A sociedade provavelmente contribui muito mais para a publicação de um livro impresso do que o autor que o escreveu. O processo mecânico pelo qual o manuscrito inicial é reproduzido em muitos exemplares impressos evoluiu graças aos esforços acumulados de muitas pessoas através de muitas gerações. A aparelhagem com a qual o livro é atualmente impresso exigiu também para sua fabricação o esforço cooperativo de um grupo incontável de indivíduos em dezenas de indústrias. Nenhuma mente isolada algum dia planejou sua coordenação, porém, do mineiro que tira do solo o minério ao tipógrafo que põe em movimento a máquina pronta, houve uma organização de iniciativas e realizações que envolve todo o tecido social. A sociedade empregou para um propósito comum final aquilo que indivíduos pensaram para finalidades imediatas e pessoais. Passou a existir algo diferente e maior do que uma mera soma. O impulso civilizatório cego e inconsciente fez mais do que simplesmente combinar e adicionar a totalidade dessas unidades de vontade consciente. A própria sociedade construiu a imprensa. Enquanto o autor trabalhando sozinho poderia no decorrer de anos fazer alguns exemplares de seu livro e distribuí-los em seu círculo imediato, pessoas de sua comunidade, organizadas como empresa, teriam reproduzido e divulgado seu escrito. Sua dependência, porém, da organização social é mais completa do que isso. A língua que ele emprega e a forma escrita com a qual a registra não são de sua invenção. Esses sons simbólicos e símbolos gráficos não têm outro significado a não ser em virtude de uma convenção social. Suas ideias e os padrões segundo os quais ele as combina são nada mais do que empréstimos tomados do grupo social do qual faz parte. Embora a pena seja guiada pelo escritor, pode-se dizer, em sentido muito real, que comumente ela só pode escrever aquilo que a própria sociedade ditou.
— Uma introdução à biblioteconomia by Pierce Butler (Page 29 - 30)