser alcançado é uma linha de argumentação dedutiva, em que a conclusão não pode ser falsa, caso tenhamos partido de premissas verdadeiras.

Porém, na vida real, muitas vezes não temos esse tipo de garantia, e temos de fazer o melhor possível com aquilo de que dispomos É aqui que se abre espaço para argumentos como os indutivos. Mas, ao contrário da lógica dedutiva (que, afinal, é o objeto deste livro), a lógica indutiva não foi igualmente tão desenvolvida. Muitas pro postas foram e têm sido feitas poderíamos mencionar a lógica indutiva de Rudolf Carnap (1891-1970), por exemplo, mas tem sado muito difícil conseguir caracterizar de modo preciso o que seja um argumento indutivamente forte. Quando você diz, por exemplo, que, sendo as premissas verdadeiras, a conclusão é provavelmente verdadeira, qual o grau de probabilidade necessário para que argumento indutivo seja considerado forte? Certamente uma probabilidade de 95% é alta, enquanto uma probabilidade de, digamos, 10% é baixa. Onde, porém, colocar o limite?

Questões como essa sempre dificultaram o desenvolvimento de uma lógica indutiva num grau de sofisticação semelhante ao da lógica dedutiva. A última década, contudo, viu ressurgir um interesse muito grande em esquemas de inferência não dedutivos, em razão de aplicações em inteligência artificial Voltaremos a falar nisso. ainda que de modo breve, no final deste livro, mas, por enquanto. vamos começar estudando a lógica dedutiva.

Introdução à Lógica by  (Page 42 - 44)