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quoted Hegelianismo by Robert Sinnerbrink (Pensamento Moderno)

Robert Sinnerbrink: Hegelianismo (Portuguese language, 2016, Editora Vozes) No rating

Este livro pretende introduzir um dos mais ricos movimentos da filosofia moderna. O hegelianismo apresenta …

A guinada “copernicana” revolucionária de Kant na metafísica reverteu a suposição tradicional de que temos acesso cognitivo direto às coisas no mundo. Em vez de presumir que o conhecimento se conforme a objetos como “coisas em si”, Kant propôs que o nosso conhecimento de objetos, considerados aparências, se conforma às necessárias condições de cognição a priori (independente da experiência) para nós como sujeitos finitos. Em outras palavras, não temos acesso imediato às coisas no mundo; os objetos nunca nos são apenas “dados” imediatamente na experiência. Em vez disso, temos conhecimento de objetos da experiência, o que Kant chamou de “aparências”, o que significa qualquer coisa acerca da qual possamos fazer um julgamento cognitivo.

Tais objetos da experiência, argumentou Kant, são estruturados de acordo com três condições “subjetivas” da cognição:

• que toda experiência pressupõe as formas puras da intuição (espaço e tempo);

• que as categorias do entendimento (p. ex., substância e causalidade) estruturam nossa cognição dos objetos;

• que devemos organizar a aplicação desses conceitos, na experiência, sob os princípios da razão pura.

O problema que Kant confrontou, no entanto, foi o de explicar como poderíamos ter conhecimento objetivo do mundo com base em conceitos que não adquirimos da experiência. Se as categorias do entendimento tornam possível o nosso conhecimento objetivo, como sabemos que estas categorias têm “validade objetiva”, isto é, aplicam-se verdadeiramente ao mundo? Responder a esta pergunta se tornou a tarefa da notoriamente difícil “dedução transcendental” kantiana (a justificação das condições do nosso conhecimento): demonstrar que as categorias do entendimento são condições subjetivas de possibilidade do conhecimento objetivo, que o seu fundamento ou condição transcendental deveria ser encontrado no que Kant chamou de “unidade transcendental da apercepção”. Kant referia-se assim ao princípio puro (formal) da autoconsciência que torna possível a experiência empírica ordinária: um princípio “lógico” necessário para a unificação dos juízos cognitivos como todos pertencentes ao único e mesmo sujeito.

Não precisamos nos aprofundar aqui nas complexidades da filosofia crítica de Kant. É suficiente apontar que o idealismo transcendental de Kant tornou a autoconsciência pura o princípio fundamental de nossa experiência e conhecimento do mundo. A esperança de Kant ao desenvolver a filosofia crítica foi a de demonstrar como a razão humana evidencia uma complexa unidade na diversidade. A crítica da razão pura (não empírica) almejou demonstrar como poderíamos ter conhecimento objetivo do mundo, mesmo embora a nossa experiência seja condicionada pelas condições subjetivas da cognição. A crítica da razão prática almejou demonstrar que, graças ao “fato” da liberdade moral, poderíamos exercer juízos morais como seres racionais, mesmo embora também sejamos limitados, como seres fenomênicos, por leis e condições naturais. E, finalmente, a crítica do juízo (estético e teleológico) almejou demonstrar que a razão teórica e a razão prática poderiam ser unidas através da experiência estética da beleza na natureza e na arte. A experiência estética da beleza tornou-se assim um símbolo da esperança de uma ordem moral harmoniosa e uma realização humana da liberdade.

Hegelianismo by  (Pensamento Moderno) (Page 20 - 22)