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J. R. R. Tolkien: Árvore e folha (Portuguese language, HarperCollins) No rating

Apesar de ser universalmente conhecido pelo seu magnum opus, O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien …

Não muito tempo atrás — por incrível que isso possa parecer — ouvi um lente de Oxenford[63] declarar que ele “acolhia” a proximidade de fábricas-robôs de produção em massa e o rugido do trânsito mecânico auto-obstrutivo, porque isso colocava sua universidade em “contato com a vida real”. Ele poderia estar querendo dizer que a maneira como os homens estavam vivendo e trabalhando no século XX estava aumentando em barbárie num ritmo alarmante e que a demonstração barulhenta disso nas ruas de Oxford poderia servir como um aviso de que não é possível preservar, por muito tempo, um oásis de sanidade num deserto de desrazão com meras cercas, sem verdadeira ação ofensiva (prática e intelectual). Temo que ele não tenha dito isso. De qualquer modo, a expressão “vida real” nesse contexto parece ficar aquém dos padrões acadêmicos. A noção de que carros motorizados sejam mais “vivos” do que, digamos, centauros ou dragões é curiosa; a de que eles sejam mais reais do que, digamos, cavalos é pateticamente absurda. Quão real, quão impressionantemente viva é uma chaminé de fábrica comparada a um olmo: pobre coisa obsoleta, sonho insubstancial de um escapista! De minha parte, não consigo me convencer de que o teto da estação Bletchley seja mais “real” que as nuvens. E, como um artefato, eu o acho menos inspirador que o legendário domo do céu. A ponte para a plataforma 4 é, para mim, menos interessante que Bifröst, guardada por Heimdall com o Gjallarhorn.[64] Da selvageria de meu coração eu não consigo excluir a questão de saber se os engenheiros ferroviários, se tivessem sido criados com mais fantasia, não poderiam ter feito melhor com todos os seus meios abundantes do que eles geralmente fazem. Estórias de fadas poderiam ser, acho, melhores Mestres em Artes do que o sujeito acadêmico a quem me referi. Muito do que ele (devo supor) e outros (certamente) chamariam de literatura “séria” não é mais do que brincar debaixo de um teto de vidro ao lado de uma piscina municipal. Estórias de fadas podem inventar monstros que voam no ar ou habitam as profundezas, mas, pelo menos, elas não tentam escapar do céu ou do mar.

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