Miguel Medeiros quoted Hegelianismo by Robert Sinnerbrink (Pensamento Moderno)
Rousseau identificou nossa autoalienação da liberdade natural como o preço a pagar pela vida na sociedade moderna; foi um pré-requisito para o progresso moral e a autonomia individual, mas também a fonte da inautenticidade moral e da insatisfação subjetiva. Hegel, por sua vez, explorou as diferentes configurações da alienação na Fenomenologia do espírito, desde a experiência de reconhecimento desigual no domínio e na servidão à consciência religiosa alienada (a “consciência infeliz”). Esta última é uma forma alienada de subjetividade que não se limita apenas à Modernidade (Hegel aponta, p. ex., para as experiências judaicas e cristãs de alienação religiosa). Conforme Hegel alega, no entanto, a alienação só pode ser superada através da compreensão racional da nossa condição histórica e através da realização social do reconhecimento mútuo.
O uso feito por Marx do conceito de alienação, em contrapartida, destacou o modo como os indivíduos são impedidos de desenvolverem suas capacidades através da livre atuação pela maneira como as relações econômicas e sociais são estruturadas sob o capitalismo burguês. De acordo com os manuscritos de 1844, de Marx, a instituição da propriedade privada e a organização do trabalho assalariado resultam em quatro dimensões relacionadas da alienação:
1) A alienação do produto do trabalho, que o indivíduo confronta como objetos estranhos e não como expressões da sua própria atividade social.
2) A alienação do processo de produção ou do trabalho como atividade significativa, que é experimentada como uma diminuição e dissipação de nossas capacidades, ao invés do seu aprimoramento e realização.
3) A alienação da própria humanidade, do nosso ser “espécie” de seres sociais racionais envolvidos em formas compartilhadas de atividade significativa.
4) A alienação do outro, dos nossos companheiros seres humanos individuais, que são experimentados como meros instrumentos ou ameaças hostis a nosso autointeresse individual (MARX, 1977, p. 74ss.).
Em suma, os produtos do trabalho humano coletivo nos confrontam como uma objetividade alheia, que nos domina ao invés de nos libertar; eles representam uma fonte de estranhamento dos outros, ao invés da livre-expressão do nosso ser individual e social. Além disso, o valor de troca das commodities mascara as relações sociais reais que lhes deram origem, transformando os produtos do trabalho humano em objetos de fetiche dotados de qualidades subjetivas “mágicas” (p. ex., um carro que satisfaz meu desejo de liberdade ou de poder).
— Hegelianismo by Robert Sinnerbrink (Pensamento Moderno) (Page 87 - 89)