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C. S. Lewis: Como cultivar uma vida de leitura (Portuguese language, Thomas Nelson Brasil) No rating

Em Como cultivar uma vida de leitura ― coletânea que reúne escritos do abrangente acervo …

Cada época tem um ponto de vista próprio. Cada uma é especialmente boa em enxergar certas verdades e suscetível a cometer certos erros. Todos nós, portanto, precisamos de livros que corrijam os erros característicos de nosso próprio tempo. E isso significa livros antigos. Todos os escritores contemporâneos compartilham, em certa medida, a perspectiva contemporânea — mesmo aqueles que, como eu, mais parecem se opor a ela. Quando leio as controvérsias de tempos passados, nada me impressiona mais do que o fato de que ambos os lados costumam considerar como ponto pacífico muitas coisas que agora negaríamos completamente. Eles acreditavam estar na posição mais oposta possível um do outro, sendo que, na realidade, estavam o tempo todo secretamente unidos — unidos entre si e contra épocas anteriores e posteriores — por um grande conjunto de pressuposições em comum. Podemos ter certeza de que a cegueira característica do século XX — a cegueira acerca da qual a posteridade perguntará: “Mas como eles poderiam ter pensado aquilo?” — reside onde nunca suspeitamos e refere-se a algo a respeito do qual Hitler e o presidente Roosevelt[ 21 ] ou H. G. Wells e Karl Barth concordam pacificamente. Nenhum de nós pode escapar totalmente dessa cegueira; todavia, sem dúvida a aumentamos, bem como enfraquecemos nossas defesas contra ela quando nos limitamos a ler livros modernos. Quando são verdadeiros, os livros modernos oferecem-nos verdades que já conhecíamos parcialmente. Quando são falsos, agravam o erro pelo qual já fomos perigosamente acometidos. O único paliativo é manter a brisa marítima pura dos séculos soprando em nossa mente, e isto só pode ser feito mediante a leitura de livros antigos. Não, é claro, que exista algum tipo de mágica inerente ao passado. As pessoas não eram mais inteligentes do que hoje; elas cometiam tantos erros quanto nós. Mas não os mesmos erros. Elas não encorajam os erros que cometemos; e seus erros, agora expostos e palpáveis, não nos oferecem risco. Duas cabeças pensam melhor do que uma — não porque são infalíveis, mas porque é improvável que sigam pela mesma direção errada. Sem dúvida, os livros do futuro seriam corretivos tão bons quanto os livros do passado, mas infelizmente não temos acesso a eles.

Como cultivar uma vida de leitura by  (Coleção Fundamentos)