9 – Conjunção Conector e transpositor A língua possui unidades que têm por missão reunir orações num mesmo enunciado. Estas unidades são tradicionalmente chamadas conjunções, que se repartem em dois tipos: coordenadas e subordinadas. As conjunções coordenadas reúnem orações que pertencem ao mesmo nível sintático: dizem-se independentes umas das outras e, por isso mesmo, podem aparecer em enunciados separados.
Pedro fez concurso para medicina, e Maria se prepara para a mesma profissão.
Poderíamos dizer desta maneira, em dois enunciados independentes:
Pedro fez concurso para medicina. Maria se prepara para mesma profissão.
Daí ser a conjunção coordenativa um conector. Como sua missão é reunir unidades independentes, pode também “conectar” duas unidades menores que a oração, desde que do mesmo valor funcional dentro de mesmo enunciado. Assim:
Pedro e Maria (dois substantivos) Ele e ela (dois pronomes) Ele e Maria (um pronome e um substantivo) rico e inteligente (dois adjetivos) ontem e hoje (dois advérbios) saiu e voltou (dois verbos) com e sem dinheiro (duas preposições)
Bem diferente é, entretanto, o papel da conjunção subordinada. No enunciado:
Soubemos que vai chover
a missão da conjunção subordinada é assinalar que a oração que poderia ser sozinha um enunciado:
Vai chover
se insere num enunciado complexo em que ela (vai chover) perde a característica de enunciado independente, de oração, para exercer, num nível inferior da estruturação gramatical, a função de palavra, já que vai chover é agora objeto direto do núcleo verbal soubemos.
Assim, a conjunção subordinativa é um transpositor de um enunciado que passa a uma função de palavra, portanto de nível inferior dentro das camadas de estruturação gramatical. Diz-se, por isso, que que vai chover é uma oração “degradada” ao nível da palavra, e isto se deveu ao fenômeno de hipotaxe ou subordinação (Ö 49).
Conjunções aditivas A aditiva apenas indica que as unidades que une (palavras, grupos de palavras e orações) estão marcadas por uma relação de adição. Temos dois conectores aditivos: e (para a adição das unidades positivas) e nem (para as unidades negativas). Vejam-se os exemplos extraídos do Marquês de Maricá:
O velho teme o futuro e se abriga no passado. Uma velhice alegre e vigorosa é de ordinário a recompensa da mocidade virtuosa. A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia. Não emprestes o vosso nem o alheio, não tereis cuidados nem receio.
Muitas vezes, graças ao significado dos lexemas envolvidos na adição, o grupo das orações coordenadas sindéticas ou assindéticas permite-nos extrair um conteúdo suplementar de “causa”, “consequência”, “oposição”, etc.: Vão-se os gatos, estendem-se os ratos (provérbio). Estes sentidos contextuais, importantes na mensagem global, não interessam nem modificam a relação aditiva das unidades envolvidas: Rico e inteligente e rico e desonesto, ambas se unem por uma relação gramatical de adição, embora a oposição semântica existente entre rico e desonesto apresente um sentido suplementar, como se estivesse enunciado rico mas desonesto. O mesmo se dá se uma unidade for afirmativa e outra negativa: rico e não honesto.
Conjunções alternativas Como o nome indica, enlaçam as unidades coordenadas matizando-as de um valor alternativo, quer para exprimir a incompatibilidade dos conceitos envolvidos, quer para exprimir a equivalência deles. A conjunção alternativa por excelência é ou, sozinha ou duplicada junto a cada unidade: “Quando a cólera ou o amor nos visita, a razão se despede” [MM].
Conjunções adversativas Enlaçam unidades apontando uma oposição entre elas. As adversativas por excelência são mas, porém e senão. Ao contrário das aditivas e alternativas, que podem enlaçar duas ou mais unidades, as adversativas se restringem a duas. Mas e porém acentuam a oposição; senão marca a incompatibilidade: “Acabou-se o tempo das ressurreições, mas continua o das insurreições” [MM].
— Moderna Gramática Portuguesa by Evanildo Bechara (Page 351 - 354)