Miguel Medeiros quoted Como cultivar uma vida de leitura by C. S. Lewis (Coleção Fundamentos)
Verbicídio, o assassinato de uma palavra, acontece de muitas maneiras. Inflação linguística é uma das mais comuns: aqueles que nos ensinaram a dizer “terrivelmente” em lugar de “muito”, “tremendo” em vez de “grande”, “sadismo” em vez de “crueldade” e “impensável” como substituto de “indesejável” eram verbicidas. Outra forma é a verbosidade, isto é, o uso de uma palavra como promessa de pagamento que nunca será cumprida. A maior causa de verbicídio é o fato de que, obviamente, a maioria das pessoas anseia muito mais expressar sua aprovação ou desaprovação das coisas do que descrevê-las.
O uso de “significativo” como algo absoluto, sem qualquer intenção de nos dizer que coisa é significativa, é um exemplo. O mesmo se dá com o termo “diametricamente”, quando usado apenas com o objetivo de colocar no superlativo a palavra “oposto”. Pessoas normalmente cometem verbicídio quando roubam uma palavra de seu contexto original e aplicam-na como slogan que define um partido, apropriando-se de sua “qualidade marqueteira”. Cometeu-se verbicídio quando houve a troca de Whig[ 27 ] por “Liberal” e de Tory[ 28 ] por “Conservador”. Mas a maior causa de verbicídio é o fato de que, obviamente, a maioria das pessoas anseia muito mais expressar sua aprovação ou desaprovação das coisas do que descrevê-las. Daí a tendência de palavras tornarem-se menos descritivas e mais avaliativas; em seguida, menos avaliativas, mas retendo ainda certa sugestão de bondade e maldade; e, por fim, culminando em designações puramente avaliativas — sinônimos inúteis de bem e mal.[...] Não estou sugerindo que, por um purismo arcaico, sejamos capazes de reparar algumas das perdas que já ocorreram. No entanto, pode não ser totalmente inútil a autorresolução de que nós mesmos nunca cometeremos verbicídio. Se a crítica moderna parece ter iniciado um processo cuja culminação resultará em adolescente e contemporâneo virarem, respectivamente, meros sinônimos de mau e bom — e coisas mais estranhas do que essas têm acontecido — devemos bani-los do nosso vocabulário. Sou tentado a adaptar o couplet que lemos em alguns parques:[ 29 ]
Que ninguém diga, e para a tua vergonha o diga Que sentido havia aqui, antes da tua vinda.
— Como cultivar uma vida de leitura by C. S. Lewis (Coleção Fundamentos)