Miguel Medeiros quoted Árvore e folha by J. R. R. Tolkien
A seguir, depois das estórias de viajantes, eu também excluiria, ou julgaria imprópria, qualquer estória que usasse a maquinaria do Sonho, o sonhar do sono humano real, para explicar a aparente ocorrência de suas maravilhas. No mínimo, mesmo que o sonho relatado fosse em outros aspectos, em si mesmo, uma estória de fadas, eu condenaria o todo como gravemente defeituoso: como uma boa pintura numa moldura desfiguradora. É verdade que o sonho não está desconectado de Feéria. Nos sonhos, estranhos poderes da mente podem ser destrancados. Em alguns deles, um homem pode, por algum tempo, empunhar o poder de Feéria, aquele poder que, mesmo enquanto concebe a estória, faz com que ela tome forma e cor viva diante dos olhos. Um sonho verdadeiro pode, de fato, às vezes, ser uma estória de fadas de facilidade e habilidade quase élficas — enquanto está sendo sonhado. Mas, se um escritor desperto lhe diz que sua estória é só algo imaginado em seu sono, ele engana deliberadamente o desejo primevo no coração de Feéria: a realização, independente da mente que o concebe, do assombro imaginado. Com frequência se relata das fadas (verdadeira ou mentirosamente, eu não sei) que elas são criadoras de ilusões, que são enganadoras dos homens por meio da “fantasia”; mas isso é assunto bem diferente. E é problema delas. Tais truques acontecem, de qualquer forma, dentro de estórias nas quais as fadas não são, elas próprias, ilusões; por trás da fantasia, vontades e poderes reais existem, independentes das mentes e propósitos dos homens.